Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

panorama histórico da reforma


Pelo Rev. Maely Ferreira Vilela, Pastor presbiteriano e Reitor do Seminário Presbiteriano de Teresina -Piauí (colaboração do Pr.Ronan Boechat, da Igreja Metodista de Vila Isabel, RJ)

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A Igreja está presente desde as páginas do Antigo Testamento, porque a Igreja é a comunidade daqueles que, verdadeiramente, professam o nome do Senhor. Sendo assim, a Igreja se acha presente, lá no passado, na vida daqueles remidos do Velho Testamento, que professaram, desde há muito, a fé no Senhor, que aguardaram a Sua vinda, através da fé. Homens, como muito bem escreveu o autor da epístola aos Hebreus: "dos quais o mundo não era digno" (Hebreus 11:38).

Quando nós chegamos às páginas do Novo Testamento, nos deparamos com Estevão naquele monumental sermão proferido diante dos seus algozes, fazendo referência à congregação do Velho testamento, e a palavra utilizada lá é eklesia do Velho Testamento.

O Senhor Jesus se refere a respeito da Igreja, denominando-a de "minha Igreja". Portanto, a nossa responsabilidade é muito grande, quando tratamos a respeito da Igreja, porque trata-se da propriedade do Senhor. E, além do mais, Ele mesmo se referiu a Sua Igreja, denominando-a de "mais que vencedora" porque Ele mesmo afirmou que as portas do Inferno não prevaleceriam contra ela (Mateus 16:18). E não somente isto. Mais tarde, depois da ressurreição, antes da Sua ascensão, naquele encontro com Pedro, lá na praia (Pedro assustado porque havia há pouco, quase 40 dias antes, negado a Jesus) o Senhor Jesus se dirige àquele apóstolo dizendo: "Apascenta as minhas ovelhas". Para nós pastores, está aí uma responsabilidade muito grande, porque as ovelhas não são nossas, não são propriedades nossas, elas pertencem ao senhor.

O Apóstolo Paulo, que muito escreveu à respeito da doutrina da Igreja, denomina essa mesma Igreja de corpo do Senhor. Ele é o cabeça. Nós, como totalidade, somos o Seu corpo.

Não é para estranhar, de forma alguma, que o diabo, o nosso arquiinimigo, procure alvejar tanto a Igreja. Mas, temos essa firme promessa de que a caminhada invicta do povo do Senhor, permanecerá até a Parousia, àquele momento, que nós aguardamos, quando o Senhor congregará, ajuntará de todos os recantos da terra, aqueles que são Seus.

Diante dessas palavras iniciais, nós nos propomos a discorrer sobre esta visão bem panorâmica mesmo, da Igreja Cristã ao longo desses quase 2000 anos.

Para uma melhor compreensão, poderemos dividir a história da Igreja, em algumas épocas, sem prejuízo, apenas para efeito didático, porque estamos diante de uma projeção de tempo muito grande.

Esta maneira de dividir a história é tão somente didática e ela varia de historiador para historiador e daqueles, como é o nosso caso, que estamos contando a história de acordo com determinadas preferências fundamentadas em fatos. Assim como a história de um indivíduo, pode ser contada por um aspecto apenas biológico. Imaginemos: o nascimento, a infância, a adolescência, a mocidade, a maturidade e a velhice, a decrepitude da existência. Assim, também em relação à Igreja, há vários critérios pelos quais a história da Igreja pode ser subdividida. Quase sempre, utiliza-se aquela nomenclatura usada pela história universal que é dividida em: História Antiga, História Medieval, História Moderna e História Contemporânea.

Essas nomenclaturas são também usadas em relação à História da Igreja, só que, em momentos diferentes e com referenciais diferentes. O momento em que começa a história universal antiga e termina, não é o mesmo momento em que começa a história da Igreja Antiga e termina, apenas a nomenclatura é a mesma.

Nós estamos usando outra nomenclatura porque entendemos que vai facilitar a nossa compreensão. Nós vamos analisar o primeiro grande momento da História da Igreja que é a História da Igreja Cristã, que começa agora, historicamente, no Novo testamento, mas que fique subentendido que a Igreja de fato, começou no Antigo Testamento.

Então, o primeiro grande momento. nós poderíamos denominar de IGREJA FORMADA ; um outro grande momento seria a IGREJA DEFORMADA; uma terceira grande fase, e graças a Deus por ela, de IGREJA REFORMADA, e, esta fase na qual estamos vivendo, aqui denominada de IGREJA CONFORMADA vamos fazer este passeio, desde o Pentecostes, e nós estamos nos situando, basicamente por volta do ano 35 da Era Cristã(uma data aproximada), até o presente.

 I. IGREJA FORMADA

Do Pentecostes ao ano 590 - Neste primeiro momento, a Igreja foi formada, a Igreja Cristã. Quando nós vamos lá para o Evangelho de Mateus, nos deparamos com o Senhor Jesus se referindo a este novo momento, à Igreja Cristã. Lá em Mateus 16, o Senhor Jesus se expressava dizendo: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja".

Este texto tem sido interpretado de várias maneiras. Os romanistas, os papistas, têm procurado apoio naquelas palavras para, supostamente afirmar que a doutrina do papado é correta e de que teria Pedro, o primado entre os Apóstolos, sendo ele, a Pedra. Seria, naturalmente, uma pedra de sustentação muito perigosa para a Igreja, visto que, logo depois o Senhor Jesus estava dizendo: "Arreda Satanás", diante das palavras proferidas pelo próprio Pedro. Seria então, uma pedra muito volúvel para que a Igreja estivesse fundamentada nela.

Outros estudiosos têm entendido ser a pedra, a confissão de fé, a declaração de fé proferida pelo apóstolo Pedro, quando diz: "Tu és o Cristo". É uma possibilidade. Esta interpretação não é errônea. Alguns estudiosos entendem ser a pedra a declaração de fé, o testemunho doutrinário, solene, ali proferido por Pedro, vendo em Jesus o cumprimento da promessa Messiânica do Velho Testamento. Entretanto, o entendimento maior, e com maior fundamentação bíblica, tem sido, de que a Pedra é o Senhor Jesus Cristo. Esta pedra maior, este alicerce que vem do Céu, essa é a base da Igreja: o Senhor Jesus Cristo. E nós, somos pedras pequenas, menores, colocados nesse grande edifício, que é a Igreja e que tem o Senhor Jesus Cristo como pedra angular. A Igreja é constituída ali, e tem seu grande marco de inauguração, o seu momento solene de inauguração, por ocasião do Pentecostes.

O Pentecostes é uma festa que vem desde o Antigo Testamento, mas aquele de Atos é o primeiro Pentecostes Cristão, que ocorre já neste novo momento da economia divina. Naquele primeiro Pentecostes Cristão descrito lá em Atos, nós percebemos que a Igreja Cristã lá no seu nascedouro, já surge com um caráter de universalidade, ou seja de catolicidade, que é a palavra histórica que tem sido utilizada. O termo católico não pode ser usado apenas por uma agremiação religiosa em particular, mas sim, se refere à Igreja do Senhor como um todo, e nós não devemos ter medo de usar a palavra católico quando nos utilizarmos do Credo Apostólico, porque é uma palavra corretíssima, é patrimônio nosso, da verdadeira Igreja do Senhor. Assim, a Igreja já nasceu com essa característica: a universalidade (ou catolicidade).

No livro de Atos, percebemos que no dia de Pentecostes estavam presentes em Jerusalém pessoas, prosélitos do judaísmo e tementes a Deus, procedentes dos três continentes conhecidos da época. O Mar Mediterrâneo, conhecido como o Mar da Integração Transcontinental, banha três continentes: grande parte da Europa, grande parte da África e parte da Ásia.

Já lá no Pentecostes, percebemos pessoas vindas de toda aquela região banhada pelo Mar Mediterrâneo, pessoas que foram influenciadas pelo proselitismo judaico, e essa gente foi atingida pela pregação do Evangelho, lá no dia de Pentecostes, quando aproximadamente 2000 pessoas se converteram. Agora, como cristãos, retornaram para as suas terras de origem, marcando assim, o início da Igreja Cristã naquelas diferentes regiões ao longo de todo o Mar mediterrâneo. Por exemplo: o apóstolo Paulo ainda não tinha ido à cidade de Roma, mas escreve para a Igreja forte que estava estabelecida naquela cidade, porque o Cristianismo, graças ao Pentecostes e a tudo o que ocorreu ali por volta do ano 35 da Era Cristã (data aproximada) surge com a característica da universalidade. Daí, nós nos deparamos com o apóstolo João, se referindo a todos aqueles que procedem (os remidos) de todos os povos, tribos, línguas e nações que estão em toda a Terra.

Esse é o primeiro grande momento da História da Igreja Formada, se estendendo desde o Pentecostes e indo até em torno do Papado de Gregório. Esta data que colocamos de 590 d.C., nem todos os historiadores têm a mesma opinião. Alguns entendem que este primeiro momento deva ter ido até meados do Séc. V, por volta do ano 450, quando tornou-se bispo de Roma, Leão I, que vai ser o primeiro bispo de Roma a ser costumeiramente chamado de 1º Papa. Outros entendem que este primeiro momento, vai um pouquinho mais além de Gregório I, por volta de 590 d.C. dadas às grandes realizações de Gregório I, em conseqüência das suas reformas já realizadas naquela época, surgindo, entre outras coisas, o chamado Canto Gregoriano. Ele realizou a primeira grande reforma no culto.

  A.     Pais da Igreja - Mas, o que aconteceu durante este período tão longo da Igreja Formada? Este grande período é conhecido como a época dos Pais da Igreja. Aqueles homens, eram assim denominados, dada a fidelidade que eles tiveram com a Palavra de Deus. Eles levavam Deus e a Sua Palavra a sério. Tinham uma vida piedosa, consagrada. Tinham grande preocupação com a santidade da Igreja. Eles foram responsáveis pela elaboração inicial de toda nossa Teologia Sistemática. Por isso eles são conhecidos como os Pais da Igreja. Veremos as suas grandes contribuições. A Igreja Cristã não nasceu com um conjunto de doutrinas já definido. A Igreja não surgiu com todo o Novo testamento escrito, traduzido ou elaborado. Ela herdou o Velho Testamento, mas as doutrinas foram sendo elaboradas gradativamente e coube aos Pais da Igreja essa tarefa grandiosa.

Esses homens foram muitas vezes perseguidos. Alguns foram até martirizados. E, quanto mais os inimigos da Igreja matavam servos do Senhor (não somente os Pais da Igreja, outros crentes também) mais a Igreja crescia e se fortalecia. É tanto, que um dos Pais da Igreja, Tertuliano, um advogado cartaginês, se expressou dizendo assim: "O SANGUE DOS MÁRTIRES É A SEMENTE DO CRISTIANISMO". Ela é a chave para o entendimento dessa fase. Muitos dos Pais da Igreja foram mortos em diversos lugares, especialmente nas arenas romanas. Os Pais da Igreja, visto serem vários, deram grandes contribuições. Nós geralmente, podemos classificá-los tomando como referência Agostinho.

Agostinho é de uma importância tremenda para todos nós. E nós como Igreja Presbiteriana, IGREJA REFORMADA, temos, embrionariamente, a nossa origem, a nossa interpretação doutrinária, lá em Agostinho. A Patrística, os Pais da Igreja, são geralmente divididos em: Pais Pré-Agostinianos, ou seja, aqueles Pais que viveram antes de Santo Agostinho ( ele é assim denominado de Santo, como os outros também são, mais por reconhecimento pela vida piedosa, devocional daqueles homens servos de Deus), os que estão ao longo dos Séc. II e III d.C. e início do Séc. IV; Agostiniano, nessa classificação não se pluraliza, refere-se à grande contribuição do próprio Agostinho. O que Agostinho escreveu. Não dá para imaginar, como aquele homem gastou a vida toda debruçado, basicamente, escrevendo e também pastoreando a Igreja (porque ele era pastor da cidade de Hipona, no norte da África, onde hoje é a Argélia. Lá naquela região, a religião muçulmana, infelizmente, domina). Agostinho era um homem de Igreja. Ele era pastor de Igreja, era Bispo, foi um grande teólogo e um grande doutrinador. Escreveu durante quase todo o tempo, obras importantíssimas, de grande profundidade bíblica e teológica. Nós, ainda hoje, dependemos de seus escritos. Daí ele ser um divisor de épocas na história da Patrística.

Depois dele, seguem-se então os Pais Pós-Agostinianos, que estão depois de Agostinho, especialmente ao longo da segunda metade do Séc. V até o Séc VI.

O período dos Pais da Igreja, compreende um período muito longo mesmo. Talvez alguém perguntasse: "Os pais da Igreja não estão desde o primeiro século da Era Cristã? A resposta é: Não. Porque o século I, é o século da Era Apostólica. Os Pais da Igreja iniciam suas atividades no período que se segue à época dos apóstolos. O último dos apóstolos foi João, já velhinho, que escreveu o livro de Apocalipse, no término do Séc. I    A.D.

  B. Contribuição dos Pais da Igreja

 Elaboração dos Credos  - Os grandes credos da Igreja surgiram com o trabalho e a preocupação dos Pais da Igreja. Somente quanto ao Credo Apostólico é que entendemos que teve elaboração anterior. O Credo teve sua origem durante o Séc. I da Era Cristã e, segundo alguns, depois do Novo Testamento é o documento mais antigo da Igreja. Mas, os demais credos, como o Credo Niceno, ou Credo Niceno-Constantinopolitano, elaborado durante o Concílio de Nicéia, na cidade de Nicéia, no ano de 325, sendo mais tarde reafirmado em um outro Concílio na cidade de Constantinopla, noutra data; o Credo Atanasiano, supostamente escrito por outro Pai da Igreja, Atanásio; e outros credos, sendo estes os mais conhecidos.

Realização de Concílios Eclesiásticos - Os Pais da Igreja tratavam dos problemas da Igreja através de Concílios. Esses Concílios eram convocados, devidamente presididos e as matérias eram ali tratadas. Existiam problemas difíceis, às vezes os assuntos eram tratados de maneira acalorada, como ocorre hoje nos nossos Concílios Eclesiásticos. A Igreja entendeu ser este o meio mais eficiente de tratar suas dificuldades, através de Concílios Eclesiásticos, constituídos por autoridades devidamente credenciadas para que suprissem as necessidades e resolvessem os problemas da vida da Igreja.

Definição do Cânon do Novo Testamento - A Igreja já surgiu recebendo do judaísmo o Velho Testamento prontinho. Inclusive traduzido para a língua mais falada da época: a língua grega. A igreja não teve que elaborar o Velho Testamento, mas teve que definir o Cânon Neo-testamentário. Era preciso muita sabedoria e pedir muita orientação de Deus para saber quais eram os livros verdadeiramente inspirados, porque tinha muita gente escrevendo em nome dos Apóstolos, coisas absurdas. Hoje, isso denomina-se de Falsidade Ideológica. São os chamados textos pseudo-epígrafos. Tinha gente que escrevia em nome de Paulo para as Igrejas. Já perceberam que há uma epístola em que Paulo diz assim: "Vede com que letras grandes vos escrevo. É assim que eu assino", chamando a atenção para o seu autógrafo? Ele tinha, tudo faz crer, problemas nos olhos, e isto está bem provado por um texto bíblico. Quando    uma carta terminava, ele assinava. Tudo faz crer que era assim. Escrevendo aos Gálatas ele diz assim: "O zelo de vocês para comigo era tão grande que, quando vocês se converteram, se pudessem, teriam arrancado seus olhos para mos dar". Provavelmente fazendo referência ao seu problema, uma possível catarata. Sempre quando terminava uma carta ele assinava. Mas, por que? Pra que todo esse cuidado? Porque tinha gente usando o nome dele e incomodando a Igreja com falsas doutrinas. Por isso, a Igreja teve que definir o Cânon, teve que analisar com muito cuidado, quais eram os livros do Novo testamento que mereciam crédito, para serem assim utilizados pela Igreja. Os Pais da Igreja tiveram essa preciosíssima responsabilidade. e hoje nós temos o Novo Testamento, bonitinho, e nem sequer paramos para pensar no trabalho que deu para aqueles homens de Deus lá no passado.

Combate às Heresias  - As mais diferentes heresias surgiram prejudicando a Igreja. À medida que um ensino falso ia surgindo, os Pais da Igreja iam analisando e definindo a doutrina. A Igreja não surgiu já com sua doutrina elaborada. Alguém que trabalhava em banco disse uma vez que, a melhor maneira de identificar uma cédula falsa, é conhecendo a verdadeira. É preciso conhecer bem a verdadeira. Tudo o que for diferente da verdadeira, é falsa. À medida em que aqueles ensinos perigosos iam surgindo, os Pais da Igreja iam parando para analisar e dizendo: isso não soa bem. Era como se ferisse os ouvidos deles.

Assim, as doutrinas foram gradativamente sendo elaboradas. É interessante quando a gente pega a Confissão de Fé e vai analisar, estudar a História da Igreja antiga, e percebe o quanto dependemos desse primeiro momento da História da Igreja: a IGREJA FORMADA. A Igreja caminhava bem ao longo desse período, mas, vem agora um segundo momento da História da Igreja que, nessa nossa visão panorâmica, estamos denominando de IGREJA DEFORMADA.

 

II. IGREJA DEFORMADA - Clique aqui.

IGREJA REFORMADA E IGREJA CONFORMADA. Clique aqui

 

 


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