Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
Lutero
Texto publicado pela revista Metodista da Vila, publicação mensal editada pela Igreja Metodista de Vila Isabel, RJ. Por Sérgio Duarte
A situação da Alemanha no século XVI era crítica. Impostos escorchantes, interferências recessivas do governo na economia e muitos escândalos de suborno na administração pública, que era onerosa e corrupta. Tudo isso ocorria não somente com o aval, mas com contribuição efetiva tanto do alto como do baixo clero. Foi quando no dia 31 de outubro de 1517, de modo nada usual, um protesto foi lançado contra um abuso eclesiástico.
Um monge, professor da recentemente fundada universidade alemã, provocou a maior revolução de toda história da Igreja Cristã. Naquele dia, aquele monge agostiniano afixou nas portas da igreja de Wittenberg suas 95 teses com questões teológicas relativas ao uso de indulgências. De uma certa forma, pode-se considerar aquela data como a do início da Reforma Protestante.
Martinho Lutero, autor do protesto, é um dos poucos homens de quem se pode dizer que sua obra alterou profundamente a história do mundo. Não era organizador nem político. Movia os homens pelo poder da fé religiosa resultante da inabalável confiança em Deus e da relação direta, imediata e pessoal com Ele. Lutero que fora, na sua juventude, tremendamente marcado pelo sentimento de pecaminosidade,
escapou da morte quando um raio quase o atingiu e decidiu tornar-se monge. Fez da vida monástica a sua oferta pessoal a Deus, esperando receber dEle a sua aprovação. Com confissões intermináveis, sacrifícios, como dormir no inverno europeu sem cobertor, obediência rigorosa às "exigências" divinas, ele tentava um meio de agradar a Deus e conseguir sentir o tão almejado perdão.
Tudo mudou quando ele foi envolvido pela mensagem da Carta aos Romanos (Rm 1,17), "O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ". Assim, tomou posse da dádiva divina que os grupos corais em todo mundo cantam como "A MARAVILHOSA GRAÇA" de Deus. Daí para frente SOLA GRATIA (a graça somente), como dizia, era bastante para conseguir o sentimento de justificação, e SOLA SCRIPTURA (A Bíblia somente) nortearia a sua fé e não mais a tradição.
O sacerdócio universal dos crentes, pensamento formulado pelo monge imediatamente após a experiência anterior, colocava todos os crentes diretamente em contato com Deus. Agora o povo podia se confessar e orar sem a necessidade de intermediários, como fazia crer a Igreja da época. "Sobre a Liberdade Cristã", sua terceira grande obra, apresentava o grande paradoxo da experiência cristã: "Um cristão é o senhor mais livre de todos, e não está sujeito a ninguém. Um cristão é o mais devoto servo de todos, e a todos está sujeito." É livre porque é justificado pela fé, e é servo porque, pelo amor, coloca sua vida a serviço de Deus.
Por tudo isso, o papa Leão X, que se viu ameaçado nos três alicerces do poder da igreja: a supremacia do sacerdote sobre o leigo, o direito exclusivo de interpretar as Escrituras e o perdão conseguido unicamente pelo pagamento de indulgências, o perseguiu, forçando-o a se refugiar no castelo-fortaleza de Wartburg. De lá, do fundo do seu exílio, Martinho Lutero nos deixou mais uma inspirada, encorajadora e desafiadora mensagem, desta feita sob a forma de música: "CASTELO FORTE", quando testemunha que a despeito de todas as fortalezas construídas pelo homem, o seu castelo forte não é outro senão o nosso Deus.
A Reforma Protestante deve ser lembrada não somente como uma conquista do passado distante, mas principalmente como testemunho de fé em Deus e no futuro do mundo, pois por mais sombrio que possa parecer o estado de coisas que nos cerca, o nosso herói nos induz a experimentar que, pela Maravilhosa Graça de Deus: "O Príncipe do Mal, com seu Plano Infernal, já condenado está, vencido cairá por uma só PALAVRA". (S.D.)
Páginas da Bíblia de Lutero: "Sola Scriptura"
Como a oração deve ser
(Pequeno trecho de Lutero extraído do seu livro "O Pai Nosso", publicado em 1519. Tradução de João Wesley Dornellas)
"Vejamos primeiro o modo de orar, isto é, como havemos de orar. Há de se orar usando poucas palavras mas tendo muitos e e bem profundos pensamentos e sentimentos. Quanto menos palavras, melhor é a oração e vice-versa; quanto mais palavras, pior é a oração. Poucas palavras e muitos pensamentos é cristão, todavia muitas palavras e escassos pensamentos é coisa própria de pagãos. Foi por isto que Jesus nos disse: "Não sejais prolixos como os gentios". Em outra ocasião, assim Cristo fala à mulher samaritana: "Os verdadeiros
adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores". Sendo assim, "orar em espírito" ou "espiritualmente" é o contrário da oração carnal, e orar em verdade é o contrário da oração aparente:
A "oração carnal" e "aparente" consiste em murmúrios e tagarelice, que se faz com os lábios mas sem meditação alguma. Para os demais,
é como se orasse, e a oração sai dos seus lábios mas não é verdadeira. Pelo contrário, a oração espiritual e verdadeira é um anseio interior, um suspirar e uma ânsia que brota do mais profundo do coração. A oração de lábios faz hipócritas, ensoberbecidos e falsos, enquanto que a verdadeira oração forma filhos de Deus, santos e temerosos"
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