Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
solta o som! sem incomodar o vizinho
O culto corria animado na Igreja Metodista em Água Fria, São Paulo (3ª RE). Não se sentia nem a hora passar. Até que, de repente, entra na igreja uma senhora de pijamas, pantufas e cara de poucos amigos: era a vizinha, reclamando do barulho que não a deixava dormir.
Em Rancho Alegre, interior do Paraná (6ª RE), a reclamação aconteceu de dia mesmo. A equipe de louvor estava na igreja, ensaiando. Dois homens entraram no templo e começaram a gritar, ameaçando chamar a polícia. "Larguei meu violão, fui conversar com eles e prometi que iríamos tomar mais cuidado", conta Júlio Cardoso, seminarista e ministro de louvor. Nem sempre, porém, o conflito resolve-se de maneira amigável. Em maio deste ano, um pastor de outra denominação evangélica chegou a ser preso por "falar alto demais". Teve que pagar fiança para ser solto.
Não é de hoje que as igrejas, sobretudo as evangélicas, têm se tornado alvo desse tipo de reclamação. Em 1992 o jornal O Globo já publicava notícia com a seguinte manchete: "Bailes funk e cultos evangélicos: campeões do barulho na cidade". A reportagem informava que o limite legal para barulho público é de 55 decibéis. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o limite suportável para o ouvido humano é de 65 decibéis. Pesquisas indicam que o organismo humano submetido a ruído acima de 70 decibéis começa a sofrer efeitos de estresse: o nível de adrenalina sobe e a pressão arterial aumenta. Os repórteres mediram o ruído emitido por um culto de louvor de uma igreja evangélica e ele chegava a 80 decibéis, equivalente ao barulho de uma avenida em horário de rush.
Contudo, nem sempre a origem do problema está na empolgação dos músicos ou do palestrante. Muitas igrejas estão localizadas em áreas residenciais e a grande maioria não tem estrutura para suportar o nível de pressão sonora gerado pelos equipamentos de som. "O maior problema nas igrejas em geral é o mau dimensionamento do sistema construtivo, ou seja, a falta de um projeto acústico específico, necessário para que o volume funcione em níveis saudáveis ao ouvido humano", detecta Renato Cipriano, professor de acústica no Instituto de Áudio e Vídeo, de São Paulo.
Primeiro passo é uma análise de ruído
O custo das soluções de isolamento acústico depende diretamente da localização da Igreja e das áreas que requeiram alteração. O trabalho começa pela medição acústica das características do local, como nível de ruído de fundo, distância para as áreas afetadas, etc. A análise de ruído é feita no horário de cultos de maior freqüência, onde haja mais pessoas e músicos. "A partir destes resultados fazemos análise e a especificação dos materiais de isolamento acústico", explica Alberto Paim da Costa, proprietário de uma empresa de consultoria em acústica.
Uma medição oficial com laudo em período noturno custa em torno de R$1.000,00 segundo Fernando Canabarra, da empresa acústica Sexto Sentido, em Campinas (SP). Já o custo do tratamento acústico varia conforme o tipo de alteração feita. A Catedral Metodista em São Paulo, por exemplo, gastou em torno de 6 mil reais em novas mesas de som, retornos e PA?s pra igreja.Mas, não se assuste. Nem sempre são necessárias mudanças muito radicais. "Dependendo do lugar, podem ser instaladas janelas especiais ou apenas um forro diferente. O mais importante é dimensionar o sistema construtivo com base nos volumes internos praticados,"diz Renato Cipriano.
Existem várias empresas que oferecem serviço de consultoria especializada em acústica. Os equipamentos necessários para vedar o som não são encontrados na empresa (que na maioria dos casos só fornece o projeto), mas comprados em empresas de construção. Janelas anti-ruído, por exemplo, custam a partir de 500 reais (dependendo do tamanho da janela utilizada na igreja). Mas a compra nunca deve ser feita sem a supervisão de um especialista em acústica. "Quem entende de acústica muitas vezes é chamado para consertar problemas que poderiam ter sido evitados antes por um projeto. Sairia até mais barato, dependendo do caso", aconselha Renato Cipriano.
Reforma da igreja pode incluir tratamento acústico
O ideal seria que a questão da acústica fosse considerada ainda no projeto de construção do templo. Mas, algumas igrejas aproveitam a necessidade de reformas para solucionar seus problemas com o som. "Chamamos um arquiteto para tratar da questão acústica. A gente tem que lembrar que sempre algo pode ser feito para minimizar o problema, devemos sempre dar bom testemunho", lembra Henrique David, responsável pelo som em Água Fria. O arquiteto contratado, Djalma Gomes Filho, afirma.que a reforma na igreja solucionou tanto o problema de reverberação quanto ajudou na decoração da igreja. "Na época fizemos uma reforma completa, compramos estofados novos para o banco da igreja, arrumamos o chão...Só com a parte de tratamento acústico gastamos uns 80 a 100 reais por m2 , empregados em saídas de gesso, tacos especiais no chão, janelas, etc. A decoração foi um benefício que veio junto. Agora a igreja não tem mais esse problema e ficou até mais bonita". E a partir desse "bom testemunho" de educação e respeito, melhorou, também, o humor dos vizinhos...
Raissa Junker
Controle da poluição sonora é municipal Existe um "Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora", instituído pelo Conama, Conselho Nacional do Meio Ambiente. Ele estabelece normas, métodos e ações para controlar o ruído excessivo que interfere na saúde e bem estar da população. Contudo, cada município é responsável pelo funcionamento deste programa e fiscalização. Várias prefeituras no Brasil mantêm números especiais para receber denúncias de vizinhos ou estabelecimentos comerciais barulhentos. Registrada a denúncia, um fiscal é enviado ao local para realizar a medição sonora e orientar - ou multar, no caso de reincidência - o infrator.
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