Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
rio são francisco ALC notícias
BRASÍLIA, Brasil, Junho 12, 2007
Fonte: ALC Notícias
As escavações para a construção da barragem de Tucutu, em Cobrobó, Pernambuco, devem começar no próximo dia 25. Cerca de 50 militares do 2. Batalhão de Engenharia do Exército iniciaram os trabalhos de marcação do dique que integra o controvertido projeto de transposição do Rio São Francisco.
O projeto foi liberado no dia 23 de março pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "Em breve o governo vai perceber em que formigueiro entrou", disse o bispo de Barra, Bahia, dom Luiz Flávio Cappio, em entrevista concedida ao Instituto Humanitas (IHU), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
"Indignado e traído", como confessou à repórter Marta Salomon, da Folha de São Paulo, o bispo de Barra promete novos protestos. Dom Cappio ficou conhecido no país por ter deflagrado greve de fome de 11 dias, em outubro de 2005, em protesto contra o projeto de transposição do São Francisco.
Ele se diz indignado com a falta de palavra do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o encerramento da greve de fome "houve um acordo entre a sociedade civil, por mim representada, e o governo federal, representado pelo senhor presidente, de que não se falaria em transposição, se encerraria o processo até que se efetivasse um diálogo amplo, aberto, verdadeiro e ético", relatou ao IHU.
Em entrevista ao jornal O Tempo, dom Cappio disse que "o presidente Lula mentiu para o Brasil e demonstrou a falta de seriedade desse governo com o povo, nos empurrando um projeto goela abaixo, numa total falta de respeito".
O bispo lamentou a propaganda enganosa, de defesa do projeto, que seria para matar a sede do povo do Nordeste setentrional. O projeto, disse, visa ao incremento da indústria e do agronegócio, da produção de frutas para a exportação. Além disso, por detrás do projeto "existe a grande vaidade do presidente Lula de querer, com essa obra, deixar para a posteridade o seu nome", agregou.
Em Cobrobó, do trecho onde o rio faz uma curva, descreve a repórter Marta Salomon, "sairá um dos dois canais de concreto que vão desviar parte das águas do São Francisco por centenas de quilômetros, para os Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. No caminho, nove estações de bombeamento vão erguer as águas a uma altura de até 300 metros". A obra está orçada em 5 bilhões de reais (cerca de 2,5 bilhões de dólares).
Documento do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, emitido em fins de maio, lamenta que a manipulação da sede humana tenha chegado ao máximo com esse projeto. "A transposição não debela, antes alimenta a ?indústria da seca?, agora moderna, globalizada", diz a nota.
O recente Atlas Nordeste, produzido pela Agência Nacional de Águas (ANA), um órgão do governo federal, demonstra que com a metade dos recursos destinados à transposição do rio seria resolvido o déficit hídrico para consumo humano de 34 milhões de habitantes, em 1.356 municípios de nove Estados do Nordeste, incluindo o norte de Minas Gerais.
O Fórum defende a realização de 530 obras de pequeno e médio porte, "que continuarão sendo necessárias mesmo depois da transposição", uma vez que esse projeto destina-se ao uso econômico da água, como a produção irrigada de frutas, criação de camarão e siderurgia.
"O Atlas da ANA desmascarou a transposição e obrigou o governo a admitir o que o próprio texto do projeto já confessava: 70% das águas serão para irrigação, 26% para uso urbano e industrial e apenas 4% para consumo humano".
Segundo o Fórum, os projetos de transposição, previstos para os rios São Francisco, Tocantins e o Parnaíba, "estão na contramão do que exigem as conseqüências do aquecimento global, resultado do insano crescimento econômico a qualquer custo".
Assinam a nota do Fórum, entre outros organismos, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Cáritas.
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