Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

transposição do rio são francisco

Transposição do Velho Chico, a quem interessa?

Muito se fala sobre os recursos hídricos e o aproveitamento racional das nossas reservas. No mês de março, foi comemorado mundialmente o dia da água! Essa data não se limita apenas a um destaque no calendário mundial, mas abre espaço para discussões acerca do tema, suas implicações no meio ambiente e em especial, nos dá a oportunidade de refletir a maneira como temos tratado este assunto, visto que o Brasil possui mais de 17% de toda água existente no planeta.

O projeto da transposição do Rio São Francisco tem levantado várias frentes de discussões na sociedade, a saber, sobre vantagens e desvantagens que este projeto traria ao Brasil, em especial a região nordeste. Quem sabe podemos interpelar, mesmo correndo o risco de não sermos ouvidos/a, até que ponto as classes menos favorecidas, cita-se: comunidades ribeirinhas, moradores do semi-árido, pequenos agricultores, seriam beneficiados/a? Talvez a grande finalidade da transposição não seja a que de fato, se destaca nos escritos de Brasília, mas a de favorecer o agro-negócio, sendo este, responsável pela elevação do PIB (produto interno bruto) em nosso país.

Enquanto a maior preocupação do governo federal, em se tratando de nordeste é transpor as águas do velho rio, as comunidades citadas anteriormente, sofrem com a ausência de políticas públicas e medidas eficazes que viabilizem o aceso a saneamento básico, saúde, educação e moradia, bem como com o descaso de não poder beber água tratada.

É irrefragável que haja continuidade no processo que discute os impactos ambientais causados pela transposição, caso venha ocorrer. Ademais, fóruns e ong?s foram criados com tal finalidade e, não se esgotaram frente a validade e importância do assunto. Ao contrário, cada vez mais o tema Transposição do Rio São Francisco tem encontrado espaço nos mais diversos segmentos da sociedade, incluindo a Igreja que nesse sentido é voz profética atuante, para denunciar o pecado da opressão, omissão, bem como sistemas manipuladores que ignoram a criação enquanto ação de Deus, visando apenas exploração da mesma por interesses particulares, desconhecimento da realidade nordestina.

É notório, no nordeste brasileiro, a eficiência com que a população, associada a Ong's (destaque para a Diaconia - e programas de Articulação do Semi-Árido - ASA), têm transformado a realidade do semi-árido brasileiro. Com poucos recursos e muito comprometimento do/a sertanejo/a, associados à devida capacitação, desmitifica-se a indústria da seca.

A observação in loco só confirma que há saídas agroeconômicas para o semi-árido que não seja a transposição do Rio São Francisco. Concordando com Dom Frei Luiz Flávio Cappio, bispo diocesano da cidade de Barra-BA, que como muitos outros cidadãos/ãs nordestinos/as, opõe-se à transposição e o refirma ao Exmº presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em carta datada de 21 de fevereiro de 2007:

"Retomo o diálogo quando a Agência Nacional de Águas (ANA) organismo de Estado, criado para a gestão estratégica do uso da água do Brasil, propõe 530 (quinhentas e trinta) obras para solucionar os problemas de abastecimento hídrico até 2015 em todos os núcleos urbanos acima de 5000 (cinco mil) habitantes do semi-árido brasileiro até 2015. Essas obras beneficiariam as populações mais necessitadas e custariam 3,6 bilhões de reais, portanto, mais baratas, mais abrangentes, mais eficientes que qualquer obra de transposição hídrica".

Lidando com as experiências eficientes, do nordeste, é imprescindível perguntar: transposição, a quem de fato interessa? Por que não se ouve o tão falado "povo nordestino" e se aprende com o mesmo? Soluções existem - o que ainda é necessário (e é dever do Estado) é investir política e economicamente nas iniciativas já existentes (e, reafirma-se, eficientes).

A Igreja Metodista no Nordeste Brasileiro está em defesa da criação de Deus, lutando contra as forças que geram situações de morte e desigualdades. Afirma que todos/as, devem se interessar pela polêmica transposição do "velho Chico". É tempo de ouvir o que Deus diz: "Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora" (Rm 8:22). É tempo de ouvir o clamor da criação.

Transposição, não; revitalização sim.

Remne, Região Missionária do Nordeste.


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