Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Inclusão na Igreja Metodista
Sandra Helena e o marido Dennys, ambos pastores da Igreja Metodista. Sandra é originária de Barra Mansa, RJ. Fez o pré-teológico no Instituto Bennett, no Rio de Janeiro e, para chegar até lá, contou a ajuda de dois amigos, que gentilmente colocaram seus automóveis à disposição: um a levou de carro até a capital, enquanto o outro levava a cadeira de rodas. Desde essa época, Sandra guarda no coração a boa acolhida que têm recebido de irmãos e irmãs. "Na Igreja Metodista em Goiabal (1999 a 2002) até escala fizeram para me buscar. Cada dia de trabalho na Igreja era uma pessoa que me buscava em casa. Na Igreja Metodista em Rudge Ramos (durante os anos 2003 a 2006 ) adaptaram o altar, colocaram rampa, e construíram banheiro adaptado. A Igreja Metodista em Guaianases (onde atuei durante os anos 2007 e 2008 no Projeto Revitalizar Igrejas) construiu rampas nas entradas do templo e adaptou o banheiro". Ainda há muito a ser feito. Sua pesquisa de mestrado tem o objetivo de despertar a Igreja para acolher a todas as pessoas, atendendo-as em suas necessidades específicas. |
"O compromisso e o cuidado com a vida nas origens históricas e nos documentos oficiais da Igreja Metodista no Brasil. Subsídios teóricos para a inclusão da pessoa com deficiência física". Este foi o tema da minha dissertação para a obtenção do mestrado em Ciências da Religião na Universidade Metodista. Em minha pesquisa, observei que a questão da inclusão na Igreja Metodista em relação às pessoas com deficiência física pode ser analisada mediante a análise da gênese social do movimento metodista. Os primeiros metodistas davam ênfase a uma vida ética que demonstrasse características de uma moral cristã. Pessoas, seres humanos, famílias não tinham oportunidade de se desenvolverem, de terem um futuro melhor. E neste contexto de exclusão social, de vícios, de grande violência, os primeiros metodistas se aproximavam destas pessoas, o que demonstrava a aceitação e o amor à vida sem discriminação.
A preocupação com a responsabilidade social, no decorrer dos anos, acompanhou as formulações dos documentos oficiais da Igreja Metodista no Brasil. A Igreja Metodista recomenda, como uma das bases de sua atuação, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu teor demonstra a defesa pela vida. Defesa esta que também é promovida pelo Cristianismo, mais especificamente no presente caso, pelo cristianismo metodista. Direito à vida, dignidade humana, igualdade de direitos, liberdade de expressão religiosa e ênfase na vivência em comunidade são valores defendidos na origem histórica do movimento metodista e presentes no teor dos documentos que direcionam a prática da Igreja Metodista na atualidade.
A doutrina social da Igreja Metodista e a pessoa com deficiência física
A Igreja é chamada a defender a vida sem diferenciação, sem exclusão, sem preconceito, pois tais atitudes não correspondem aos valores cristãos expressos no Credo Social. A consciência e a responsabilidade com o ser humano são despertadas pelo discernimento do evangelho; a indiferença em relação a pessoas que possuem deficiências físicas são vencidas pelo encontro, pela compaixão, pelo reconhecimento. A Igreja Metodista afirma em seus documentos que "Jesus Cristo vence barreiras entre irmãos e irmãs e destrói toda forma de discriminação entre os homens e as mulheres" (CÂNONES, 2007, p. 52).
O Credo Social nos motiva à ação em prol de um posicionamento da Igreja Metodista sobre a inclusão das pessoas com deficiência física que inclua a eliminação de todos os tipos de barreiras culturais, arquitetônicas, na comunicação, atitudinais, as quais desumanizam seres também criados à imagem e semelhança de Deus, mas, que possuem apenas limites físicos.
O Plano para a Vida e a Missão da Igreja: a missão revelada no cuidado com a vida integral.
O PVMI enfatiza que a igreja deve "conscientizar o ser humano de que a sua responsabilidade é participar na construção do Reino de Deus, promovendo a vida, num estilo que seja acessível a todas as pessoas (CÂNONES, 2007, p. 90)". Esta acessibilidade envolve a vida de todas as pessoas, mudanças de valores, o quebrar das barreiras, uma nova perspectiva do relacionar-se com o diferente, trazendo mais transformações na história.
No Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista (1996, p. 25) uma das formas de se atuar na missão de Deus é "criar estruturas e instrumentos que visem no desenvolvimento da consciência nacional para promoção dos discriminados e marginalizados: o negro, o índio, a mulher, o idoso, o menor, deficientes, aposentados e outros". Independentemente das diferenças, as pessoas precisam ser tratados com respeito e auxiliados quando necessário.
Nenhum ser humano pode tornar-se mais pessoa sem a relação com o outro. Na necessidade de viver em comunidade, o ser humano muitas vezes é motivado à procura religiosa. Esta busca poderá levá-lo ao encontro com a comunidade eclesial, onde relacionará com as demais pessoas com suas possibilidades e limitações num constante desafio da aceitação recíproca, e do crescimento mútuo. Na comunidade existe uma pluralidade de pessoas, com culturas, costumes, fortalezas, fraquezas, com limites, dificuldades, especialidades, porque não deficiências físicas? Enfim a unidade da comunidade se dá na complementaridade da diversidade.
Assim, a Igreja Metodista, à luz de sua história e de seus documentos, é confrontada a prover acessibilidade para a pessoa com deficiência física de sua comunidade e a desempenhar sua missão atuando em prol desta causa na atualidade. Esta missão pode ser desenvolvida na educação em busca de eliminação de preconceitos, revelados em atitudes. Também através da adaptação de seus edifícios e eliminando as barreiras de comunicação. O que poderá ser realizado através do fornecimento de preparo adequado mediante capacitações em Libras, Braile, sinalizações necessárias, na utilização de softwares leitores, para seus participantes. Esta missão pode ser exercida mediante a resposta a este desafio de ser uma comunidade a serviço da luta pela participação igualitária da pessoa com deficiência física, possibilitando, assim, o fazer parte de uma comunidade metodista e não à parte da mesma. Isto é ser humano, é ser cristão, é ser metodista.
Pastora Sandra Helena Monteiro Dantas, mestra em Ciências da Religião, funcionária da Biblioteca Digital para alunos da UMESP com deficiência visual.
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