Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Inclusão
Enoque Rodrigo de Oliveira Leite é acadêmico de teologia (3º ano) na Faculdade de Teologia em São Bernardo do Campo e atua como seminarista na cidade de Cunha - SP |
Nos últimos tempos, o tema da inclusão tem sido debatido pelos mais diversos segmentos da sociedade brasileira. É preciso dizer que muita coisa já foi feita e ainda há muito que fazer. Penso que a igreja precisa ser a principal agente de inclusão em vários aspectos, como: social, educacional, religioso, entre outros.
Em minhas palestras sobre o tema da inclusão, tenho sido enfático ao afirmar que: Inclusão não acontece através de decretos, mas ela ocorre de fato quando as pessoas são inclusivas. Com certeza é preciso voltar ao início da igreja, onde todos/as eram recebidos/s, compartilhavam tudo, promoviam a igualdade de vida social e comunitária. Infelizmente, muitas vezes, as pessoas na igreja têm sido bastante excludentes e legalistas, é preciso ter claro em nossas mentes que a igreja é feita para receber pecadores com desejo de transformação.
Uma vez sendo bem recebido/a e contagiado/a pelo amor duradouro de Deus e dos irmãos/ãs ela passa a cumprir seu papel fundamental que é de ser agente de transformação e integração na sociedade e comunidade de fé em que se vive. Portanto, precisamos anunciar a graça acolhedora de Deus a todas as pessoas e, jamais, a igreja assumir o papel de juiz.
A Deficiência nas Comunidades
Nas igrejas, uma das grandes barreiras para a inclusão ainda é a da interpretação e equivoco teológico. É comum as pessoas associarem deficiência com castigos de Deus, e um erro mais grave ainda é acreditar em maldição hereditária, fazendo uma interpretação deturpada do texto de Deuteronômio 5.8-9.
Em João 9.1-41, os discípulos ao verem um cego, perguntam a Jesus: "Quem pecou, este ou seus pais?". Jesus disse: "Nem este, nem seus pais, isto aconteceu para que a glória de Deus fosse manifestada nele". A manifestação da glória de Deus é maior ainda quando, independente da dificuldade que a pessoa tenha, ela sirva a Deus com alegria e excelência. A cura é bíblica e precisa ser uma realidade entre nós. E a maior de todas as curas é, sem dúvida alguma, a do coração e da alma.
A revista Veja disse que, dos 25,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil, aproximadamente 48% delas, se tornaram deficiente devido à precariedade da saúde pública brasileira.
Preparação Para Recepção de Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais
As maiores barreiras são, sem sombra de dúvidas, as atitudinais, ou seja, a falta de atitude e sensibilidade para com os "diferentes". Porém, agora farei menção aos aspectos viabilizadores da recepção e integração das pessoas com deficiências.
Acessibilidade: Espaço Físico
A acessibilidade é amparada por leis que, no ano de 2009 serão mais fiscalizadas. Hoje, constata-se que a maior parte dos estabelecimentos públicos não estão adequados às normas das leis de acessibilidade. Na realidade das igrejas, as condições também são bastante precárias. Creio que todos/as precisem abraçar essa causa tão nobre, planejando as novas construções e adaptando as construções já realizadas com rampas, banheiros para cadeirantes, dentre outras. É importante frisar que é necessário obedecer às normas e orientações das leis de acessibilidade como, por exemplo, o grau de inclinação de uma rampa ou medida de um banheiro para cadeirantes.
Acolhida
È fato indiscutível que o espírito acolhedor é o mais eficaz instrumento da inclusão. Entretanto, a preparação não pode ser desprezada em hipótese alguma. Igrejas e instituições precisam investir em capacitação, com palestras sobre os aspectos das deficiências. Em seus departamentos especiais, oferecer cursos como libras, braile e sobre características e peculiaridades de cada deficiência como, por exemplo: síndrome de down, autismo, entre outras.
Inclusão e Integração
O processo de inclusão se dá quando um determinado grupo, classe ou organização, procura inserir outro grupo, classe ou organização. O processo chamado de integração é responsável por fazer com que as pessoas, grupos ou organizações incluídos sejam colocados em igualdade com os demais e possam interagir de forma igualitária. Felizmente, hoje em dia, tem acontecido bastante inclusão, porém pouca integração. Não basta inserir uma determinada pessoa no grupo A, B ou C, mas é preciso oferecer condições de obter o mesmo aproveitamento que os demais.
Tratamento "Diferenciado" e Especial
Ser "diferente" na verdade, não é somente por ter esta ou aquela deficiência, mas todos/as nós somos indivíduos e temos características próprias, DNA?s diferentes, CPF?s diferentes. A palavra diferente nos assusta, entretanto ser diferente não significa ser melhor ou pior, mas significa ser humano. Não podemos tratar os "diferentes" de maneira igual. Ao fazer tal afirmação quero dizer que é preciso respeitar a individualidade de cada deficiência ou pessoa.
O principal mandamento de Jesus é de que devemos amar a todos/as de maneira igual. Entretanto, acredito que, amar de maneira igual não significa tratar de maneira igual, pois cada ser tem sua individualidade e necessidade e, claro, capacidade. O sentimento que jamais pode existir por parte das pessoas "normais" é o de pena ou de subestimar a capacidade de qualquer pessoa que seja. Quando falamos em tratamento especial, no caso da educação em especial, é oferecer maneiras para que a pessoa dentro da sua deficiência consiga superar todos os obstáculos e explorar o máximo de suas potencialidades. Todos nós temos o direito de sermos "diferentes", mas o dever de andarmos sempre juntos.
Conclusão
Que as barreiras sejam quebradas juntamente com todo o tipo de preconceitos. Que nós, enquanto Igreja, não pautemos nossas ações somente porque existe uma lei, mas porque o amor de Cristo nos faz ver todas as pessoas de maneira especial.
Sejas tu, os olhos dos que não vêem;
A boca dos que não falam;
As mãos daqueles que não podem pegar;
Os pés daqueles que não podem andar;
Que possamos ser pessoas pró-ativas, ir ao encontro, como disse Jesus no Evangelho de Marcos 3.3b: "Levanta-te e vem para o meio". Lute conosco na construção de uma Igreja para todos e todas, e que as diferenças não sejam barreiras para nossa comunhão. Que o espírito cristão de acolhimento e amor seja nossa principal marca.
Veja também:
"Inclusão na Igreja Metodista: preocupação de berço". Uma preocupação da Mestra em Ciências da Religião e pastora metodista Sandra Helena Monteiro Dantas.