Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

entrevista Bispo Somane

Igreja Metodista desafia missionários(as) para trabalhar em Moçambique. Clique aqui para ver o edital de convocação. E conheça a realidade de um povo carente de tudo, menos de fé.

Entrevista à Christie House, editora da New World Outlook, publicação da Igreja Metodista Unida, dos Estados Unidos. Fotos Mike DuBose

A escassez de água potável e a carência de saúde e educação fazem da vida um constante desafio em Moçambique, mas a fé em Deus está viva e crescente. Enfrentar estes problemas é parte do que significa "ser igreja", afirma o bispo da Igreja Metodista Unida na África (Moçambique é uma das "conferências" - ou regiões, como chamamos aqui - da Igreja Metodista nos Estados Unidos). "Em meu país, perfurar um poço é evangelização", diz o Bispo João Somane Machado. "Ensinar mulheres a ler é evangelização (cerca de 80% das mulheres são analfabetas). Construir uma pequena igreja é evangelização, e dar remédio contra malária é evangelização. Você está respondendo às necessidades das pessoas e espalhando o amor de Deus ao mesmo tempo".


As vidas de muitas pessoais são verdadeiros milagres em face das condições diárias. "Eu visitei uma escola rural recentemente e vi umas cem garrafas de vidro, de diferentes tamanhos e formas, enfileiradas do lado da sala. Elas estavam cheias de líquidos de cores diferentes, pendendo para o verde e o marrom. Eu não podia imaginar o que eram aqueles líquidos e perguntei à professora. Ela disse que era água, que cada criança havia trazido de sua casa, como uma forma de pagamento pelas aulas", conta o bispo Machado. A professora revelou: "Se você ou eu bebêssemos desta água, nós estaríamos mortos. Mas isto é tudo o que essas crianças têm para beber, e elas sobrevivem... às vezes".


O bispo lembrou que a falta de água potável é apenas um dos problemas que os moçambicanos enfrentam para sua sobrevivência. Doenças, assistência médica precária, escassez de remédios, má nutrição, acesso limitado à educação e pobreza são outros problemas de caráter emergencial no país. Contudo, os problemas não têm tirado do povo a alegria de viver, nem afetado sua fé em Deus.

Água viva

Bispo Machado preside uma conferência que tem crescido mais que cinco vezes em tamanho nas últimas duas décadas, de 33 mil em 1988 para 180 mil hoje. A conferência é dividida em 23 distritos com 173 igrejas no presente, mas esse número cresce a cada ano. "Fazer discípulos é uma prioridade de toda a Igreja em Moçambique, não apenas trabalho dos pastores", o bispo responde quando perguntado como esse crescimento foi alcançado. Além disso, ele salienta que a igreja não faz distinção entre trabalhos de ação social e evangelização.
Para Somane Machado, é inconcebível que a igreja seja capaz de ver o sofrimento do povo e não faça tudo o que estiver ao seu alcance para aliviá-lo. Como exemplo, ele lembrou o trabalho de perfuração de um poço que a Igreja fez em Matsinhes, uma vila da Província de Inhambane. Antes, o poço mais próximo ficava a quase 13 km de distância. Uma das senhoras mais idosas da vila levava dois dias para obter água. Ela gastava o dia todo para caminhar os 13 km, passava a noite ao lado do poço e voltava na manhã seguinte carregando um jarro de 15 litros de água. No culto de inauguração do novo poço, ela pulou para o meio do grupo de pessoas que o rodeava e começou a dançar. "Isto é a igreja", ela disse. "Muitas igrejas vêm, fazem barulho, mas não nos dão água. Isto é a Igreja!".  "Para ser a igreja", disse Machado, "você tem que tocar as necessidades das pessoas. Você tem que encarar os desafios que as pessoas encaram e se tornar parte da solução".

Maiores desafios


O bispo Machado mencionou os quatro maiores desafios que os metodistas enfrentam em Moçambique. O primeiro, assim como em muitos países africanos, são as epidemias de HIV/AIDS e malária. A malária ceifa ainda mais vidas do que a AIDS em Moçambique. Crianças abaixo de cinco anos são as mais vulneráveis.  Um segundo desafio para a igreja é a formação pastoral. Há muito mais igrejas do que pastores. Há muitos jovens candidatos ao ministério, mas a capacidade da igreja para treiná-los é limitada. Muitos que gostariam de entrar no seminário não têm a necessária formação secundária (e, às vezes, nem a primária). A necessidade de escolas de todos os níveis é urgente.


A carência de serviços médicos é outro desafio. Clínicas, hospitais e postos de saúde de qualquer tipo são escassos. O transporte é inadequado, então pessoas precisam caminhar mais de 50 km para chegar à clínica mais próxima. Os bebês geralmente nascem em casa sem médicos, antibióticos ou parteiras experientes, ou mesmo água limpa. Bispo Machado encontrou uma mulher numa vila que tinha acabado de dar à luz em seu barraco sem nenhuma ajuda. Havia sangue por todo lado ao seu redor, mas ela estava sorrindo, segurando seu novo bebê. "Esta é a Graça de Deus", ele disse. "E é nosso trabalho dar apoio à vida destas pessoas". Amparar os pastores aposentados e as viúvas dos obreiros também é uma preocupação do bispo - um quarto desafio. Ele expressou alegria por que a última sessão do Concílio Geral da Igreja Metodista Unida ter dado atenção ao tema das pensões para clérigos fora dos Estados Unidos, mas ele sentiu que a ação chegou com muitos anos de atraso. "É uma vergonha ver aqueles obreiros de fé, que deram suas vidas inteiras pelas igrejas, viver sem nada e morrer sem ninguém para ajudá-los?.


Há várias maneiras dos metodistas nos Estados Unidos se unirem à Igreja em Moçambique em resposta aos seus desafios. A número um na lista do bispo é: Orar.  Seu segundo pedido é que os membros da Igreja vão visitá-los. Ele não se importa com a filosofia que diz que é mais eficiente enviar dinheiro. "Digamos que custe dois mil dólares por pessoa para uma grupo de dez visitantes. Seria melhor enviar para Moçambique os 20 mil dólares? Não! A Igreja não é uma ONG. Você precisa vir e ver nossos desafios, nossa fome, nosso sofrimento. Você precisa sentir o que as pessoas sentem.

Bispo Machado ora para que a igreja nos EUA encontre maneiras de compartilhar não apenas seus bens materiais, mas também seus recursos humanos. O hospital em Chicuque poderia empregar voluntários para auxiliar os três médicos que se dividem no cuidado de 250 pacientes. As oportunidades são muitas, ele disse.
"A despeito de todo o sofrimento que eu contei", disse o Bispo, "quando você vir nos visitar, você serão recebidos por pessoas felizes".


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