Publicado por Sara de Paula em Mulheres - 23/03/2016

Páscoa: sobre bolas de ferro e asas nos pés

E voltaram os discípulos outra vez para casa. Maria, entretanto, permanecia junto à entrada do túmulo chorando... (João 20.10-11):

 

Ah! Meu Jesus, onde estás? Tu que um dia me encontraste, sigo a te procurar. Olho aqui, olho ali e não te vejo. Meu amigo, como viver sem você que me enxergou em Magdala para além do que aprisionava meu corpo e com docilidade e ousadia me libertou das opressões cotidianas? Quero rever aquele que me empoderou não para apenas segui-lo, mas para caminhar junto, lado a lado.

 

Aquele que no caminho da vida, encontrava as minhas companheiras, transformava-as, transformava-se, transformava-me. Por meio do seu discurso inclusivo e emancipador eu me libertava, minha dignidade e autonomia iam se construindo, a cada passo, a cada encontro. Me animava tanto estar ao seu lado!

 

Junto a ti eu era Maria, não precisava ser nomeada a partir de nenhum homem. Você não me enxergava como Maria, esposa de fulano ou sicrano, mas como Maria de Magdala, pois sabia da importância de preservar minhas origens, histórias, minha ancestralidade e individualidade. Ao preservar-me me ensinou o valor da minha vida e o poder da minha feminilidade. Mais que dócil, frágil e domesticada, me enxerguei livre, livre, livre!  E agora onde estás?

 

“Mulher, por que choras? ”, lhe perguntavam os anjos. Eu choro porque de repente parece que tudo se foi, choro porque a morte me turva a vista e me enlaça o coração. Choro porque ainda que a anunciada utopia da ressurreição me convide a caminhar, a fragilidade da vida se coloca como bolas de ferro presas aos meus pés e me faz dar as costas para a liberdade.

 

“Maria! ”, lhe chamou o Senhor. A voz do Mestre lhe tocava o ouvido e lhe movia em sua direção. Ela, mais que depressa, virou-se e exclamou: Raboni! (Mestre). Quem estava de costas para a liberdade agora se virava para quem lhe ensinara a libertar-se. Já não havia mais bola de ferro que limitava o caminhar. Agora com os pés livres, coração animado, rosto descoberto ao vento e um largo sorriso nos lábios corria, como quem tinha asas nos pés. Impetuosa abriu a porta da casa e lá estava quem aprisionado ao medo, não acreditava. Ela anunciou! Seu corpo e seus sonhos gritavam o que por todo os dias que caminharam juntos, o Mestre lhe havia anunciado e ensinado: “ E eis que estou convosco, TODOS OS DIAS...”

 

Que seja a Páscoa o tempo de voltar-se para a liberdade da vida, renunciando as prisões da morte. Que se renove a certeza da presença curadora e libertadora de Jesus. Que nossa vida livre quebre as injustas e perversas bolas de ferro e com um abraço gostoso a gente convide a quem sofre, a olhar para a presença consoladora de Jesus. Feliz Páscoa!

 

Autora: Andreia Fernandes, pastora da Igreja Metodista de Santo André, SP.


Tags: mulher, pascoa, maria


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