Publicado por Sara de Paula em Pastoral Indigenista, Geral - 14/04/2016
Mito Indígena: A História da cobra bonita
A colaboração de hoje veio de uma das Indigenistas da Igreja Metodista, que atua na Aldeia Tremembé. A missionária Marly Schiavini de Castro da REMNE, sugere a leitura do Mito Indígena "A história da cobra bonita". O texto conta um pouco sobre a luta diária de quem precisa diariamente preservar sua cultura.
Leia também a entrevista com a missionária Marly, onde ela compartilha um pouco da experiência vivida com o povo Tremembé. Acesse aqui.
Mito Indígena
A História da cobra bonita
A estória que será contada agora é muito antiga, tem mais de quinhentos anos, e foi passada de geração a geração pelos mais velhos aos mais novos, em conversas à noite, ao redor das fogueiras, chegando aos dias de hoje para continuar sendo conhecida e recontada.
Houve um tempo em que existia no mundo um lugar maravilhoso, perfeito e belo, onde existia paz e fartura.
Haviam muitas florestas, bichos, aves de todas as espécies, e rios repletos de peixes. Nesse lugar ninguém sentia fome ou sede, pois a natureza a tudo provia.
Os povos que viviam naquele lugar haviam nascido ali, e o conheciam como a palma da mão, vivendo felizes com as coisas que ali existiam.
Dentre as pessoas que ali habitavam, havia um grupo de caçadores, que todos os dias ia para a floresta, em busca de caça para alimentar todas as famílias.
Certo dia, quando voltava da caça, o grupo de caçadores foi atraído por uma voz muito suave e melodiosa, que saía do mato à beira do caminho. Procuraram com atenção, e acabaram encontrando uma cobrinha pequenina e colorida, tão bonita e brilhante, que todos imediatamente apaixonaram-se por ela.
A cobrinha disse aos caçadores que estava com muita fome, e pediu um pouco da caça que eles levavam. Imediatamente, o alimento foi dado à cobrinha, e os caçadores prosseguiram em sua caminhada rumo à aldeia.
E assim foi que, todos os dias, ao regressar da caça, os caçadores encontravam a cobra, e todos os dias a alimentavam com o que tinham de melhor, seduzidos por suas cores e beleza.
Com o passar do tempo, e bem alimentada, a cobra cresceu, e quanto mais crescia, mais sedutora se tornava, e também mais faminta a cada encontro.
Até que um dia, ao regressar da floresta, os caçadores não viram a cobra no caminho. A caça, naquele dia, havia sido excepcionalmente boa, e eles a levavam para fazer uma grande festa na aldeia.
A festa estava acontecendo, e a noite já ia avançada, quando todos ouviram um ruído tremendo, assustador, semelhante a um grande trovão em noite de tempestade.
Ao observar o céu, as pessoas verificaram que não se tratava de uma tempestade, pois o céu estava limpo e estrelado.
Procurando mais, descobriram que o barulho havia sido causado pela cobra, agora tão grande e faminta, que queria devorar toda a aldeia para saciar a sua fome.
Imediatamente, todos correram às suas casas, empunharam suas armas e foram combater a cobra.
Esta peleja continua até os dias de hoje. Às vezes, a aldeia consegue a vitória, outras vezes a cobra leva a melhor.
Importante é saber que, até hoje, os ocupantes da aldeia não desistiram de lutar contra a cobra, resistindo às suas investidas com as armas que têm, e, principalmente, com a força de sua cultura e espiritualidade, que os leva a lutar para não perecer.
Foto: Pixabay
Tags: indigenista, pastoral indigenista
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