Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Vocação pastoral nos dias de hoje

   Ao findar de mais um ano, muitos jovens de nossa Igreja encerram seus períodos de estudos teológicos e iniciam suas carreiras ministeriais. É momento de agradecer a Deus e também pedir que o Senhor confirme e direcione o chamado destes novos pastores e pastoras. Para refletir sobre o tema da vocação pastoral, o formando de teologia José Geraldo Magalhães Jr. entrevista o bispo Stanley da Silva Moraes, Secretário Executivo do Colégio Episcopal da Igreja Metodista.

Como o sr. define vocação? E como foi despertado para a mesma?

É o chamado de Deus para o exercício de um ministério. O vocacionamento acontece em uma comunidade concreta e alcança uma pessoa concreta que tem dons, talentos, expectativas. Ainda bebê, quando comecei a pronunciar minhas primeiras palavras, logo comecei a dizer que ia ser "patolo". Neste momento, podia-se dizer: "é imitação de meu pai e meu avô, que eram pastores. Na adolescência esta vocação foi sendo testada. Nela experimentei a confirmação interior e comunitária. Isto me disse que o que na infância se identificava como imitação, não o era em sua essência. Foi um chamado desde o ventre.

 

Os ensinamentos na fé cristã dos seus pais, Rev. Cláudio Cadorna de Moraes e Noêmia da Silva Moraes, influenciaram no desenvolvimento de sua vocação pastoral?

Sim. Cresci numa família cristã, aberta para a interferência de Deus. Por isso em minha família, composta de 6 irmãos, aconteceram seis respostas muito diferentes ao chamado de Deus. Eu fui para o pastorado, e sou o único na família. Uma irmã é musicista na Igreja, outro é médico indigenista, outra é artista cênica e gráfica, com uma grande produção de material religioso, outro é educador indígena. Cada um foi para um lado, mas todos servindo a Deus conforme sua vocação.

 

No tempo acadêmico, principalmente na área teológica, o Sr. chegou a vivenciar alguma crise que o levasse a pensar em desistir da vocação Pastoral?

Eu diria que sempre tive um espírito crítico, pelo que sempre coloquei em cheque tanto minha vocação como minha profissão. No período de estudo isto esteve presente. Mas sempre a vocação pastoral se confirmou. Dois anos antes de ir para a Faculdade de Teologia comecei a namorar a Rute. Antes de começarmos a namorar perguntei a ela se queria namorar o Stanley e o Pastor. Ela antes de me responder meditou muito sobre isto. Em vários momentos de nosso namoro e noivado ela se perguntou se se sentia chamada para ser esposa de pastor. Concluiu que este era também o chamado de Deus para sua vida. A comunidade também confirmou este chamado dela. Durante 14 anos pastoreei e lecionei. Fui professor concursado do Rio Grande do Sul até o dia em que fui eleito Bispo. Na escola e na Igreja eu pastoreava e ensinava. Tenho um perfil educador. Deus me chamou para ser pastor educador.

 

Qual a importância da vocação pastoral na vida da sua igreja (âmbito nacional e local)?

Deus estabeleceu a Igreja e nela os seus pastores e pastoras. A Igreja não vive sem pastor ou pastora, porque Deus estabeleceu líderes para seu povo. Para ser pastor ou pastora a pessoa tem que ser vocacionado/a. As riquezas e fragilidades de nossa Igreja têm muito a ver com as fragilidades e riquezas de seu corpo pastoral. Há muitos profissionais da fé, que exercem o pastorado, mas não são vocacionados. Estes fazem da Igreja uma mera organização religiosa. A Igreja liderada por pessoas vocacionadas faz a diferença que Cristo quer.

 

Qual a importância da vocação pastoral para a sociedade?

A vida é um supremo dom de Deus. Ele criou o céu, a terra e tudo o que neles há. A sociedade precisa de pastores e pastores que ajudem a viver seu presente, sem perder a consciência da presença de Deus. O/a vocacionado/a tem seu ministério no mundo, na sociedade.

A sociedade secularizada oferece menos espaço para o pastor. Vejo neste fato um desafio para que a vocação pastoral se desenvolva em sua especificidade. Os pastores e pastoras historicamente "se meteram" em muitas coisas que não são de sua competência, e fizeram um grande mal para a sociedade. Hoje o/a pastor/a tem que agir naquilo que lhe é próprio para interferir positivamente na sociedade.

 

Uma das primeiras Igrejas que pastoreou foi em Rio Pardo na 2ª Região. O Sr. chegou enfrentar algum desafio que o levasse a pensar em desistir do chamado pastoral?

Trabalhei naquela Igreja por apenas um ano, no último ano de estudos no seminário. Eu era diácono e pastor titular. Tinha o pastoreio em três cidades, Rio Pardo, Minas dos Ratos e Minas do Butiá. Era recém casado e eu e Rute visitávamos Rio Pardo e mais uma das cidades a cada fim de semana, percorrendo 350km. Eu estudava pela manhã no Instituto Teológico João Wesley e trabalhava das 15h às 23h30. Chegando em casa ia fazer as leituras e trabalhos para o seminário. Sábado ao meio dia saía para estas Igrejas, de onde voltava domingo após o culto da noite (após meia noite).

Colocado este contexto, agora respondo: Cheguei a um nível de exaustão que me levou a pensar que não agüentaria até o fim. Minhas roupas ficaram "largas". Perguntei-me: O que Deus está querendo me dizer? Mas foi um ano precioso, em que a vocação do jovem casal pastoral se confirmou. O final de semana renovava nossas forças e esperança. Terminei o ano aprovado no ministério pastoral, com boas notas no Curso de Teologia e com o casamento fortalecido. O Senhor confirmou seu chamado.

 

Na manhã de 11 de julho de 1991 em Juiz de Fora, MG, ao ser eleito bispo no XV Concílio Geral, a igreja local pôde participar e votar pela primeira vez na história, no processo de escolha dos bispos. O Sr. acredita que a eleição a bispo em 91 foi um complemento de sua vocação pastoral?

Sim. Para mim foi uma confirmação da vocação pastoral, agora com o ministério pastoral global, que é o ministério de um bispo. Para mim o episcopado não é uma promoção, mas uma confirmação de pastorado. Entres os pastores, Deus chama alguns para presidirem os pastores e a Igreja.

 

Qual a diferença entre pastorear ovelhas (quando era pastor) e pastores/as (neste caso como Bispo)?

Considero esta uma resposta difícil de ser dada, pois o assunto é complexo. Quando trabalhei com ovelhas, estive a frente de pessoas que deram o passo da fé e que buscam seu líder espiritual. O pastor é seu líder espiritual. Quando trabalhei com pastores/as, também trabalhei com pessoas que deram o passo da fé e que buscam seu líder espiritual, mas que têm também interesses e dependência profissional. O pastor sabe que o bispo é quem nomeia e tem autoridade sobre ele. Pastorear pastores é o exercício de um pastoreio que tem, além do exercício do carisma pastoral, também o da presidência da instituição eclesiástica. O bispo só exerce seu ministério se tem, sobre o corpo pastoral, liderança espiritual e acolhimento ao modo como exerce a presidência.

 

José Geraldo Magalhães Jr.


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