Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
vocação bispo josué
II Tm 1.6
Dois conceitos
Esta frase apresenta dois conceitos bíblico-teológicos de fundamental importância para a vida de todos nós: Reavivar o Dom. Estas duas palavras contêm grandes verdades e transmitem a mensagem de Deus de uma forma muito clara e objetiva.
Reavivar
A palavra grega traduzida para reavivar tem o sentido de "soprar as brasas quase apagadas", numa referência ao despertamento e ao reavivamento vocacional e ministerial que deve ser uma constante na vida das pessoas vocacionadas por Deus.
Soprar é uma atitude que parte da pessoa. É uma ação no sentido de buscar renovação e força para o cumprimento da vocação. É o ato de pegar o fole e soprar as brasas quase apagadas. Paulo indica várias destas ações utilizando a expressão "Tu, porém...".
O dom
A palavra grega utilizada tem o sentido de "favor imerecido" ou "dom supremo". Trata-se de carismas que Deus concede. São carismas pastorais e laicos através dos quais o Espírito Santo age na vida do cristão e da Igreja na medida em que o cristão se oferece a Deus em resposta ao Seu amor. O carisma se evidencia de forma comunitária e não individualizada, pois ele se expressa por meio da dedicação da pessoa ao serviço de Deus e por meio da Sua Graça.
Dom indica uma função, ordinária ou extraordinária destinada à edificação do Corpo de Cristo. Esta palavra aparece 17 vezes no Novo Testamento. Em seis delas o sentido é de dom gratuito. Nas outras vezes o sentido é de edificação da Igreja (Rm 12.6; I Co 1.7; 7.7; 12.4; 12.9; 12.2; 12.30; 12.31; I Tm 4.14 e I Pe 4.10).
Tu, porém
Com esta expressão o apóstolo introduz várias ações que o discípulo deve exercitar como um fole sendo utilizado para produzir vento e ativar uma combustão. Porém é uma conjunção que indica uma ação contrária, uma ação tensional e provocativa de algo novo. Indica também uma reação positiva e crescente em busca de uma vivência renovadora.
1. Tu, porém, fortifica-te na graça de Deus - II Tm 2.1
O que faria de Timóteo um discípulo preparado para enfrentar as situações da vida e do ministério era o fortalecimento na Graça de Deus. O propósito do apóstolo era torná-lo um adulto na fé, um cristão maduro e um discípulo na medida e estatura de Cristo. Como é um ministério exercido sob a graça de Deus?
a) Envolve outras pessoas - II Tm 2.2. O ministério não é isolado, centralizado, personalista, autoritário ou ascético. Ele é envolvente e integrador.
b) Transmite princípios de vida - II Tm 2.2. A transmissão das verdades divinas se dá através do discipulado e da convivência entre liderança e liderados.
c) Desenvolve empatia - II Tm 2.3. O ministério sob a graça de Deus tem empatia com a dor e sofrimento dos outros.
d) É perseverante - II Tm 2.6. Assim como o lavrador acredita na semeadura e trabalha arduamente para ver o fruto do seu labor, assim é o líder que vive sob a graça de Deus, também acredita na semente do Evangelho e no trabalho da educação e formação de seus liderados.
e) Pondera na Palavra de Deus - II Tm 2.7. Ponderar não é uma obrigação, tampouco ordem do apóstolo. Ponderar significa considerar, avaliar, meditar, levar em conta, pois as implicações da obediência a Deus são fortalecidas pela Graça de Deus.
f) Para João Wesley, o "homem debaixo da graça tem os olhos que se abrem para ver o amável e grandioso amor de Deus estampado na face de Jesus Cristo".[2]
2. Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina - Tt 2.1
A carta endereçada a Tito apresenta um tu, porém que também é dirigido à liderança da igreja. A orientação é para que os líderes ensinem em todo tempo a sã doutrina aos diversos grupos presentes na igreja. Em destaque, os idosos (Tt 2.2), as idosas (Tt 2.3-5), os jovens (Tt 2.6) e os servos (Tt 2.9-10). A sã doutrina apresenta as características que acompanham a vida de quem foi alcançado pela graça de Deus. Este ensino tem as seguintes características: integridade, reverência, linguagem sadia, irrepreensível e vivência da Palavra de Deus para envergonhar os falsos mestres.
3. Tu, porém, segue o meu ensino - II Tm 4.5
O conhecimento da Palavra de Deus seria um estimulo para a realização do ministério de Timóteo num contexto de oposição e de lutas. Para tanto, o apóstolo orienta seu discípulo a seguir o seu ensino.
a) Exercitar a piedade - I Tm 4.7b-8. Trata-se de uma referência a espiritualidade. Espiritualidade não é o isolamento do mundo ou fuga dos problemas da vida. Não se trata de estereótipos ou modismos que vão sendo criados e colocados como padrão. Espiritualidade tem a ver com a vida integral, com o todo da vida humana. Ela acontece em meio ao cotidiano. Ela é a vivência do conhecimento de Deus e das experiências advindas deste conhecimento. Espiritualidade é compromisso e vivência dos mais altos valores da Vida e do Evangelho de Jesus Cristo.
b) Não negligenciar o dom - I Tm 4.14. É o carisma dado por Deus e reconhecido pela Igreja. No caso, o dom de ensino e o ministério ordenado de Timóteo. "Aprendemos que um carisma não é algo que seja outorgado por Deus de forma permanente e estática; seu vaso humano tem de usá-lo e desenvolvê-lo. É verdade que Timóteo era jovem e inexperiente. Mas convinha que ele se lembrasse (e também lembrasse os outros) de que Deus o havia chamado (através da palavra profética), o havia capacitado (através do dom espiritual) e o havia comissionado (por meio das mãos dos presbíteros), pois assim ele não seria desprezado em face de sua juventude, nem o seu ensino seria rejeitado".[3]
c) Ter cuidado da doutrina - I Tm 4.16. Trata-se de uma orientação insistente do apóstolo para com o seu discípulo. Cuidar da doutrina é um imperativo e zelo pelo fundamento da Igreja.
d) Ter cuidado de si mesmo - I Tm 4.16. Timóteo já conhece a fragilidade da vida humana e recebe a orientação para desenvolver o cuidado consigo mesmo. Que cuidado é este? Cuidado com a saúde (I Tm 5.23); cuidado com o dom (II Tm 1.1); cuidado com a tradição do conhecimento obtido (II Tm 3.14, 1.14); cuidado com os relacionamentos (I Tm 5.1-3); cuidado com a família (Hb 13.1-6).
4. Combate o bom combate da fé - I Tm 6.12
O combate da fé valia a pena ser combatido, pois tinha o apelo de promover as virtudes que devem acompanhar a vida do cristão e líder servo. Paulo dá o seu testemunho de ter combatido o bom combate, completado a carreira e guardado a fé (II Tm 4.7). Em outras palavras, combater o bom combate tem a ver com o carisma recebido de Deus. Desta forma, o ministério é o exercício cabal da vontade do Senhor. De que forma combater o bom combate? O texto de Romanos 12.9-21 nos responde: com amor, com zelo, com alegria e choro e fazendo o bem. Em outras palavras,
"A liderança não se ganha mediante a promoção, mas através de muita oração e lágrimas. É obtida pela confissão de pecados, pela sondagem cuidadosa do coração, pela humildade diante de Deus, pela auto-entrega, pelo corajoso sacrifício de cada ídolo, pela tomada audaciosa, decidida, incondicional, sem reclamações, da cruz, e pela contemplação incessante, eterna, de Jesus crucificado. A liderança não é ganha mediante a procura de grandes coisas para nós mesmos, mas, antes, como Paulo, mediante o considerar daquilo que é ganho, para nós, como perda, por causa de Cristo. Eis o grande preço a ser pago sem qualquer hesitação, por todo aquele que não deseja ser apenas um líder, mas um verdadeiro líder espiritual de homens, líder cujo poder é reconhecido e sentido no céu, na terra, e até mesmo no inferno".[4]
"Que o Senhor seja com o teu espírito" (II Tm 4.22).
Bispo Josué Adam Lazier
Ministério Tu, porém
[1] Para aprofundar esta reflexão ver nossa publicação: Lazier, Josué Adam. Reaviva o dom - discipulando líderes. São Paulo. Editora Cedro. 2006.
[2] HINSON, William J. A dinâmica do pensamento de Wesley. São Paulo, Imprensa Metodista, 1997, p.49.
[3] STOTT, John. A Mensagem de I Timóteo e Tito. São Paulo, ABU, 2004, p.123.
[4] Citado em SANDERS, Oswald J. Liderança espiritual. São Paulo, Editora Mundo Cristão, 1985, p.13.