Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Testemunho histórico pr. Getro

E o Pastor Getro não podia parar... Razão pela qual Deus o tomou para si

 "Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem - aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham." Apocalipse 14: 13

Era noite, a chuva e o frio pareciam cair em todo o Estado de MS. Nova Andradina, batizada de a "Cidade Sorriso" pelo pastor metodista dono do primeiro jornal ali existente, naquela noite de segunda-feira, não sorria, mas chorava. Chorava torrencialmente, por ter perdido um de seus mais ilustres cidadãos. Havia choro também nas casas pastorais do Distrito de Campo Grande, de Mato Grosso e MS.

A corrente de choro atravessava os limites interestaduais e se espalhava pelo interior do "Gigante Colosso" -  Estado de São Paulo, assim batizado por uma música sertaneja sul - mato - grossense.  

Tal corrente de choro e lamento aumentava cada vez mais, após o tocar do telefone nos lares de pastores, pastoras, amigos, parentes, filhos na fé que recebiam a triste noticia, a qual se multiplicava e espalhava via email na grande rede de computadores.  A causa de tanto lamento era que, o Reverendo Getro da Silva Camargo, o pastor e pai na fé de muitos metodistas espalhados por várias regiões do país, poucos meses após se aposentar no ministério pastoral, recebera a convocação para se apresentar a casa do Pai Celeste. Aos 72 anos, ainda exercendo o oficio de Superintendente Distrital, "o homem sorriso", dono de diversos títulos, tais como: Cidadão Nova Andradinense e Cidadão Sul - mato - grossense, na noite de dia 17 de Maio, as 21 hora deixara sua amada pátria terrena para se tornar Cidadão da Pátria Celeste. Sim, ele havia agora em definitivo partido de Nova Andradina, cidade que pastoreou por quatro vezes. Fora nomeado para tornar-se residente na Glória Celestial, como um futuro habitante da Nova Jerusalém que um dia descerá dos Céus. Após pastorear diversas igrejas em cidades como: Campestre-MG, Presidente Prudente-SP, Campo Grande e Dourados-MS, e ter dado assistência a outras, ele cessou sua intinerância ministerial neste mundo, atendendo ao chamado de Jesus Cristo, o Supremo Pastor e Bispo de sua alma.

A vida ministerial de Getro Camargo está entrelaçada com a história do Mato - Grosso - do - Sul e da cidade de Nova Andradina. Em 1965, foi nomeado como pastor pela 5ª Região Eclesiástica, para atender ao Povo chamado Metodista nova andradinense, dando também assistência aos outros núcleos metodistas espalhados pelo Estado.

O ministério dele e sua formação teológica tiveram inicio na conturbada década de sessenta, onde o Brasil se agitava sob a ditadura militar. Anos quentes, onde os movimentos sociais e estudantis afloravam e a repreensão ditatorial agia repreensiva e violentamente. Anos difíceis, nos quais os esquemas se organizavam nos bastidores políticos e eclesiásticos de uma nação e Igreja em dores de parto, que gemiam e choravam por seus desaparecidos, exilados políticos e pastores perseguidos. Em meio a confronto e conflitos, na dolorosa busca de despedir-se do velho e se abrir ao novo, Igreja Metodista e Nação brasileira tateavam na escura década da ditadura militar, ambas buscando uma nova identidade e novos caminhos a trilharem.

O jovem nascido na cidade de Ourinhos - SP, no dia 27 de setembro de 1938, filho do construtor Cornélio da Silva Camargo (In memorian) e da costureira Cantidiana dos Santos Camargo (In memorian), recebeu sua primeira nomeação pós - formação teológica para o ainda indiviso Estado do Mato - Grosso.  Três anos antes do conturbado 1968, período no qual a Faculdade de Teologia sofreu intervenção e conseqüente fechamento, o pastor Getro da Silva Camargo pisa o solo da cidade de Nova Andradina.

Mato - Grosso terra de bravos colonizadores, solo habitado por indígenas e povoado por feras, tais como onças e sucuris. Lugar ainda em franco desbravamento, tomado pelo verde das matas, do cerrado, cortado por rios transponíveis somente por balsas.  Terra sobre a qual se contavam histórias que se tornaram mitos, tais como de onças andando pelas trilhas e devorando missionários guias leigos. Casos de indígenas morando no oco de grossas e imensas árvores. Terra do 44, arma considerada a lei do Mato-grosso. Tais histórias causavam um misto de fascínio e medo em muitas pessoas do interior e das grandes metrópoles paulistanas. Fazendo muitos pastores temerem receber nomeações para esta que imaginavam ser uma terra sem lei, verdadeira terra de ninguém. Assim era o Mato - Grosso cercado de mitos e matos, lendas e fatos, temores e rumores, homens e feras, "brancos" e amarelos, mas, que desde 1965 se tornara:  "terra de Getro da Silva Camargo".

Podemos afirmar o acima citado, pois por este chão bravio, ainda semi desbravado, o jovem pastor se apaixonou. Em 11 de outubro de 1977 o Gigante Mato-Grosso, foi dividido geograficamente, dando origem ao Estado de Mato - Grosso - do - Sul, mas em seu coração missionário Getro o amava como uma terra só.  Ele assumiu um verdadeiro casamento, tornando-se um com este chão de terras às vezes brancas e arenosas, outras vermelhas e barrentas, em agostos empoeiradas, raramente asfaltadas, via - de - regra esburacadas. Estradas verdadeiras eram luxos, por isso, pastores e missionários faziam fluxo por simples trilhas ou travessões que ligavam as cidades, colônias e vilarejos. Neste lugar ainda em expansão, Getro viveu uma missão encarnada, fazendo do extenso Estado sua paróquia, chegando a ser o único pastor nomeado para toda a extensão sul-mato-grossense.

Diante da irrecusável convocação para tomar posse definitivamente do titulo de cidadão celestial, outorgado por Jesus Cristo, Getro deixa para a história sua memória, seus feitos, suas mensagens pregadas. Deixa as histórias vividas, os casos hilariantemente contados, marcados por seu inigualável humor missionário. Acima de tudo deixa como exemplo o amor dedicado ao Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Seu relacionamento de amor com este Estado foi tão marcante, que ele recebeu em vida e após sua morte homenagens tanto dos de dentro como dos de fora da grei do Senhor. Por onde pastoreou, tornou-se símbolo de unidade cristã e interação com todas as pessoas, independente se possuíam credo, ou da tradição cristã que professavam.

Tinha tão grande amor e identificação por Mato - Grosso e Mato - Grosso - do - Sul, que de forma intrínseca e imbricada adotou o jeito de ser e viver da população destes Estados. Tornando se um com sua gente sofrida, carente do Evangelho e cuidado pastoral. Encarnou-se tanto na missão em meio ao povo destes rincões, que contam a respeito dele, fatos como o que segue: "Em Piracicaba, num Concílio Regional, diante da resistência dos obreiros em irem para o Mato Grosso do Sul, reverendo Getro resolvera protestar. Sentado nas escadarias da Igreja Central, durante o almoço, anunciou que estava em greve de fome, até que algum dos pastores conciliares fosse sensibilizado e se disponibilizasse a vir ajudá-lo no resgate e pastoreio das almas desta temida região do Brasil. No culto de encerramento do Concílio, o pastor Edson Guedes aceitou o desafio.

A partir de tal protesto, não mais veio a faltar obreiros nas plagas Norte e sul - mato-grossenses. Regiões que ainda se constituem vastíssimos campos missionários, mas onde atualmente, entre igrejas e campos missionários regionais, a Igreja Metodista se faz presente em: Ponta Porã, Campo Grande, Dourados, Nova Andradina, Fátima do Sul, Amambaí, Bataguassu, Bela Vista, Cassilândia, Chapadão do Sul, Corumbá, Coxim, Jardim, Lucas do Rio Verde, São Gabriel do D'Oeste, Três Lagoas Rondonópolis, Barra do Garça, Araguaiana, Cuiabá, Várzea Grande, Guarantã do Norte, Jaciara, Peixoto de Azevedo, Primavera do Leste, Sinop, Tangara da Serra, Vila Rica e Aquidauna.

 Vale ressaltar que a implantação do metodismo em Aquidauna, foi um dos últimos atos missionários de Getro Camargo. Nos dias 20 e 21 de março de 2.010, embora aposentado como pastor local, mas atuante como Superintendente Distrital do então agora Distrito de Campo Grande, ele realizou na cidade supracitada, o primeiro Culto da Igreja Metodista, com a participação de (13) treze pessoas, entre as quais a família do irmão Renígio Portes, sua esposa Magali e suas filhas, (membros da igreja Metodista), que desde o mês de julho de 2.009 haviam fixado residência na referida cidade, transferidos que foram de Nova Andradina/MS, para assumir seu trabalho na Agência do Correio.

Cinqüenta e sete dias depois de ter celebrado o primeiro culto no "Portal do Pantanal", como é conhecida a Cidade de Aquidauana - MS, na chuvosa noite de dia 17/05/10, provavelmente às 21 horas, no interior de uma ambulância, tendo ao lado sua esposa Elza Leal Camargo, no peito missionário do "pastor sorriso" cessava o bater de um coração apaixonado por participar da missão de Deus em salvar o mundo. Falecera rumo á Dourados, cidade onde outrora substituíra a Scilla Franco, outro gigante da fé metodista sul-mato-grossense que já dorme no Senhor.

Ao chegar a Fátima do Sul, Deus apertou o botão, parando os ponteiros do cronometro da existência terrena, dando uma pausa na vida de seu servo, convocando assim seu espírito ao lar celestial. A fé cristã nos assegura que, O Senhor Deus liberará definitivamente o botão na ressurreição dos mortos, deixando-o viver pela eternidade sem fim, onde cronômetros e corações não mais pararão, pois o tempo e a morte não mais existirão.

Diante de tal pausa, o Mato - grosso - do - sul, o Mato-Grosso, a 5ª Região Eclesiástica choraram, pela morte do incansável pastor.  Naturalmente o impacto de seu silenciar foi sentido pela cidade de Nova Andradina, onde ele realizou grande parte de seu ministério pastoral. No dia de sua morte a cidade sorriso, não sorria, mas copiosamente chorava, pois partiu aquele que marcas profundas nela deixara.

No campo secular, além dos títulos de cidadão Sul - mato - grossense, cidadão Nova andradinense, Celebridade nova andradinense 2009, fulgura também o de: "Pioneiro da imprensa Nova andradinense". Em 1967, Nova Andradina não tinha nenhum jornal, apenas um alto falante, amante que era do jornalismo, Getro e sua esposa Elza Leal Camargo mimeografavam e distribuíam em três folhas o - "O Pioneiro", primeiro jornal a circular naquela região.  Não foi sem motivo que a morte dele fez parar e chorar Nova Andradina, pois ele transferiu a ela, aquilo que era sua maior característica: "a alegria manifesta no sorrir, apesar das adversidades da vida".  Após um Sete de setembro, depois de ter observado as crianças que sorriam, apesar da poeira que subia do chão enquanto marchavam, Getro estampou em seu jornal, o seguinte titulo de matéria: "Nova Andradina - A cidade sorriso". Os cidadãos nova andradinense acolheram o codinome e a cidade até hoje é conhecida pelo sobrenome por ele colocado.

Ele teve também passagem e influência nas áreas da educação e da política, atuando como: professor primário na Escola Municipal do Córrego Bernardo. Em 1973 foi bibliotecário da Biblioteca Municipal, de 1973 a 1975 foi também Secretário de Gabinete por três anos consecutivos do saudoso prefeito Alcides Menezes de Faria.  Além da comunicação escrita, fez intenso uso do Rádio, onde diariamente a partir das 17 horas transmitia mensagens de amor e esperança cristã, usando sempre o bordão: "Não desistam!".

O coração dele parou, sob a chuva que caia como lágrimas vindas de um povo metodista que nos concílios ria, sorria e gargalhava com o humor vindo do idoso jovial que partiu. Partiu deixando tristeza na terra, mas indo levar mais alegria á Pátria Celestial.

Com seu jeito bem humorado, Reverendo Getro desde sua mocidade pregava brincando e falava verdades sorrindo. Sorria enquanto seriamente anunciava a palavra que Deus no coração dele inspirava. A ele respeitosamente podemos aplicar esta declaração de Charles Chaplin: "Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando, falei muitas vezes como um palhaço, mas jamais duvidei da sinceridade da platéia que sorria." Desde os tempos de sisudez nos púlpitos, com reverencia desprovida de legalismo ele já quebrava protocolos, transmitindo na Graça e com graça a Palavra da salvação, contudo, sem  jamais baratear o Evangelho, o qual viveu e pregou como arauto fiel.

Nós pastores e missionários sul-mato-grossenses, e demais leigos e clérigos da 5ª Região Eclesiástica, que tiveram o privilégio de ter convivido com o "pastor-sorriso" diante da morte dele fomos tomados por um misto de alegria, tristeza, vazio, mas também de esperança.

Alegria. Pois sabemos que Deus chamou para si o homem, a alma, o espírito, mas deixou para nós o exemplo de pastor e líder espiritual, em cujo viver manifestou atos de piedade e obras de misericórdia. Alegria por sabermos que a ele se aplicam as seguintes afirmações e promessas bíblicas: "Bem - aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham." Apocalipse 14: 13.

Tristeza. Pois cessou o tempo terreno do eterno "cronometrista", que em cada Concílio Regional, com singular humor, irreverência e graça quebrava a tensão, fazendo a plenária gargalhar, no simples gesto de dizer: "seu bispo, acabou o seu tempo, faz favor de acabar logo que estamos com fome!"  A cada dois anos, ele lá estava, com sua impar capacidade humorística de arrancar gargalhadas novas, mesmo contando as mesmas e repetidas histórias. Com ele sempre se podia rir de novo de coisas já muitas vezes ouvidas, pois não eram as coisas contadas que faziam rir, mas o dom de transmitir alegria que ele possuía e a graça com que se comunicava.

Vazio. Pois sentiremos a falta dele, nos seqüentes: Encontro da Mocidade Metodista de Mato Grosso e Mato - Grosso - do - Sul, o (EMOMEMAGO). Encontro que caminha para a 38ª edição, e do qual ele foi um dos pioneiros. Encontros, retiros e cultos nos quais ele sempre cantava de forma ritmada com palmas e coreografias: "E a Igreja não pode parar!" Após passar por todos aqueles que são a Igreja, composta por homens e mulheres, jovens, juvenis, grupos societários, pastores, sempre chegava a hora em que a Igreja em coro cantava para ele: "E o Getro não pode parar, Jesus mandou o Evangelho anunciar, e o Getro não pode parar!" E ele não parou... Mesmo aposentado, não parou... Continuou pregando, continuou anunciando... Continuou cantando... Como somente o que é eterno não pode parar, e Deus vendo que ele não podia e não iria parar, tomou-o para si, pois obreiro ativo e fiel como foi, ele só poderia gozar da aposentadoria na eternidade, razão pela qual entrou no repouso do Altíssimo.

Esperança. De que a memória dele não seja esquecida, mas sim honrada. Honrada principalmente através da dedicação dos novos pastores e pastoras ao povo deste chão no qual ele praticamente iniciou e encerrou o ministério pastoral. Esperança de construirmos uma Igreja Metodista, grande em quantidade e qualidade, capaz de impactar espiritual e socialmente a terra que ele devotou sua vida, amor e dedicação.

 Esperança Missionária, de que em tempos vindouros, no Mato - Grosso e Mato - Grosso - do - Sul, em cada cidade e seus bairros, a graça de Deus, o imbuir-se da missão impulsionado pelo Espírito Santo possibilitarão que tremulem flâmulas com a Cruz e a Chama metodista. E neste tempo que virá, poderemos ver os filhos, e os filhos dos filhos que ele gerou na fé, estudando em uma instituição que prepara obreiros para a Missão, e em cuja entrada transeuntes e alunos poderão ler: Seminário Metodista Reverendo Getro da Silva Camargo.

Com a vida do Getro, a Igreja de Cristo ganhou muitas almas, com sua morte, a Pátria Celeste ganhou mais um cidadão e a galeria dos heróis da fé do Povo chamado Metodista no Brasil mais um membro entre a grande multidão de testemunhas que nos cerca.  Por ter honrosamente vivido e pregado o Evangelho pleno, guardemos em nossa memória seus feitos, suas mensagens pregadas, as muitas histórias vividas e humoristicamente relatadas. Com os exemplos por ele nos deixados, busquemos exercer uma missão encarnada neste solo, no qual ele, indubitavelmente pode e dever ser honrosamente considerado um dos Pais do metodismo.

Sobretudo, nesta época de apostasia, onde muitos abandonam o combate, negam ou negociam a fé, e se desviam da doutrina wesleyana e da carreira cristã, Getro Camargo combateu o bom combate, completou a carreira, guardou a fé e morreu firme no Senhor. Por sua vida e morte, em tudo, e por tudo o que ele foi, construiu e transmitiu; nós agradecidos com esperança na ressurreição dos mortos, dizemos: Deus deu, e Deus tirou; bendito seja o nome do Senhor (Jó 1: 20-21)

Pastor José do Carmo da Silva - O Zé do Egito, discípulo de Getro da Silva Camargo, indubitavelmente um dos Tais.

Igreja Metodista em Fátima do Sul - Distrito de Campo Grande - MS - przedocarmo@gmail.com


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