Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

teologia reformada pr josé do carmo

O Brasil ainda é o no mundo o maior pais católico, situado no maior continente igualmente católico, digo ainda é, pois a cada dia segundo os pesquisadores se nosso país se torna mais "protestante". Talvez estas aspas na palavra protestante te incomodem e te faça indagar sobre o porquê das mesmas? Respondo-lhe: a razão pela qual coloquei entre aspas a palavra protestante é devido ao fato de que muitas das Igrejas que estão crescendo no Brasil, ter pouco ou até mesmo nada a ver com o Protestantismo Histórico, fruto do movimento de Reforma cujas principais figuras foram: Jan Huss (1370-1415), Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564).Qualquer pessoa sensata que conhece um pouco da História da Igreja Cristã, sobretudo o período da Reforma e as motivações da mesma, saberá distinguir a diferença da Teologia adotada pelas Igrejas de tradição Reformada e a Teologia pregada por muitos dos grupos que têm alcançado crescimento vertiginoso no Brasil.

Podemos dizer que a Reforma Protestante, buscou expurgar a Igreja das heresias doutrinárias e superstições da Idade Média. Isso buscou por meio de um retorno as fontes da fé cristã, almejando assim uma retomada do testemunho e vivencia autêntica do cristianismo bíblico. Pregava uma volta, sobretudo a fonte principal da fé cristã: as Escrituras Sagradas. Em suma a Teologia da Reforma almejava levar a Igreja a "ser", enquanto que muitas das novas denominações, sobretudo Neopentecostais, adotaram a Teologia da Prosperidade cuja meta é levar a Igreja a "ter". Assim sendo tais igrejas, não contribui para a continuidade da Reforma da Igreja no sentido da frase "Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est" (Igreja Reformada Sempre se Reformando), de autoria do reformado holandês Gisbertus Voetius (1589-1676). Mas, antes coopera sim vergonhosamente para "deformar" a Igreja Reformada, pois prega uma teologia que gera uma fé cristã deformada, carregada de crendices, heresias e superstições.

A diferença é abismalmente gritante, pois, "Teologia da Deforma" exalta o ter em detrimento do ser, e nessa busca desenfreada de sucesso, dinheiro, fama, poder, assistimos pastores distorcendo as Escrituras por meio de atitudes que deforma a Reforma, pois, em nome do lucro se derruba por terra o Só a Graça que na ortodoxia Protestante biblicamente se manifesta mesmo nos momentos de desemprego, pobreza, dor, morte prematura, perseguição, fome, etc. Em lugar desse brado da Fé Reformada, a fé deformada edificou o "só a benção", fruto da teologia do sacrifício e da determinação, que resulta na prosperidade material e ausência de infortúnios, sobretudo a enfermidade. Os deformadores da fé apregoam que a freqüência da obtenção de bens materiais, continuo sucesso na vida, ausência de enfermidade e o conquistar sempre, são na vida dos crentes, claros e exclusivos sinais de autentica fé cristã e filiação divina. Nessa nova visão da "Deforma Protestante" os novos fundamentos teológicos são: ter para ser.

Diante dessa anomalia teológica de matriz norte - americana, os evangélicos no Brasil muitas vezes se encontram em evidencia, não somente por que pesquisas mostram que a grei evangélica seja de aproximadamente quarenta milhões de brasileiros/as. Os evangélicos às vezes são noticias não só por que a Marcha para Jesus conseguiu juntar três milhões de pessoas só na cidade de São Paulo. Mas, infelizmente via de regra o povo evangélico se torna em evidencia na mídia devido aos escândalos envolvendo alguns lideres do seguimento neopentecostais. A lista de escândalos, que crescentemente tem sido mostrada pela mídia é extensa: enriquecimento ilícito, charlatanismo, exploração da fé, adultério, homossexualismo, apropriação indébita, processos judiciais onde igrejas são obrigadas a reembolsarem membros por elas lesados, evasão de divisas, lideres religiosos acusados de encomendarem a morte de outros lideres, envolvimento com o narcotráfico, sem falar da bancada evangélica entre os quais muitos são políticos corruptos, sanguessugas da fé popular e do dinheiro público.

Diante de tais escândalos, alguns logo se defendem, dizendo que tudo faz parte de uma trama habilmente urdida pelo diabo, que faz uso de estruturas do poder midiático com o propósito de perseguir a Igreja de Cristo. Mas a sensatez e análise de muitos fatos contra os quais não cabem simplórios argumentos como o acima citado, obriga muitos cristãos, por serem sinceros conhecedores da Palavra de Deus e da Reforma, a diante das enxurradas de escândalos desgostosamente parafrasearem Shakespeare em Hamlet. Nessa peça o príncipe da Dinamarca após analisar seu país declarou: Há algo de podre no reino da Dinamarca. Se quisermos ser honesto conosco mesmo devemos deixar de lado a idéia de que tudo o que aparece na Mídia é fruto de perseguição religiosa e admitirmos que realmente: "Há algo de podre no Reino evangélico". E tal podridão está no fato de que no Brasil o que muitos têm buscado é implantar o "reino evangélico enraizado na cobiça" e não o Reino de Deus com base na sua Justiça.

Como verdadeiros protestantes não só devemos admitir a existência de tal podridão, mas alertarmos o povo de que ela está presente em toda Teologia que destaca o ter em detrimento do ser, anulando a graça de Deus por meio de falsos pressupostos baseados na distorção e apropriação de textos bíblicos, que interpretados isolados e fora de seus contextos forçosamente levam os fieis a concluírem que se tem que dar algo para Deus, para só assim receber Dele. É nossa obrigação como cristãos sinceros protestarmos contra tais desvios teológicos, em obediência a Palavra de Deus que diz: E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes as condenai. (Ef 5.11)

Diante de tudo que temos visto, ouvido e lido, e daquilo que ainda iremos ver, ouvir e ler no tocante a escândalos, muitas vezes é natural se decepcionarmos com a Igreja, e diante dos escândalos nos perguntamos: a onde iremos? Em que, ou em quem creremos, pois mais um líder evangélico que parecia acima de qualquer suspeita caiu? Devemos estar alertas, pois os dias são maus e mais escândalos ainda virão, pois muitos dos que se dizem bispos/as, pastores/as e apóstolos/as têm se mostrado traidores/as, obstinados/as, orgulhosos/as, mostrando-se mais amantes dos deleites, do dinheiro e dos prazeres do que de Deus. Tendo a aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Diante destes constantes escândalos mostrados pela Mídia precisamos ter amor pelas almas e zelo pelo genuíno Evangelho de Cristo, para numa atitude de fé fazermos a corajosa pergunta e afirmação de Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna (Jo 6.68). Sim só Jesus tem Palavras de vida eterna, e destas palavras nos saciamos quando bebemos da fonte para a qual a Teologia Reformada ansiou voltar: a Bíblia Sagrada, fonte e regra de nossa fé e pratica. É nela que encontramos força para permanecer na Igreja e batalharmos pela verdadeira fé entregue aos santos. É lendo-a que não vacilamos diante dos escândalos, pois em relação a eles, Jesus o Cabeça da Igreja nos advertiu: "Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venha escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem" (Mt 18.7).

Concluo afirmando que o verdadeiro cristão, não é adepto da Teologia da Prosperidade, tampouco da teologia da miséria se é que ela existe! Mas o genuíno cristão e a genuína fé se baseiam na Teologia da Graça, Graça está que se faz presente na vida do cristão na ausência ou presença de bens materiais, na saúde ou doença a ponto de levá-lo a dizer: "Sei estar abatido, e sei também ter em abundancia; em toda maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome, tanto a ter abundancia, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece" A verdadeira fé é a do contentamento, pois quem a detém sabe que nada trouxe para esse mundo e nada poderá levar dele. Alicerçados nessa fé o cristão fica livre de cair nas artimanhas dos tele vendilhões da fé e templários mercadores da graça, pois possui um coração grato até mesmo pelo pouco que possui.Contra esse tipo de gente Paulo já alertava seu jovem discípulo Timóteo: "Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo porém sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentações, e em laços, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todas as espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se transpassaram a si mesmo com muitas dores. Ma tu homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão. (I Tm 6.7,11)

Pastor José do Carmo da Silva. (Zé do Egito)

Igreja Metodista em Fátima do Sul-MS. przedoegito@gmail.com


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