Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 05/04/2012

Solte Barrabás! Condene Jesus! Marcos 15.1-20

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Jesus é levado ao Palácio de Pilatos. Contraste estranho! Jesus, um operário camponês do interior da Galiléia que só pensava em servir aos outros, frente a Pilatos,um político romano que só pensava em fazer carreira e que pouco se importava com a sorte do povo judeu. Para ver-se livre do caso incômodo, Pilatos manipula as leis e propõe soltar um preso, conforme um costume da época! Ele esperava que o povo fosse pedir a libertação de Jesus! Mas o povo, manipulado pelos líderes, gritou: "Solte Barrabás! Condene Jesus!" O mesmo acontece hoje. A propaganda dos meios de comunicação consegue manipular os fatos de tal maneira que faz aparecer como defesa dos fracos e da paz aquilo que, na realidade, não passa de terrorismo de Estado, e vice-versa.

 
SITUANDO
A narrativa da paixão segue um critério geográfico. Marcos leva a gente pelos diferentes lugares por onde Jesus passou na sua última viagem: Betânia (Mc 14,3-9), sala da Última Ceia (Mc 14,10-31), Horto das Oliveiras (Mc 14,32-52), palácio do sumo sacerdote (Mc 14,53-72). E agora chegamos ao palácio de Pilatos (Mc 15,1-20). Esta maneira de contar os fatos ajuda a gente a guardá-los melhor na memória.

Nos anos 70, época em que Marcos escreveu, era ainda o mesmo Império Romano que estava perseguindo os cristãos. Lendo e meditando a condenação de Jesus, eles como que se olhavam num espelho e se dispunham a completar, como dizia Paulo, na própria carne o que faltava na paixão de Cristo, para assim, desde já, experimentar algo da força da sua ressurreição que vence a morte.

 
COMENTANDO
1. Marcos 15,1: Jesus é levado perante o poder romano

O processo segue o seu rumo. Conforme as leis da época, o sinédrio podia condenar alguém à morte, mas não tinha o direito de executar a sentença. Precisava da licença do poder romano. Por isso, as autoridades dos judeus decidiram levar Jesus até Pilatos, a fim de conseguir a sua condenação.

2. Marcos 15,2-5: O interrogatório diante do tribunal romano

Diante do tribunal dos judeus, Jesus tinha sido condenado por dois motivos religiosos: por ter tido que era o messias e por ter falado contra o Templo (Mc 14,58.62). Aqui, diante do tribunal romano, o motivo é outro. Eles apresentam Jesus como um messias anti-romano que pretendia ser Rei dos judeus! É um motivo político, mas fácil para se conseguir a condenação de Jesus. O poder romano era muito sensível a qualquer tipo de rebelião popular. Pilatos pergunta: "Você é o rei dos judeus?" Jesus responde: "É você que está dizendo!" Jesus não assume nem nega. É como se dissesse: "É o que se diz por aí!" Pois Jesus não era rei no sentido em que o entendiam Pilatos e os judeus. Jesus é um rei diferente. Ele reina servindo!

Em seguida, Jesus se cala e não fala mais nada, nem mesmo para se defender. Pilatos estranha. Ele não entende o silêncio, mas o leitor entende: o silêncio revela que Jesus é o Messias Servo de que falava o profeta Isaías: "Não abre a boca diante dos que o acusam" (Is 53,7). Revela também a liberdade de Jesus e o seu total desacordo com a manipulação da verdade. Revela a sua vitória sobre a morte.

3. Marcos 15,6-10: Pilatos manipula a lei em seu favor

Incomodado, Pilatos procura uma saída. Percebeu que tinham entregue Jesus por inveja e raiva. Naquela época, havia um costume, uma espécie de lei não escrita, de soltar um preso por ocasião da Páscoa. Pilatos manipula este costume em seu favor e propõe uma alternativa: Barrabás ou Jesus. "Barrabás estava preso junto com os rebeldes que tinham cometido um assassinato na revolta". Pilatos esperava que fossem pedir a libertação de Jesus. Enganou-se!

4. Marcos 15,11-15: Os chefes dos sacerdotes são mais espertos que Pilatos

Os chefes dos sacerdotes, por sua vez, manipulam o povo presente ao ato e conseguem que todos gritem: "Solte Barrabás! Cricifique Jesus!" Pilatos foi fraco. Não soube resistir, deu a sentença final e Jesus foi condenado. Como entender que os sumos sacerdotes tenham conseguido manipular o povo contra Jesus? Não convém esquecer que Jesus era da Galiléia. Tinha estado poucas vezes em Jerusalém. O povo da cidade eram empregados do Templo. Milhares de operários ganhavam lá o seu salário. O Templo era o seu ganha-pão. Jesus tinha falado contra o Templo, assim diziam, e tinha expulsado os vendedores. Por isso, era relativamente fácil manipular a opinião pública contra Jesus.

5. Marcos 15,16-20: A reação dos soldados

Depois de condenado, Jesus é esbofeteado, ridicularizado e cuspido no rosto. Aqui, novamente, aparece o Messias Servo, anunciado por Isaías, que  foi preso, cuspido no rosto e teve a barba arrancada: "Ofereci as costas aos que me feriam e as faces aos que me arrancavam a barba; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam" (IS 50,6). 

 
ALARGANDO
O poder romano na terra de Jesus

Este texto descreve o confronto de Jesus com o poder romano. No ano 63 antes de Cristo, os romanos tinham invadido toda a Palestina, que compreendia Galiléia no norte, Samaria no centro e Judéia no sul. Inicialmente, os romanos foram bem acolhidos pelos judeus. Mas, logo logo, mostraram sua verdadeira face oprimindo e explorando o povo através de tributos, impostos, taxas, dízimos e outros roubos legalizados. Por isso, de 57 a 37 A.C., em apenas 20 anos, só na Galiléia, estouraram seis revoltas dos camponeses contra a dominação romana. O povo ia atrás de qualquer um que prometia libertá-lo do peso dos romanos. As revoltas foram duramente reprimidas.

Quem ajuda os romanos na repressão ao povo revoltado, foi um tal de Herodes, que, como pagamento pelos seus esforços, recebeu dos romanos o título de rei sobre toda a Palestina e, de 37 a 4 A.C., governou sobre Galiléia, Samaria e Judéia. Para agradar aos romanos, ele promovia a assim chamada Paz Romana. Esta paz touxe uma certa estabilidade econômica para o Império e para o próprio Herodes, mas para o povo dominado da Palestina não era paz, e sim repressão brutal. Jesus nasceu no final do governo deste Herodes. Herodes, chamado o Grande, é aquele que matou as crianças de Belém (Mt 2,16).

OBS: Um frade chamado Dionísio Pequeno, do século VI, calculou a data do nascimento de Jesus. Ele errou por uma pequena margem de 5 ou 6 anos. Jesus nasceu 5 ou 6 anos antes da data calculada pelo frade.

Depois da morte de Herodes, Arquelau, seu filho, assumiu o governo sobre a judéia. O irmão dele, Herodes Antipas, recebeu o governo sobre a Galiléia. Arquelau era um homem cruel e incompetente. Já na sua tomada de posse, no dia da Páscoa, reprimiu uma reivindicação popular e matou 3 mil peregrinos na praça do templo em Jerusalém. A matança fez explodir a revolta do povo, que, duramente reprimida, provocou uma forte repressão romana. O governo de Arquelau sobre a Judéia foi muito violento. Por isso, José e Maria, depois da fugal no Egito, não quiseram voltar para Belém na Judéia e resolveram ir morar em Nazaré na Galiléia, junto com o menino Jesus (Mt 2,22).

No ano 6 depois de Cristo, - Jesus tinha em torno de 10 anos - Arquelau foi deposto pelos romanos, que estavam insatisfeitos com o mau rendimento do governo dele. Para terem um controle melhor da situação, transformaram a Judéia numa província romana, cujo governador ou procurador era nomeado diretamente pela autoridade central do Império, com sede em Roma. Para poder reorganizar a administração e atualizar o pagamento do tributo, decretaram um recenseamento, o que provocou forte reação popular, inspirada pelo Zelo pela Lei. O Zelo levava o povo a boicotar o censo e a não pagar o tributo. Era uma nova forma de resistir contra o império, uma espécie de desobediência civil. Neste período, Jesus crescia em sabedoria e idade diante de Deus e dos homens, lá em Nazaré.

Assim, e de 6 a 44 depois de Cristo, a Judéia era governada por procuradores, representantes diretos do poder romano. A maior parte dos procuradores romanos eram funcionários que não gostavam dos judeus. A forte repressão e o desprezo deles pelo povo judeu fizeram crescer o ódio anti-romano. Um deles, o senhor Pôncio Pilatos, governou de 26 a 36 d.C. Foi ele que, a pedido da elite dos judeus, sancionou com o seu poder a sentença de morte contra Jesus.

A residência dos procuradores ficava na cidade de Cesaréia, no litoral. Somente quando havia alguma ameaça de manifestação popular, por exemplo, na festa de Páscoa, eles se transferiam para Jerusalém para poder controlar melhor a situação e reprimir qualquer tentativa de revolta. É que, por ocasião da festa anual de Páscoa, aumentava no povo a expectativa messiânica e  milhares de romeiros se concentravam ao redor do Templo. Por isso, nos dias em que Jesus foi preso, Pilatos se encontrava em Jerusalém. Foi diante dele que Jesus compareceu e por ele foi condenado à morte de Cruz.


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