Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
sobre relacionamentos
Sobre relacionamentos
As lições de vida que aprendemos com a história de Abrão e Ló
O texto de Gênesis 13:1-13 nos conta sobre a separação de Abrão (que ainda não tinha seu nome mudado para Abraão, conforme Gn 17:5) e seu sobrinho Ló. Eles se separaram porque enriqueceram e estava havendo contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló (veja em Gênesis 13:7).
Para resolver o problema, Abrão propõe que eles se separem, indo cada um para um lado (Gn 13:8). Abrão deixa que Ló escolha pra onde quer ir (Gn 13:9). Ló concorda e, olhando a terra ao seu redor, escolhe a campina do Jordão (Gn 13:11), acabando por ir viver em Sodoma (Gn 13:13).
O que temos nesse texto?
1 - Há histórias de vida que vão unindo cada vez mais as pessoas. Mas há histórias de vida que vão separando as pessoas. Não é nada predestinado, mas é o resultado de nossa convivência, nossas opções, valores, sabedoria ou falta de sabedoria. É o que aconteceu aqui com Abrão e Ló.
2 - Nosso trabalho e a riqueza ou frustrações de nosso trabalho são motivos reais para unir ou separar pessoas. O conflito dos empregados de Ló e Abrão contaminou a convivência de ambos, levando-os a se separarem. Há gente que se separa por causa de dinheiro, de casa, de carro... Às vezes, é melhor ter menos coisas e mais companheirismo com as pessoas. Se por causa de um carro um casamento está ameaçado, é melhor andar de ônibus ou a pé e manter o amor da vida da gente do nosso lado.
3 - Vemos que brigas e desentendimentos acontecem até mesmo entre pessoas que se querem muito bem. O diferencial na vida de quem ama de verdade e de quem tem o temor de Deus não é a ausência de conflitos, mas a generosidade, paciência e sabedoria para enfrentá-los, resolvê-los de forma justa e amorosa, superando-os.
4 - Em algumas circunstâncias, com toda certeza, é melhor separar do que viver brigando. A separação não é a solução, mas é o reconhecimento da falta de solução. E o que não tem remédio, remediado está!
5 - Nossas decisões não podem ser tomadas baseadas apenas nas aparências e circunstâncias. Ló olhou o melhor pasto para o seu gado, mas se esqueceu de avaliar o lugar para onde ia levar sua família. Nossas decisões, certas e equivocadas, sempre afetam a vida de outras pessoas, positiva ou negativamente. Nossas decisões, portanto, devem ser tomadas em clima de oração, ou seja, de reflexão, ampla avaliação das possibilidades e conseqüências, e de diálogo com as pessoas envolvidas. Se tiver dúvidas, se não tiver conversado (tomado conselho, conforme nos ensina o livro de Provérbios nos versículos 15:22; 18:15 e 16:25) com as pessoas envolvidas e buscado a direção e orientação de Deus (leia Provérbios 19:21; Pv 16:1 e 9).
6 - A separação física não impede o amor, tal como a presença contínua e quotidiana não significa necessariamente amor e lealdade. Abraão intercedeu a Deus pela vida de Ló e de sua família, para que não fossem destruídos com Sodoma e Gomorra. Pais divorciados são capazes de amar intensamente aos seus filhos. Familiares e amigos distanciados são capazes de amarem-se enormemente uns aos outros. O bom é que as pessoas que se amam estejam sempre juntas, mas o amor verdadeiro não pode ser apagado nem pela distância, nem pelo tempo e nem mesmo pela própria morte.
7 - Ló e sua família nos mostram que o meio social, cultural e até religioso não é necessariamente determinante na vida de uma pessoa. Os maus hábitos e pecados dos moradores e Sodoma não foram determinantes na fé e na retidão de Ló e de sua família. Em Roma não fizeram como os romanos nem em Sodoma se comportaram como os sodomitas. Deus os salvou por causa de retidão e lealdade em que viviam uns com os outros e desta família para com Deus (Gn 19:1 e 7), mesmo num lugar de uma cultura e práticas pervertidas (Gn 19:5). É possível ser reto no meio de uma cultura racista, machista, idólatra, violenta, etc...
Por mais estranho e contraditório que possa parecer, Jó aceitou sacrificar as duas filhas para que os enviados de Deus pudessem ser preservados (Gn 19:8).
Mas prestemos muita atenção, pois embora o meio não defina obrigatoriamente o caráter e a cultura de uma pessoa, família ou igreja, com toda certeza é uma força muito grande e certamente há de ter sempre alguma influência. É como se diz: "A pobreza não faz ninguém ser um criminoso, mas ajuda bastante".
8 - Mesmo pessoas de bom coração e que pertencem a famílias ou grupos de pessoas retas diante de Deus dão furos e mancadas. Algumas delas irreversíveis e sem possibilidade de conserto. Embora essa história não esteja no texto de Gênesis 13, vemos a mulher de Ló desobedecer a Deus, movida por curiosidade certamente, e olhar "para trás" (conforme. Gn 19: 17 e 26). A curiosidade matou o gato...
Os genros de Ló descritos em Gn 19.14 (a verdade, os dois homens que iam casar com suas filhas), não acreditaram em Ló e permaneceram na cidade, sendo destruídos com ela.
9 - E por fim, aprendemos que decisões tomadas com a mais bondosa e amorosa das intenções podem ser um desastre, se não tiverem a orientação de Deus. O amor pelo pai e o desespero por não darem herdeiros a ele (sinal de maldição naquela época!), levaram as duas filhas de Ló a cometerem incesto (Gn 19:31-35). Em algumas noites, elas embebedaram Ló, tiveram relação sexual com ele e ficaram grávidas. (Gn 19:36). Foi uma "única vez". Mas coisas boas feitas de modo equivocado certamente não podem dar bons resultados. Os netos e também filhos de Ló foram, segundo Gn 19:37-38, Moabe e Bem-Ami, respectivamente os "pais" dos moabitas e dos amonitas, dois grandes inimigos do povo judeu, ou seja, dos primos gerados pelo "tio" Abraão, através do filho Isaque, do neto Jacó e do bisneto Judá, donde basicamente procedem os judeus.
10 - Sempre que for necessário devemos buscar ajuda nos amigos e parentes. Ló e suas duas filhas perderam tudo e por fim moravam numa caverna numa montanha. Podiam ter ido falar com o parente Abraão ou terem voltado para a Caldéia, onde ainda tinham muitos parentes (Gn 24:4)e onde Abraão manda seu servo buscar uma esposa para seu filho Isaque, a fim de que ele não casasse com mulheres cananitas.
O que podemos concluir deste estudo?
Foi por causa de uma escolha superficial, materialista e baseada em aparências que o rico Ló saiu de uma vida com qualidade para uma vida "reservada" (separada) em Sodoma. Depois, foi viver num vilarejo próximo chamado Zoar (que quer dizer "lugar pequeno"), e dali, por medo, acabou indo para as montanhas, viver escondido numa caverna (Gn 19:29-30). Com a família despedaçada, a vida familiar adoecida, a vida social inexistente e certamente sem qualquer temor a Deus, teve de ver aquelas duas crianças (simultaneamente seus filhos e netos) crescerem envolvidas em mentiras, enganos e todo tipo de pecado, pois a maneira como foram geradas era inadmissível e reprovável, mesmo em meio aos povos pagãos. Por isso, as decisões que tomamos devem considerar, antes de mais nada, os relacionamentos que construímos. E, diante das dúvidas e dos conflitos, seja a paz de Cristo o árbitro em nosso coração, como nos ensina o apóstolo Paulo em Colossenses 3.12-15: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos". Amém!
Rev Ronan Boechat de Amorim, pastor da Igreja Metodista em Vila Isabel, Rio de Janeiro.