Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Reformas e crises: a roda eclesiológica do eterno retorno

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"A Nova Reforma Protestante" matéria publicada na Revista Época.

A Reforma Protestante foi apenas uma das inúmeras Reformas Religiosas ocorridas após a Idade Média. Esses movimentos, além do cunho religioso, manifestavam a insatisfação com as atitudes e o distanciamento da Igreja vigente em relação aos princípios primordiais.

Durante a Idade Média, a Igreja cristã se tornou muito mais poderosa: interferia nas decisões políticas e acumulava altas somas em dinheiro e terras, com o apoio do sistema feudal*. Desta forma, ela se distanciava de seus ensinamentos e caía em contradições, como, por exemplo, a venda de indulgências.

A Reforma Protestante de Lutero não foi, a princípio, uma tentativa de rompimento,mas de mudanças dentro da própria instituição romana. A luta de Lutero era contra a venda de indulgências e a infabilidade papal, entre outros grandes incômodos.

Mas a recuperação da doutrina da Graça foi a grande contribuição de Lutero. Até mesmo a Igreja Católica Romana reconheceu este fato, em 1997, em conjunto com as Igrejas de Confissão Luterana. Entretanto, também os interesses políticos foram fatores determinantes para o rompimento da Alemanha com Roma. Os príncipes da Alemanha queriam que suas terras, sob o domínio de Roma, lhes fossem restituídas. Pode-se dizer, numa visão mais otimista, que um propósito escuso serviu para outro, maior.

Devemos lembrar que Lutero não foi a todo tempo o "perfeito" reformador que muitos de nós romanceamos. Quando à frente do poder, agiu exatamente como seus desafetos, como no episódio da revolta dos camponeses, em que Lutero apoiou e sugeriu o massacre de quase cem mil camponeses, os quais estavam armados apenas com enxadas, foices e ancinhos.

 

A contribuição da Reforma

Uma crise eclesiológica motivou a Lutero refletir a respeito do momento em que se vivia na Igreja. Fé, perdão e graça... São três palavras que povoaram suas reflexões  concernentes ao que a Igreja realmente necessitava.Necessidade e desejo sempre foram controvérsias da natureza humana e consequentemente, também da Igreja.

A Reforma Protestante do século VXI certamente passou por este crivo. De um lado, o desejo de poder oriundo de um sistema formado e opressor, e de outro, a Igreja, como comunidade formada por fiéis, com a necessidade do sagrado, e dele sendo privados.

Neste ponto, vemos a importância da Reforma luterana. Ainda que as motivações posteriores tenham sido corrompidas, a motivação inicial foi sincera e justa. Em Lutero, refletiu-se a consumação de uma necessidade: conhecer a Deus e vê-lo como misericordioso e bondoso. Na chamada 'Era das Trevas', o povo buscava em Deus muito mais do que simplesmente uma relação ritualística, supersticiosa e condenatória, especialmente na época próxima ao fim deste período,quando eclodiram as reformas em vista do apelo mais urgente. Contra aquele cenário desanimador, as 95 teses de Lutero embateram. Ao se posicionar contra as indulgências, ele resgatou a figura paternal e amorosa de Deus. Esse foi seu grande mérito.

 

Reformas hoje?

Estamos vivendo hoje um período turbulento. Quem negar isso, realmente não possui a sensibilidade de percepção diante de uma grande crise ou de muitas grandes crises. Não posso relatar nada sobre a Igreja na Europa, na América do Norte ou qualquer outro continente. Só posso me ater à minha própria vivência. E falando em Brasil, em Igrejas Evangélicas Brasileiras, estamos entrando em colapso teológico, doutrinário, eclesiológico e ético. A roda está fazendo sua volta.

E o cenário se repete: cada vez menos o povo tem participação na eclesiologia, cada vez mais se vendem bênçãos e perdão, seja por dinheiro, seja por fórmulas estranhas... Por falar em fórmulas, creio que nunca, desde a Idade Média, a Igreja esteve tão ligada a superstições. Há mais confiança em ritos e objetos do que na própria Bíblia.

Falar em uma nova Reforma seria tirar do seu contexto um fato historicamente importante. No entanto, conformarmo-nos e aceitarmos um claro retorno à opressão eclesiástica e à ignorância teológica e doutrinária nos traz o perigo de uma crise ainda maior: a crise de confiança em Deus. Uma das consequências mais graves de todo esse cenário pseudo-religioso armado é a decepção na relação com o Sagrado.

Não sei se caberia realmente uma Reforma, mas lançar luz em um quarto escuro ajuda a ver onde andar e onde estão os objetos mais frágeis e valiosos para que não os quebremos e depois não tenhamos como consertar novamente. Lutero não foi um herói, foi um homem que, em meio às imperfeições, serviu a um propósito maior. Um momento... Na Bíblia não temos outros tantos assim?

Não precisamos de heróis, nem de milagreiros, nem de soldados, nem de superstar... Precisamos, sim, dos imperfeitos homens e mulheres de Deus.

Por Rev. Antonio Carlos Soares dos Santos

Igreja Metodista em Açude II- Volta Redonda/RJ

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