Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

reflexão QUEM É ESSE JESUS

Quem é esse Jesus?

 

Ainda bebê, fui morar em um sanatório para crianças doentes. Cresci naquele local e só às vésperas de completar 9 anos conheci minha mãe com quem, então, passei a morar. A difícil adaptação àquela nova vida foi aumentada por um episódio que até hoje guardo na memória. Na pequena Campos do Jordão, na sexta-feira santa, o povo da cidade se colocava em fila para beijar o que chamavam de "o Santo".

 

Lembro-me de que fiquei muito assustada. O homem deitado tinha o rosto, pernas e mãos ensangüentadas e apresentava um semblante de dor e tristeza. Quando chegou nossa vez, não quis beijar-lhe os pés como mamãe mandou. "Quem é esse Jesus?", perguntei ingenuamente. 

 

Aos dez anos já era órfã. Cresci sozinha, enfrentando um mundo sombrio que não conhecia. Foi tudo muito difícil. Aos 18 anos, Deus me deu uma grande bênção na pessoa de meu marido. Depois veio o primeiro filho, Paulo de Tarso e, três anos depois do casamento, o Vinícius, meu filho número dois. Alegre, lindo, era a nossa alegria, apesar de toda luta e sofrimentos, problemas com a saúde, finanças... No ano seguinte nasceu a Júlia, a número três. Depois veio o Fernando, o número quatro. Se a vida já era difícil antes, agora então, com quatro filhos, era quase desesperadora. Em 1963 resolvemos nos mudar para uma cidade maior, com mais recursos. Uma vez instalados em São José dos Campos, procuramos a Igreja Metodista que já conhecíamos de Campos do Jordão e encontramos uma comunidade amistosa e acolhedora pastoreada pelo rev. Elias Colpini.

 

Nessa época eu continuava perguntando a mim mesma "Quem é esse Jesus? Tão machucado, sujo, feio. O filho de Deus? Como pode?".

 

Filhos chegando, filhos crescendo. Já com a filha número cinco, Patrícia, veio uma fase difícil: Vinícius adoeceu.

 

Lutamos muito. O pastor da igreja, rev. Nelson Luiz, participava de nossa luta levando o Vinícius para o tratamento no hospital público da cidade mas não víamos melhora. Foi quando soubemos da existência de um especialista recém-chegado à cidade. O atendimento era particular e o preço da consulta impossível pra nós: 120 cruzeiros. Onde conseguir valor tão alto?

 

Na madrugada daquele sábado, véspera do Domingo da Ressurreição, sentei-me na cabeceira da cama de meu filho. Ardendo de febre, ele se aconchegou no meu colo e eu fiquei ali, chorando e orando. Adormeci pensando em minha antiga pergunta pessoal: "Quem é esse Jesus?"

 

Acordei com o Beto, filho do seu João Campos, da igreja, me chamando no portão. "Vim trazer isto aqui para a senhora", disse sorrindo. Dentro do envelope encontrei um cartão com os dizeres "Feliz Páscoa" e um cheque de 120 cruzeiros assinado pelo pastor: Nelson Luiz Campos Leite. Fiquei sem fala... Foi aí que comecei a ver Jesus de verdade. Agora não mais na cruz, machucado, nem sofrendo mas vitorioso. Era Domingo de Páscoa.

 

Levei meu filho ao médico, que o internou imediatamente. O caso era mais grave e difícil do que imaginávamos.

 

 Lutamos muito mas vencemos. Em outras situações igualmente difíceis o pastor (não só o rev. Nelson mas também os outros que o sucederam) esteve conosco e eu agradeço. Vinícius cresceu, casou-se e é pai de dois lindos filhos. Lucas faz parte do ministério de louvor e Ana Frida, seguindo os avós maternos, com certeza será uma ótima educadora.

 

Ah, esqueci de falar! Também vieram se juntar a nós os filhos número seis e sete, Ricardo e Priscila. Ficamos de cabelos brancos, Chiquinho partiu. No seu funeral, assim como também em ocasiões festivas da família, bispo Nelson esteve conosco. Mas para nós ele será sempre o nosso pastor, rev. Nelson. Principalmente porque foi ele quem, num Domingo de Páscoa, respondeu a pergunta que sempre fiz a mim mesma: Quem é esse Jesus?

 

Hoje eu sei. Ele está vivo e continua dizendo "Aquietai-vos..." (Salmo 46) e "Vinde a mim..." (Mateus 11.25).

 

Ana Luzia Moreira Marques- Coordenadora da Escola de Artes Lídia da IMSJC

 


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