Somos o povo chamado metodista. É muito bom ter uma identidade, saber quem somos, saber qual é a nossa história e qual é o nosso papel. Estamos acostumamos a confundir o significado da origem do nome "metodista", enfatizando apenas uma característica. É evidente que tal nomenclatura surgiu inicialmente para caracterizar um grupo de jovens extremamente organizado e metódico. Só que essa ênfase não consegue compreender inteiramente a prática desenvolvida pelo grupo. Além dessa feição parcial, que é a menos importante, há uma outra identidade muito mais robusta e significativa.
Não há dúvidas a respeito do papel da disciplina e do método, mas este não é o centro, não é o elemento essencial responsável pelo desenvolvimento do "povo chamado metodista". Desde o início, a grande virtude sempre foi ter um alvo muito preciso a ser alcançado. Havia método, mas voltado para o propósito específico de abençoar as pessoas. Havia disciplina, mas direcionada para um fazer, para uma atividade nobre e generosa. A formalidade tornou-se relevante e necessária na medida em que conseguiu emprestar maior qualidade e eficiência ao grande objetivo de abençoar.
Creio que três características fundamentais formam a base da identidade metodista. A primeira delas está contida na frase de John Wesley, "o mundo é a minha paróquia", e revela a centralidade da missão. A segunda é a doutrina da santificação, considerada o grande tesouro depositado por Deus nas mãos do povo chamado metodista. A terceira está presente na vocação histórica para a unidade, grande marca do movimento metodista desde a sua origem.
O Metodismo é uma igreja missionária, mas não no sentido empreendedor, expansionista e feudal, que visa o fortalecimento da instituição, mas sim no sentido generoso de desejar que todos acolham a salvação que Deus oferece em Cristo Jesus. A alma do metodismo é a sua doutrina da santificação, mas não no sentido exclusivista e soberbo, que enviesa e desumaniza o olhar estendido sobre as demais pessoas. Esse olhar generoso e essa vontade de querer que todos também compartilhem do mesmo precioso tesouro indicam que o caminho da unidade é o único caminho possível. Mesmo bastante zeloso e convicto de sua doutrina, o metodismo sempre se esforçou no sentido de respeitar os demais parceiros envolvidos neste grande projeto divino.
Essas três características formam um só bloco e são totalmente interligadas e dependentes uma da outra. São três faces de um mesmo conjunto.
Preservar nossa identidade metodista tem sido tarefa muito difícil. E como está havendo em toda parte um esforço muito grande no sentido de resgatar a nossa herança wesleyana, é importante compreender que na história do metodismo no Brasil as crises invariavelmente ocorreram quando alguma dessas três características básicas foi negligenciada, quando a tarefa de abençoar foi abandonada.
Apesar de todas essas características serem fundamentais, o fato é que a doutrina da santidade, "o grande tesouro dado por Deus", sempre teve a função importante de oxigenar a vida da comunidade metodista. O próprio Wesley costumava afirmar que onde tal doutrina não era vivenciada ocorriam graves prejuízos, a sociedade metodista ficava desnorteada e começavam os conflitos.
A missão é uma identidade marcante na história do metodismo e é praticamente impossível relacionar historicamente John Wesley com uma igreja não missionária. Há um desajustamento terrível, um mal-estar, um incômodo numa igreja não missionária que se pretenda sua herdeira. É que Wesley só pode ser pensado a partir de sua ênfase missionária. Qualquer outra roupa, definitivamente, não serve. É na missão que os metodistas melhor se encontram. Fora da missão sobra tempo demais para divergências e conflitos. Fora da missão não há oportunidade de abençoar.
Na missão nós nos encontramos e partilhamos bem todos os outros temas. A unidade, por exemplo, ganha o seu verdadeiro e rico sentido quando entendida a partir de uma perspectiva missionária. A suprema vocação da igreja em sua tarefa de evangelizar o mundo é bastante atrapalhada quando se criam barreiras que restringem as oportunidades de abençoar.
Com parceiros, ao lado daqueles que confessam o senhorio de Cristo, faremos uma caminhada mais humilde, mais alegre e festiva, com espaço para gente de todos os tipos, confiados na maravilhosa graça divina. Não será uma caminhada linear, uma marcha, mas uma caminhada semelhante àquela do êxodo, uma caminhada de um povo liberto em busca da terra prometida, uma caminhada daqueles que ouviram o mesmo convite de Jesus: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mt 11,28-30).
Pastor José Carlos Barbosa,
professor da Universidade Metodista de Piracicaba |