Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
quem é você
Entretanto, ser reconhecido pelo próximo pode evoluir para um secreto desejo de impressionar, não com o que somos, mas com o que queremos que pensem que somos. Ou seja, a questão não é apenas o que eu faço, mas o que sou. Algumas pessoas, por força do talento ou vocação, estão expostas como uma vitrine, e o perigo de haver um abismo entre a "aparência" e o "ser" se torna ainda maior.
Sacerdotes, pastores, músicos, e até mesmo o fiel em suas atividades paroquiais são sérios candidatos a uma perigosa cisão da personalidade.Assim como os artistas, eles também estão diante de um público que aprecia quem tem poder e carisma. Mas estes também voltam para casa, pois há uma existência a ser vivida longe dos holofotes e do olhar admirador dos que o cercam.
O espelho mostra quem somos, e é nele que vemos refletido nossa dor e o cansaço do ser. Por mais que disfarcemos, estão lá. É inevitável: o ator, o cantor, o palhaço quando deixam o palco, depois de encantarem multidões, terão reencontrar-se consigo mesmos, longe de todos que o aclamam. E à medida que o personagem sai de cena, começa a aparecer o ser.
Foi uma grata surpresa ouvir recentemente uma música gospel com conteúdo, coisa rara de se ver ultimamente. Fugindo dos chavões característicos, ela me golpeou com uma pergunta fatal:
Depois de pregar seu lindo sermão
E de cantar a última canção
Quando você volta pra casa
E ninguém mais que você
Precisa impressionarestá por perto
Quem é você?
Quem é você quando ninguém vê?
Quem é você?
Não é possível fugir a essas questões, a menos que nos acovardemos e queiramos passar o resto de nossos dias vivendo um personagem oco, vazio e triste.
Talvez ninguém mais que Michael Jackson tenha tentado manter um personagem irreal, um menino permanentemente infantilizado que não queria crescer, sempre "trocando" o verdadeiro rosto que envelhecia, e vivendo refém de suas ilusões. Viver uma persona sem reconhecer quem se é realmente, é de uma solidão e angústia sem fim, que só encontrará um certo prazer enquanto representa.
Não conheço nenhum espelho melhor que o Evangelho de Cristo. Ele desnuda, radiografa, mapeia o nosso ser. Dele nada posso esconder. Nele me enxergo na figura do homem de mão ressequida que não tem como ser solidário a ninguém. Nele reconheço minha cegueira, incapaz que sou de olhar e ver com bons olhos, e me pego como a prostituta que vende a alma por alguns momentos de prazer.
Saber quem eu sou, ao mesmo tempo que entristece, liberta. O rei Davi se considerava piedoso e temente a Deus. Certo dia o profeta Natã foi ao seu encontro e contou-lhe uma parábola sobre um homem cruel e injusto. O rei se revoltou e prometeu dar cabo daquela criatura abjeta. Mas, Natã, corajosamente aponta para o rei e lhe diz sem meias palavras: "Tu és o homem!" (2Sm 12.7).
Precisamos de um ser amoroso que nos diga quem somos, pois há fortes defesas que nos impedem de encarar nossa miséria.Foi preciso que Alguém lá de cima descesse à Terra para me dizer que sou pecador, invejoso, rancoroso,persigo fantasias e troco diariamente a glória de Deus por qualquer bobagem.
Michael Jackson queria "perder-se" de sua história, apagando do rosto tudo o que lembrava o passado. Deus não pretende destruir quem eu fui, mas usar esse material que servirá de base para aquilo que o Espírito estará formando em nós. É doloroso, mas é a forma que Ele escolheu para agir.
Tenha a coragem de responder: "Quem é mesmo você?". Não importa a resposta, desde que você entregue ao Oleiro esse vaso torto, rachado e sem valor. Ele é especialista em trabalhar com massas informes desde a criação. Conceda ao Eterno a permissão de trabalhar em você, pois "como o barro do oleiro, assim sois vós na minha mão" (Jr 18.6).
Pr. Daniel Rocha
P.S.: quem desejar ouvir a música que mencionei, clique no link
http://www.youtube.com/watch?v=JGFn6nW7uDk&feature=related