Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Projeto SOL África

 

 Projeto Sol África

Esperança de um novo tempo para a Igreja Metodista em Angola e Moçambique

 

Rev. Salvador Bacar Catine, Diretor de Educação Cristã e Evangelização da Conferência do Sul de Moçambique.

 

E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor a nosso Deus....

 "Só tenho motivos para agradecer a Deus pelo Projeto Sol África", diz o reverendo Salvador Bacar Catine, Diretor de Educação Cristã e Evangelização da Conferência do Sul de Moçambique. Ele nem precisava expressar seu contentamento com palavras. Seu largo sorriso já diria tudo. O Reverendo Salvador esteve no Brasil entre os dias 19 e 23 de outubro para participar de uma reunião de avaliação do Sol África, projeto de apoio à educação teológica de Angola e Moçambique, desenvolvido pela Faculdade de Teologia da Igreja Metodista no Brasil e Junta Geral de Educação Superior e Ministérios da Igreja Metodista nos Estados Unidos.

Em sua primeira visita ao Brasil, o pastor afirma que se sentiu em casa ainda no aeroporto e atribui à proximidade afetiva e cultural entre Brasil e África um dos grandes fatores de sucesso do projeto. O Reverendo Salvador conta que nenhum dos países vizinhos que circundam Moçambique fala português, o que dificulta o intercâmbio de experiências e material de ensino. "Sentimo-nos isolados e nosso desenvolvimento em termos de literatura é muito reduzido". Ele explica que há poucos livros de produção local, em português, e muitas necessidades às quais a Igreja Metodista em Moçambique busca atender.  Aids, gravidez precoce, desemprego e falta de motivação dos jovens para prosseguir nos estudos são alguns dos problemas que pedem a ação missionária da Igreja Metodista. E missão requer capacitação.

Pelo Projeto Sol África, professores/as em seminários teológicos metodistas em Angola e Moçambique passam um período de três meses no Brasil, na Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo, realizando estudos tutorados e observação de salas de aula nas áreas de Bíblia, Teologia Sistemática e Estudos Wesleyanos.Retornam ao país de origem com a mala repleta de materiais de ensino, entre Bíblias, revistas de estudo bíblico e CDs. O Reverendo Salvador recebeu materiais didáticos para Escola Dominical e Escola Bíblica de Férias como quem recebe um tesouro de valor incalculável. E chegou a se emocionar quando ganhou de presente uma Bíblia de estudos. É fácil entender: em Moçambique não há Bíblias suficientes sequer para os/as estudantes de seminários teológicos, que precisam compartilhar as poucas edições disponíveis.

Mas o que mais anima o Diretor de Educação Cristã é a capacitação de pessoal e a possibilidade de formação contínua, o que pode dar uma nova perspectiva para a educação teológica na África. Ele conta que, dos 140 pastores e pastoras que atuam em Moçambique, não chega a 30 o número daqueles/as que têm licenciatura e 15 os/as que cursaram mestrado, e não necessariamente em Teologia. "Moçambique não tem nenhuma Faculdade de Teologia, a maioria fez licenciatura em outras áreas". Uma saída, diz ele, é estudar Teologia no Zimbábue ou na África do Sul, o que requer pelo menos um ano de adaptação prévia e aprendizagem do idioma.  No Brasil, tão logo o/a estudante chega à Faculdade, ele/a já inicia o estudo dos conteúdos, o que representa economia de tempo e recursos.

Desde 2008 já passaram pelo projeto 12 pastores e pastoras, dois quais oito já concluíram os estudos. Apesar do curta temporada no Brasil, apenas três meses, a mudança na qualidade do ensino pôde ser sentida de imediato.   "Houve um impacto no modo como eles preparam as lições e transmitem as matérias. Muitos não tinham nenhuma experiência com o ensino antes de serem nomeados para atuar no seminário. Depois desse período de estudos na Faculdade de Teologia, eles melhoraram muito a capacidade de ensinar", atesta Salvador. Para ele, ainda mais animador é saber que os/as professores/as que passaram pelo programa Sol África são potenciais multiplicadores dos conhecimentos que adquiriram. "Nos encontros com outros pastores, eles já estão trocando experiências. Eles podem formar outros professores. E a vinda de docentes da Faculdade de Teologia, já agendada para o próximo ano, nos dará ainda maior impulso."

 

Saul Espino, representante da Junta Geral de Educação Superior e Ministérios da Igreja Metodista Unida.

 

muitos verão essas coisas, temerão

e confiarão no SENHOR" (Salmo 40:1-3).

"O objetivo do trabalho conjunto de Brasil, África e Estados Unidos é fazer discípulos de Cristo para a atuação no mundo", diz Saul Espino, representante da Junta Geral de Educação Superior e Ministérios da Igreja Metodista Unida, uma das parceiras do projeto. Ele veio ao Brasil para conhecer os resultados apresentados pelo projeto e ficou animado com o que viu e ouviu.  "Estamos desenvolvendo líderes que se capacitem em seu contexto. Neste processo, a literatura que se envia do Brasil é muito efetiva. O curso na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista no Brasil provê os elementos básicos para treinar líderes que, depois, replicarão seus conhecimentos na África de língua portuguesa. É um esforço que se multiplica".

O Reverendo Saul explica que o programa tem custo relativamente baixo comparado às possibilidades de aproveitamento e multiplicação dos treinamentos recebidos, potencializadas pela proximidade cultural dos países. "Falando com os representantes de Angola e Moçambique chego à conclusão que o laço fraternal é muito intenso entre as pessoas de fala portuguesa. São países que têm histórias e também muitos sonhos comuns". Para ele, esta relação com o Brasil, "país que cresce economicamente e em prestígio" é de vital importância. Além da hospitalidade (chegar aqui é como encontrar família") o Reverendo Saul afirma que um outro aspecto da Faculdade de Teologia que chama a atenção é seu alto nível educativo e teológico. "Este projeto é um presente de Deus ao mundo. A disposição da FaTeo de oferecer ajuda para caminhar com os irmãos e irmãs de Angola e Moçambique me enche de alegria". Do lado americano, a disponibilidade é a mesma:  "Minha recomendação pessoal é que o programa  continue e que se possa expandir, que se multiplique o treinamento".

Mas não são apenas os/as irmãos/as africanos que se beneficiam com o Projeto Sol-África. "Nossa Junta também aprende neste processo", destaca Saul Espino. Para toda a comunidade da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista no Brasil, a convivência com irmãos e irmãs vindos do outro lado do oceano também tem sido uma rica oportunidade de aprendizado, intercâmbio cultural e comunhão fraterna. E a próxima etapa do projeto já está agendada: em junho de 2010 um grupo de professores brasileiros ministrará um curso na África.

Como o autor do Salmo 40, Angola e Moçambique ainda podem dizer que "são pobres e necessitados". Mas, tal como o salmista, eles também têm a certeza de que, por intermédio da união de irmãos e irmãs metodistas de outros países, o Senhor está cuidando deles.

 

Texto e fotos: Suzel Tunes


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