Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Práticas Pedagógicas Enoque

 Veja também no final do artigo: Kary (aluna do 4º ano de teologia) foi entrevistada para uma TV do Grande ABC

Artigo: Enoque Rodrigo de Oliveira Leite

Introdução

Nos últimos tempos, o tema da inclusão tem sido de bastante relevância nos mais diversos seguimentos da sociedade brasileira. È preciso dizer que muita coisa já foi feita e ainda há muito que fazer. Penso que a igreja precisa ser a principal agente de inclusão em vários aspectos, como: social, educacional, religioso, entre outros.

Respeitando o curto espaço de tempo, que não viabiliza uma análise mais profunda do tema em questão, o presente trabalho, deseja oferecer, de maneira sucinta e simples, uma ferramenta teórica e pratica, visando tornar a inclusão cada dia mais real em nossas igrejas e sociedade, não desprezando as ferramentas técnicas, mas dedicando-se a falar mais da experiência pessoal.

O Evangelho Para Todos e Todas

Desde o inicio do cristianismo, o Evangelho sempre teve uma característica universal. Jesus, quando chama seus discípulos, manda que estes preguem por todos os lugares. Em Mateus 28.19-20 Jesus reafirma esse ensinamento, dizendo: "Portanto ide e fazei discípulos de todas as nações". Em Atos 1.8 é, sem duvida, o grande marco da universalidade do Evangelho: "...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria e até os fins confins da terra".

O testemunho em todos os lugares da Terra ou a pregação do Evangelho se constitui nas diversas formas como se evidencia a presença do Reino de Deus por meio do seu povo. Presença essa que traz dignidade a vida, traz igualdade, unidade, fortalecimento e estreitamento dos vínculos afetivos e sentimento de compromisso mútuo. Portanto pregação não é somente anuncio verbalizado, mas o anúncio vivido promovendo a dignificação das pessoas.

Creio que falar do aspecto inclusivo do Evangelho de Jesus seja "chover no molhado", porém, movido pela singeleza da causa, a lembrança nos faz bem. Um dos títulos dados a Jesus pelos fariseus era o de "amigo de pecadores", pois ele os acolhia e os ensinava com todo o amor. O perdão oferecido a uma prostituta quando todos a condenavam (João 8.1-11) e, também, quando os discípulos desvalorizavam as crianças, Jesus disse: "Deixai vir a mim os pequeninos, pois destes é o Reino de Deus" (Lucas 18.16). Em Lucas 18.35-43, Ele parou para dar atenção especial a um cego que estava à beira do caminho. Ainda em Lucas 19.1-10, Jesus dorme na casa de Zaqueu. Se eu fosse continuar a analise, as referências seriam muitas, porém é importante afirmar que, para Jesus, as pessoas sempre estiveram em primeiro lugar. Ele amava a todos/as de maneira muito especial e tratava a cada um/a de acordo com suas respectivas necessidades.

 

Cristãos e Cristãs Movidos/as Pelo Espírito Acolhedor

            Em minhas palestras sobre o tema da inclusão, tenho sido enfático ao afirmar que: "inclusão não acontece através de decretos, mas ela ocorre de fato quando as pessoas são inclusivas". Com certeza é preciso voltar ao inicio da igreja, onde todos/as eram recebidos/s, compartilhavam tudo, promoviam a igualdade de vida social e comunitária. Infelizmente, muitas vezes, as pessoas na igreja têm sido bastante excludentes e legalistas, é preciso ter claro em nossas mentes que a igreja é feita para receber pecadores com desejo de transformação.

            Uma vez sendo bem recebido/a e contagiado/a pelo amor duradouro de Deus e dos irmãos/ãs ela passa a cumprir seu papel fundamental que é de ser agente de transformação e integração na sociedade e comunidade de fé em que se vive. Portanto precisamos anunciar a graça acolhedora de Deus á todas as pessoas e, jamais, a igreja assumir o papel de juiz.

           

A Deficiência nas Comunidades

Na realidade das igrejas sobre a questão das deficiências, uma das grandes barreiras ainda é a da interpretação e equivoco teológico. È comum às pessoas associarem deficiência com castigos de Deus, e um erro mais grave ainda é acreditar em maldição hereditária, fazendo uma interpretação deturpada do texto de Deuteronômio 5.8-9.

            Em João 9.1-41, os discípulos ao verem um cego, perguntam a Jesus: "Quem pecou, este ou seus pais?". Jesus disse: "Nem este, nem seus pais, isto aconteceu para que a glória de Deus fosse manifestada nele". A manifestação da glória de Deus é maior ainda quando, independente da dificuldade que a pessoa tenha, ela sirva a Deus com alegria e excelência. A cura é bíblica e precisa ser uma realidade entre nós, porém a maior de todas as curas é, sem dúvida alguma, a do coração e da alma.

            A revista Veja disse que, dos 25,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil, aproximadamente 48% delas, se tornaram deficiente devido a precariedade da saúde publica brasileira. Portanto, não cabe a nós entender todos os mistérios de Deus, mas o que Deus não vai entender de nossa parte, é quando não abrimos o coração para amarmos e acolhermos essas pessoas.

 

Preparação Para Recepção de Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais

Conforme já foi abordado nesse trabalho, as maiores barreiras são, sem sombra de dúvidas, as atitudinais, porém agora farei menção aos aspectos viabilizadores da recepção e integração das pessoas com deficiências.

Acessibilidade: Espaço Físico

È de nosso conhecimento a questão da acessibilidade. Ela é amparada por leis, que no ano de 2009 serão mais fiscalizadas, no entanto, constatam-se que a maior parte dos estabelecimentos públicos não estão adequados as normas das leis de acessibilidade. Na realidade das igrejas, as condições também são bastante precárias. Creio que todos/as precisem abraçar essa causa tão nobre, planejando as novas construções e adaptando as construções já realizadas com rampas, banheiros para cadeirantes, dentre outras. È importante frisar que é necessário obedecer as normas e orientações das leis de acessibilidade como, por exemplo, o grau de inclinação de uma rampa ou medida de um banheiro para cadeirantes.

Acolhida

È fato indiscutível que o espírito acolhedor é o mais eficaz instrumento da inclusão, entretanto, a preparação não pode ser desprezada em hipótese alguma. Igrejas e instituições precisam investir em capacitação, com palestras sobre os aspectos das deficiências. Em seus departamentos especiais, oferecer cursos como libras, braile e sobre características e peculiaridades de cada deficiência como, por exemplo: síndrome de daw, autismo, entre outras.

Inclusão e Integração

            O processo de inclusão da-se quando um determinado grupo, classe ou organização, procura inserir outro grupo, classe ou organização. O processo chamado de integração é responsável por fazer com que as pessoas, grupos ou organizações incluídos sejam colocados em igualdade com os demais e possam interagir de forma igualitária. Infelizmente, hoje em dia, tem acontecido bastante inclusão, porém pouca integração. Não basta inserir uma determinada pessoa no grupo A, B ou C, mas é preciso oferecer a esta pessoa, condições de obter o mesmo aproveitamento que os demais.

Tratamento "Diferenciado" e Especial

Ser diferente na verdade, não é somente por ter esta ou aquela deficiência, mas todos/as nós somos indivíduos e temos características próprias, DNA?s diferentes, CPF?s diferentes. A palavra diferente nos assusta, entretanto ser diferente não significa ser melhor ou pior, mas significa ser humano. Não podemos tratar os diferentes iguais. Ao fazer tal afirmação quero dizer que é preciso respeitar a individualidade de cada deficiência ou pessoa.

O principal mandamento de Jesus é de que devemos amar a todos/as de maneira igual. Entretanto, acredito que, amar de maneira igual, não significa tratar de maneira igual, pois cada ser tem sua individualidade e necessidade e, claro que, capacidade. O sentimento que jamais pode existir por parte das pessoas "normais" é o de pena ou de subestimar a capacidade de qualquer pessoa que seja. Quando falamos em tratamento especial, no caso da educação em especial, é oferecer maneiras para que a pessoa dentro da sua deficiência consiga superar todos os obstáculos e explorar o máximo de suas potencialidades. "Todos nós temos o direito de ser diferentes, mas o dever de andar sempre juntos".

Conclusão

Conforme já disse no inicio desse trabalho, o objetivo do mesmo era dar, de uma maneira simples, um panorama sobre os mais diversos aspectos pertinentes as questões da inclusão. Creio ter cumprido esse objetivo e desejo que a cada dia haja mais discussão e aprofundamento sobre o tema acima referido e que a inclusão seja sempre acompanhada pelo processo de integração.

Que as barreiras atitudinais sejam quebradas juntamente com todo o tipo de preconceitos. Que nós, enquanto igreja não pautemos nossas ações somente porque existe uma lei, mas porque o amor de Cristo nos faz ver todas as pessoas de maneira especial.

Sejas tu, os olhos dos que não vêem;

A boca dos que não falam;

As mãos daqueles que não podem pegar;

Os pés daqueles que não podem andar;

Que possamos ser pessoas pró-ativas, ir ao encontro, como disse Jesus no Evangelho de Marcos 3.3b: "Levanta-te e vem para o meio". Que o espírito cristão de acolhimento e amor seja nossa marca. Lute conosco na construção de uma igreja para todos e todas, não somente no aspecto da deficiência, mas para todas as pessoas.


 Veja também:

 

Kary (aluna do 4º ano de teologia) foi entrevistada para uma TV do Grande ABC (Clique no primeiro vídeo à esquerda ao abrir o link).


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