Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

pra não dizer que não falei das flores

 

   Atualmente a presença da mulher na vida da Igreja é algo bastante comum e notável a todos e todas. Porém, no Ministério de Jesus a participação das mulheres foi algo escandaloso e admirável. E há razões para tanto espanto. Nas páginas da Bíblia, regadas por interpretações equivocadas a respeito da participação da mulher na consumação da Queda do ser humano diante da Graça de Deus, sempre a colocou como principal responsável por este fato desastroso, relegando assim a sua história e sua vivência no texto bíblico a uma condição em segundo plano.

Diante da Lei Mosaica a mulher era vista mais como uma propriedade adquirida do que como uma companheira de caminhada: "Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seus servos e servas, nem teu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença" (Êxodo 20.17). E adiante, salvo alguns lampejos da ação e desejo de Deus pela igualdade entre ambos, homens e mulheres, a situação da mulher não muda dentro da história de Israel.

Mas, no Ministério de Jesus as mulheres ganharam espaços jamais antes concedido a elas. Culturalmente nada havia mudado nas regiões da Galiléia e Judéia. Mesmos costumes, até mesmo um rigor maior na Lei Mosaica era percebido. Mulheres não eram contadas e a vida seguia assim. Jesus trouxe uma nova perspectiva na visão que se tinha do ministério feminino. A uma mulher que há dezoito anos andava encurvada (Lucas13. 10-17), chama de Filha de Abraão, ou seja, filha da Promessa. Com a mulher Samaritana (João 4.4-26), Jesus trava um dos mais belos e ricos diálogos das páginas da Bíblia. Exaltou a viúva (Lucas 21.1-4) que ofertou tudo que tinha. Foi ungido em Betânia (Marcos 14. 1-9) pelas mãos sinceras de uma mulher. À mulher adultera (João 8.1-11), concede o perdão, e declara que ela não era mais pecadora do que os mentirosos, os invejosos, os intolerantes, os acusadores...E até mesmo se curvou diante da humildade de uma mulher-mãe siro-fenícia (Marcos 7.24-30), que rogou apenas por algumas migalhas, por sua filha, não por ela mesmo, apenas um minuto de atenção à sua dor e desespero. Impossível negar: Jesus soube dar um lugar de destaque à mulher em sua missão de evangelização e salvação.

No entanto, foi na Paixão e Páscoa que a presença feminina ganhou moldes definitivos de valor imprescindível dentro do cristianismo. Foram nesses momentos, em particular, que mostraram que a fidelidade a qual mostravam até então, transpassava a euforia da multidão diante dos milagres que assistiam.

Na multiplicação dos pães e peixes, uma verdadeira multidão se aglomerava para ouvir ou, ao menos ver a Jesus. Cinco mil a contar e talvez mais cinco mil não contados. Fartura, comida, o sobrenatural acontecendo...Mas veio a cruz, e com ela a ausência, a multidão se foi, o alvoroço sumiu, os gritos se calaram. Apenas um madeiro e...ao pé da cruz quatro figuras revelavam que Jesus não estava sozinho. Quatro mulheres (João 19.25) permaneceram fiéis até o momento da cruz. Multidões seguem Jesus na multiplicação, mas os verdadeiros discípulos sabem que existe a cruz. Sem ela, não há cristianismo. Quatro mulheres dignas de serem mencionadas: Maria, a mãe de Jesus; a irmã dela (Joana?); Maria, mulher de Clopas e Maria Madalena. Ao pé da cruz, elas choravam o amor partido, o bem calado, a justiça castigada...Mas ainda assim estavam ali firmes. Aqui começava a se desenhar a força do ministério feminino na história da Igreja de Jesus. Já na cruz a história da mulher mudava, assim como a própria história mudava com a manifestação de Deus por meio de Jesus Cristo.

Maria Madalena foi a primeira a ver pedra do sepulcro removida, foi a primeira a falar com Jesus depois da ressurreição e foi a primeira a anunciar que Ele estava vivo e dessa forma também estava viva a Palavra que é capaz de transformar toda uma realidade. Páscoa da Ressurreição!Nada mais justo do que, em Maria Madalena, as mulheres recebessem a incumbência do anuncio da ressurreição daquele que tanto as valorizou. Maria Madalena levou a mensagem de que a Morte não é maior que a Vida...Lucas e Marcos revelam que não apenas Maria Madalena, mas outras mulheres, como Salomé e Maria, mãe de Tiago, presenciaram em primeiro lugar o milagre do Sepulcro Vazio. Mas a narrativa de João, onde Maria Madalena é a personagem, comove pela beleza das palavras. Ao chamá-la pelo nome (João 20.16) Jesus parece convocar todas as mulheres, todas as Marias sofridas, esquecidas, mas também as esperançosas, lutadoras. "Maria!" disse Jesus, "Vá e anuncie que estou aqui". A mulher em sua sensibilidade guerreira, onde é capaz de entender e ouvir melhor os sinais do Reino de Deus nos conduz a uma dimensão onde o mais importante é a Mensagem e não a sistematização de dogmas.

Hoje em nossas igrejas vemos o impacto da Mensagem do Evangelho nas mulheres. São elas a grande maioria a compor a assistência e os ministérios das igrejas locais. Ainda impulsionadas pelo chamado de Jesus... tantas são chamadas e uma mesma vocação: Vá e diga que estou vivo! Em meio às lutas travadas no decorrer da história, aquele momento diante do sepulcro vazio parece dizer que a fidelidade na tristeza é recompensada com a alegria da Ressurreição. E assim as flores vão nascendo ano após ano, na Páscoa de Jesus as flores anunciam a Vida quando Ele as chamam pelo nome: Maria, Tereza, Eva, Margarida, Joana, Regina, Fernanda... Antes de qualquer outro, Jesus já falava das flores!

Pastor Antônio Carlos Soares dos Santos

Igreja Metodista em Açude II, Volta Redonda


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