Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Povos indígenas

Silas Moraes fala sobre o Grupo de Trabalho Missionário Evangélico

Silas Moraes é membro de uma tradicional família metodista do sul do país. É filho do pastor Cláudio Moraes, irmão do bispo Stanley da Silva Moraes, sobrinho do bispo Oswaldo Dias da Silva. Todos oriundos da Segunda Região Eclesiástica.

 

Contudo, já faz 16 anos que Silas só sente o frio dos pampas quando está de férias. Desde 1993 dedica-se à missão indígena no norte e nordeste do país. Atualmente é secretário do GTME, Grupo de Trabalho Missionário Evangélico, uma organização não governamental dedicada à capacitação e ao fortalecimento das ações evangélico-protestantes junto aos povos indígenas no Brasil.
Em sua história o GTME contribuiu para a formação de pastorais indigenistas vinculadas às Igrejas Metodista, Luterana, Anglicana e Presbiteriana. Silas esteve na Sede Nacional da Igreja Metodista, em conversa com a Secretária para a Vida e Missão da Igreja, Revda. Joana D'Arc Meireles, para assessorar o Projeto Mimeka (Missão Metodista Kanamari) na Amazônia.

Em entrevista ao jornal Expositor Cristão, ele mostra uma ousadia que não se manifesta nem nas palavras (ditas com tom de voz baixo e tranqüilo), nem nas expressões (contidas, quase tímidas). A ousadia deste indigenista manifesta-se tão somente no profundo compromisso com os valores do Reino de Deus.

Quando você começou seu trabalho com os povos indígenas?

Minha decisão tem a ver com a própria história da minha família. Minha prima Rosinha (filha do bispo Oswaldo) já atuava com os povos indígenas de Dourados nos anos 80. Em 1992 eu comecei um curso de formação indigenista de 9 meses por meio de uma parceria entre o GTME e a OPAN (Operação Amazônia Nativa). Então, eu e Marcos Wesley apresentamos à Igreja Metodista uma proposta de atuação entre o povo kanamari, de Eirupené, Amazonas. É uma região isolada, próxima ao Acre.

E como era a atuação missionária nesta região?

Nosso trabalho consistia, basicamente, em apoio na área educacional, economia, organização social e saúde. Na região onde eu ficava havia cerca de mil pessoas, que viviam de agricultura de subsistência, com muitas carências que nem sempre o Estado supria. Quando a Igreja chegou, a terra ainda não estava demarcada.  Hoje há mais terras demarcadas. Um de nossos esforços consistia em melhorar a produção agrícola para conseguir mais renda. Também ajudávamos na reivindicação de uma escola própria, bilíngüe e que respeitasse o calendário da comunidade. O interesse mais imediato da comunidade indígena era o conhecimento da cultura branca, mas o meio para chegar a esse conhecimento é a cultura materna. O indigenismo sempre foi muito baseado nos ensinamentos do educador Paulo Freire.

Em 2000 você foi trabalhar com o povo tremembé. Sentiu muita diferença?

Sim, há muitas diferenças. Fiquei de 1993 até janeiro de 1999 entre os kanamari. No ano de 2000 assumi o trabalho junto aos tremembé, do Ceará. Os tremembé tem 300 anos de contato com a cultura branca, perderam seu idioma, não tem a posse da terra. Estão espremidos em 10% do território. Os tremembé dependem de programas sociais do governo porque não têm terra para plantar. É uma realidade bem diferente, mas com traços em comum: compartilham-se valores como ouvir o mais velho, o respeito à criança, a valorização da liberdade.

Como se dá a parceria entre a Igreja Metodista e o GTME? E o que a igreja pode fazer pelos(as) indígenas brasileiros(as)?

O GTME dialoga com a Sede Nacional da Igreja Metodista e também participa do CLAI, o Conselho Latino Americano de Igrejas. Buscamos articular a ação das igrejas e pretendemos promover um evento, inicialmente em julho, para reforçarmos essas alianças. É importante reforçar trabalhos específicos, mas também despertar para as realidades locais. Por exemplo: em Santa Maria, Rio Grande do Sul, onde mora minha família, circulam muitos indígenas pela cidade, que encontram apoio em grupos de solidariedade ecumênica. Em quase todas as cidades podemos encontrar grupos indígenas que precisam das igrejas locais. E essa situação está cada vez mais presente, à medida que as zonas urbanas crescem em direção às aldeias. Em Cuiabá, Mato Grosso, o GTME tem uma casa de trânsito para universitários(as) indígenas que vão estudar na capital.

Em sua opinião, como é possível conciliar a missão evangelística da Igreja com o respeito à cultura indígena?

Pelo diálogo. O diálogo inter-religioso continua um desafio. Mas ele é fundamental, pois nasce do respeito mútuo. Não podemos pensar que só o cristianismo tem a ensinar. É necessário estar aberto para ouvir e aprender também.No GTME, não concordamos com a imposição da verdade. Mas isso não significa que a igreja não possa se apresentar aos povos indígenas e que estes venham a buscar a igreja, como já tem acontecido. Precisamos estar dispostos a ouvir e servir.

Mais informações sobre o trabalho do GTME pelo endereço: Rua Lapa, 409, Cuiabá/MT-CEP 78008-830 gtme@terra.com.br

Veja também:

 

• Capa da revista "Nossa cara de índio", publicação que o GTME está republicando. Com linguagem acessível e totalmente ilustrado, ela fala das nações indígenas existentes no Brasil e do trabalho missionário feito pelas igrejas evangélicas.

Semana dos Povos Indígenas lembra povo Guarani

"Como cantar em terra estranha". Uma reflexão do Bispo Scilla Franco - Publicado na integra no boletim do GTME, setembro de 1982, e no livro MINHA PRECE, p.67/68. Colaboração: Missão Tapeporã.


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