Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Poesia não morre
Teólogo, psicanalista, educador, nos últimos anos Rubem Alves não tem se importado com estes títulos. Ser lembrado como poeta já lhe basta. "Quem experimenta a beleza está em comunhão com o sagrado", diz um de seus textos. E a poesia, ele sabe muito bem, é uma das formas de expressão da beleza com a qual Deus presenteou alguns de seus filhos e filhas.
Déa Kerr Affini e Jaci Correia Maraschin estão entre esses irmãos e irmãs a quem Deus conferiu o dom da poesia. Faleceram, beirando a casa dos 80 anos, com poucos dias de diferença: o professor Jaci no dia 30 de junho; dona Déa no dia 3 de julho. E depois que eles morreram, muitos textos, publicados em sites e blogs, falaram de suas vidas, dedicadas à música e à poesia.
Regente de coral, escritora, contadora de histórias, a "tia Déa" encantava crianças e adultos com seu jeito doce, a alegria no olhar, transmitindo o amor de Deus por meio de várias publicações (a revista Voz Missionária, entre elas) e produções artísticas da Igreja Metodista. Jaci, pastor anglicano e professor da Universidade Metodista por 35 anos, tem seus versos cantados por irmãos e irmãs de muitas igrejas e países. Os textos escritos em sua homenagem trazem trechinhos inesquecíveis, como esse verso da canção Lavapés:
Na poeira das estradas desta vida,
Vem nossos pés lavar, tão doloridos;
Vem dar-nos mãos que acalmem a ferida
Dos que ainda longe estão de ti, perdidos.
Curiosamente, os textos escritos em homenagem a esses dois irmãos têm uma característica: eles também são poéticos! Jaci e Déa são lembrados em textos suaves, que falam de sentimentos, trazem lembranças do passado, olham com esperança para um futuro onde esses irmãos estarão sempre presentes por meio de sua obra. Na realidade, são textos que trazem poucas informações de ordem "prática": que idade exata eles tinham? De que morreram mesmo? Onde foi o velório? (Jaci já havia deixado uma recomendação: não queria velório) Ah, mas será que isso importa? - parecem dizer esses textos. Importa como viveram e a poesia que deixaram por onde passaram, como pequenos e perceptíveis sinais do sagrado imenso. De alguma maneira, as pessoas que homenagearam o professor Jaci e da dona Déa perceberam a mesma coisa: poesia não morre.