Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

pentecostes

Há algum tempo surgiu um tipo de "pegadinha" em que um suposto entrevistador perguntava a opinião do transeunte sobre um assunto mais que inverossímil: absurdo mesmo. Alguma coisa como a vida sexual das minhocas do planeta Marte ou uma nova experiência que estaria sendo testada por químicos norte-americanos... Quem assistia ou ouvia no rádio se divertia quando o incauto tentava explicar e justificar sua palavra com argumentos que só faziam incentivar novas investidas do falso repórter.

Pensei que uma boa dessas peças se daria assim:

- O que é que você achou da longanimidade do time no jogo de ontem?

- Ah, achei boa, né. Massacrou.

- Boa? Boa o quê?

- Isso aí que você disse. Como é que é mesmo?

- Longanimidade.

- Pois é! Achei meio longa mesmo. No primeiro tempo o time estava muito lento.

- Mas e a longanimidade na hora do segundo gol?

- Ah, essa foi demaaais, mano!, diz enquanto começa a pular e gesticular na frente da câmera: "Timão, eô, Timão, eô..."

 

Longanimidade é, de fato, uma dessas palavras que todo mundo da igreja já ouviu falar mas que...

- Eu sei que tem na Bíblia!, responderia um juvenil quando a professora da Escola Dominical perguntasse "Quem sabe o que é longanimidade?"

Outros, mais antenados, talvez se lembrassem tratar-se de uma das qualidades resultantes da ação do Espírito Santo em sua vida conforme lista do apóstolo Paulo registrada em sua carta aos gálatas: Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade...

- Não falei, não falei?, interrompe o que tinha dito estar na Bíblia.

- Tá bom, tá bom. Mas o que sig-ni-fi-ca a palavra longanimidade?

-( . . .)

- Quem sabe?

-( . . .)!?

Há alguns anos, meu filho Joaquim aprendeu o significado da palavra "serenata" de uma maneira bastante interessante: vivenciando e experimentando seu significado. Estávamos dormindo quando, de madrugada, fomos despertados por um grupo de instrumentistas e cantores que nos brindaram com uma serenata.

- O que é isso? Que música é essa?, perguntou quando nos encontrou, a mim e à Vera, de pé, olhando lá pra baixo, pela janela.

- Isso é uma serenata. Para comemorar nosso aniversário de casamento...

No dia seguinte não falou em outra coisa. Até seresteiro disse que queria ser quando crescesse. Permita Deus que possa mesmo ouvir e fazer muitas serenatas durante a vida.

Mas não é de serenatas que este texto quer tratar e sim sobre o significado das palavras. E sobre como transmitir esse significado para quem não conhece a palavra em questão. Convenhamos, haverá forma mais agradável de se tomar contato com a palavra serenata? Na mesma direção, não é muito mais fácil explicar o que significa, por exemplo, a palavra insípido (que não tem sabor) oferecendo um copo d?água para o aprendiz ao invés de fazê-lo decorar definições do dicionário?

Por outro lado, há palavras que não quero nem recomendo sejam "experimentadas" como dor de dente, seqüestro, fome, traição além daquelas expressões que aprendíamos com os colegas da escola ou da rua as quais, quando repetidas em casa, davam castigo na certa.

Pensei em tudo isso quando recebi a encomenda de um texto sobre o Pentecostes. É que ando meio cansado de ouvir gente pedindo, quase chorando, que lhe seja dado o Espírito Santo. Na semana seguinte, lá estão de novo, se derramando no altar.

De forma muito reverente (Não estou brincando com o santo Nome, não.), penso em Deus respondendo algo como: "De novo? O que é que você fez com o que ganhou na semana passada? O que pensa em fazer com o que receber hoje?"

Os mais sinceros, para ser bem sinceros, deveriam responder que não fizeram nada. E que nem sabem direito por que estão pedindo tão ardentemente, de novo, que seja derramado sobre eles e elas o Poder e a Graça divinos. Talvez estejam pedindo apenas para se exibirem; para causar inveja; para, assim, confirmarem, perante os outros, a aura de santos que cultivam.

Particularmente, entendo que nessa história de Pentecostes, bom mesmo é o que vem depois e não o momento da descida como querem nos fazer pensar aquelas expressões e manifestações de gozo e alegria de quem, lá no altar, até cai no chão para confirmar que recebeu o Espírito Santo.

Não, não estou desprezando a descida do Espírito Santo que a Igreja comemora no Domingo de Pentecostes.Também eu canto, submissamente, "Vem como em Pentecostes e enche-me de novo!".

Só que, neste ano, pensei que talvez devêssemos pensar também no resultado dessa descida, no fruto que a ação do Espírito provoca em cada um de nós.

Por isso comecei este texto falando de longanimidade, característica ou qualidade do que é longânimo, magnânimo, aquele(a) que tem princípios altos, tem nobreza de alma, é altruísta, bondoso, generoso e também paciente, resignado (nada a ver com medida de tempo como até já ouvi dizerem enfatizando as sílabas loooongaaaaanimidaaaaadeeeeee).

Nobreza da alma, princípios e valores elevados, altos...

Penso que talvez esse seja o jeito certo de entender a palavra alta no poema do Fernando Pessoa. Lembram-se?

 

Para ser grande, sê inteiro.

Põe quanto és no mínimo que fazes.

Nada teu exagera ou exclui.

Assim a lua toda no lago brilha

Porque alta vive.

 

Lua me lembra serenata. A minha oração e o meu desejo é que meu filho possa aprender o significado de amor, alegria, paz, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio, longanimidade, como aprendeu o de serenata. Não procurando no dicionário (o que, na pior das hipóteses, evitaria equívocos como aquele comum que entende longanimidade como longo ânimo) mas tendo contato vivo com uma pessoa longânima, recebendo e oferecendo atitudes bondosas, exercendo o domínio próprio. Tudo isso como resultado da descida do Espírito Santo sobre sua vida e sobre a vida da igreja da qual será parte.

Rev. Fernando Cezar Moreira Marques

Depto. Nacional de Escola Dominical

Pastor da Igreja Metodista na Lapa

LEIA TAMBÉM O ARTIGO:

Para que todos sejam um, do Bispo Josué Lazier

 


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