Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Paulinho

 

Em 1990, Deus chamou o meu marido, a mim e a nossa filha, de apenas um ano de idade, para sermos missionários em Topázio, distrito de Teófilo Otoni, Minas Gerais. Deixamos nossos familiares e partimos para anunciarmos as novas do evangelho. Deus usava grandemente nossa filhinha como porta de entrada nas casas e nas vidas daquele povo.

Em 1992, Deus nos deu mais um presente dos céus: um filho, carinhosamente chamado de Paulinho. Neste mesmo período, meu marido foi consagrado pastor da Igreja Metodista com nomeação para Astolfo Dutra, Minas Gerais. Nossos filhos são presentes do coração de Deus para nossas vidas.

Hoje falarei especialmente do Paulinho.

Um menino lindo, calmo, muito tranqüilo e que, quando pequeno, tinha cabelos tão claros que era necessário assoprá-los para poder vê-los. Cresceu dento da Igreja, nos ensinamentos de Jesus Cristo e também foi usado por Deus como uma porta aberta para a anunciação do evangelho.

De Astolfo Dutra, fomos para São Mateus, norte do Espírito Santo. Paulinho, já com dois anos de idade, amava pegar a gravata do seu pai e dizer que era um pastor. Tinha um terninho cinza, o qual usou até não servir mais, pois queria estar como o pai. Por diversas vezes ficava no altar ouvindo a palavra do Senhor.

De São Mateus fomos para Olinda, Pernambuco, no bairro Caixa D?água. Nosso menino era conhecido por todos. Seu coraçãozinho simples, puro e amoroso conquistou muitos. Ao mudarmos para Maceió, Alagoas, não foi diferente. Nossa casa aos sábados, por volta de 7 da manhã, já estava cheia de crianças procurando por ele. Novamente mudamos. Fomos para Juiz de Fora e depois para Barbacena, Minas Gerais. Nada mudou. Seu coração continuava simples e amoroso.

Agora, de volta a São Mateus, Norte do Espírito Santo, reencontrou seus amiguinhos que hoje, como ele, estão com seus 16, 17 e 21 anos. Chegamos a São Mateus no dia 11 de janeiro de 2008. Imediatamente reconquistou todos os corações que já conhecia e inúmeros outros. Nossa casa estava sempre cheia com a presença dos adolescentes e jovens. Meu coração transbordava de alegria ao ver os colchões por toda casa onde essa turma tinha o prazer de estar conosco. Êta povo que tinha assunto!!! Duas da manhã, às vezes, estavam na cozinha "abastecendo" para "papearem" mais e continuarem a conversa no outro e no outro e no outro dia.

Louvo a Deus por esses dias. As aulas começaram, mas nos finais de semana era hora de colocar a conversa em dia, pois nos dias de aula só dava para encontrar à noite.

Paulinho estava muito feliz. Tinha muitos amigos super envolvidos na igreja , estava trabalhando, doando e recebendo muito amor, independente da idade. Sentava-se no chão para brincar com crianças de 3 a 6 anos e acariciava os mais idosos da igreja. Dois meses e 24 dias vividos intensamente.

No dia 4 de abril, por volta das 18 horas e 10 minutos, voltando do trabalho, na rua em que morava, faltando 15 casas para chegar, Paulinho foi abordado por um menor que, além de assaltá-lo, disparou, à queima roupa, uma bala de revólver que estoura a aorta e os pulmões, levando, naquele momento, todos os seus sonhos.

Sua morte chocou a todos. A cidade chorou junto conosco. A dor dessa perda é indescritível e a saudade é imensa. Diante de seu corpo, senti minha pequenez, minha insignificância de não poder fazer nada para reverter aquela situação. Foi a pior cena que vivi. A maior das dores que senti. Que estou sentindo. Naquele mesmo momento fui tomada pelo Espírito de Deus que manteve a mim, meu esposo e minha filha de pé.

Todos os dias falamos nele mas, graças a Deus, só temos lembranças boas e um testemunho de vida maravilhoso que ele nos deixou.

Ele viveu apenas 16 anos, mas foram anos de bênçãos em nossas vidas. Sua morte despertou muitos aqui em SãoMateus. Muitos que estavam afastados das igrejas estão retornando, outros estão se entregando a Jesus e outros estão reafirmando seus compromissos com Deus.

Sete dias após sua morte, realizamos junto com o Conselho de Pastores de São Mateus uma passeata pela paz que, segundo a polícia militar, reuniu cerca de 2500 a 3000 pessoas debaixo de sol escaldante às 10h30 da manhã. Esse ato deu início ao movimento "Reage São Mateus" que tem como objetivo levar a todos a Palavra de Deus e de termos nesta cidade o direito à vida e de dizer não à violência.

 

No dia 17 de abril foram cravadas aproximadamente 80 cruzes brancas em um dos pontos turísticos da cidade em memória às vitimas da violência.

Através da morte do meu filho, Deus falou para a cidade toda. Todos os habitantes de São Mateus souberam do fato através da rádio, da televisão e dos jornais. Não há quem não saiba hoje onde se encontra a Igreja Metodista e onde mora o pastor Paulo de Tarso e sua família.

Durante todas essas oportunidades anunciamos o amor de Deus, a salvação de Jesus Cristo e o mover e comover do Espírito Santo do Senhor. Não questionei a Deus nem um momento sobre a morte do Paulinho. Quando o vi inerte naquele chão, Deus disse em meu coração que o Paulinho é só dele. Que ele me deu, que Ele o levou e que Seu nome deveria ser glorificado.

Glorifico a Deus por ter desfrutado do Seu amor e presença na vida de nossa família através do Paulinho. Meu coração sente que ele vive junto ao Pai e que, em nome de Jesus, viveremos eternamente com Deus e que nos reencontraremos na Glória.

Que essa permissão de Deus, a morte do meu filho, possa revelar a muitos que hoje é o dia de consertarmos nossas vidas com o Senhor. Que hoje é diade salvação e que o amanhã pertence a Deus.

Nascemos para marcar a vida daqueles que passam por nós, isso faremos de forma negativa ou positiva. Graças dou ao Senhor por todas as vidas que passaram pela vida do Paulinho, pois puderam ser marcadas positivamente.

Quero agradecer o amor de Deus a nós revelado através da vida dos irmãos que têm estado presentes em nossas vidas pessoalmenteatravés de cartas, telegramas, telefonemas, mensagens, e-mails ou em orações. Estes atos têm nos ajudado muito. Obrigada, Senhor.

Maria Aparecida F. de M. Corrêa - mãe do Paulinho


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