Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

pastora maísa primeiro relato

Não é exatamente um "Diário", pois a pastora Maísa não tem condições de acessar o computador todos os dias. Mas, sempre que pode, manda-nos notícias de Cambine e nós, aqui no Brasil, compartilhamos da fé que nos diz que TODOS OS DIAS sua vida é abençoada por Deus. Então, mantenhamos o nome Diário de Moçambique...

Turma de Seminarista na Conferência Distrital de Jovens

10 de julho de 2008:

 

Pra. Maísa com pastores do distrito

 Graça e paz amados/as,

Espero que a bênção do Senhor esteja sendo contínua sobre a vida de cada um/a de vocês.

Estamos nos esforçando para ficar bem. Terminou o semestre no seminário. A Missão está quase que vazia. (Não sei se vocês sabem, mas Cambine é uma Vila da Igreja Metodista onde desenvolvemos alguns projetos, principalmente na área da educação. Temos 2 colégios com internatos onde alunos/as de todo Moçambique vêem estudar. Temos também cursos técnicos de agricultura e marcenaria. Desenvolvemos um projeto de agricultura junto à comunidade, temos um hospital, onde não há médicos, só enfermeiras/os, um orfanato, onde hoje temos 40 crianças vivendo, e o Seminário Teológico com internato, onde trabalho).

Pois bem, é tempo de férias, isso significa que os alunos foram pra casa! A vila está quase sem ninguém. O que já era isolado, agora ficou mais ainda! Há moradores/as ao redor da Vila, vivendo em pequenas casas, como se fosse pequenos sítios, mas é tudo espalhado! E para não me sentir tão sozinha, pois não tenho nenhuma atividade para realizar, resolvi ser voluntária nas partes das manhas, no nosso hospital. E a tarde procuro preencher meu tempo de alguma forma, pois 17:30 aqui, já está escuro.

Precisamos de oração: Nem começou ainda o tempo do calor e dos "muitos" mosquitos, e a malária já está fazendo muitas vítimas por aqui. Alunos/as do seminário, professores, filhos de alunos, e agora que estou "trabalhando", no hospital, estou vendo a cada dia o numero de infectados crescendo, crescendo. Até bebês com malária tem sido constante. Não temos muito o que fazer, e eu sei que a qualquer instante posso também me infectar. Malaria por aqui é igual gripe/virose por aí, só que os sintomas e o "estrago" que ela faz com a pessoa é muito grande. Precisamos de oração.

Um grande abraço a todos/as.

Em Cristo,

Maisa


 

1 de julho de 2008:

 

Pastora Maísa em ação na cozinha dos(as) seminaristas

 Povo meu, povo meu, Graça e Paz!

Dois meses é o tempo que faz hoje, que cheguei em Moçambique. As coisas não estão sendo fáceis, mas sei que Deus tem me facilitado o máximo todas as coisas, e louvo a Ele por isso. Já estou começando a me sentir parte de tudo isso aqui. Meus alunos/as são pessoas ótimas, tenho procurado me relacionar com todos eles/as, e não ser apenas a professora na sala de aula, mas procuro ser a "pastora" deles. Que quem já foi minha "ovelha" sabe do que eu estou falando!

 

Seminaristas do terceiro e quarto ano

Rio onde a população lava roupa, vasilhas, toma banho e coleta água para beber.

Os/as pastores/as, professores/as no seminário também tem me tratado muito bem e nosso relacionamento tem sido agradável.

Há muitas lacunas a serem preenchidas e estou procurando, "mineiramente" falando, me colocar na brecha para realmente procurar cumprir o propósito de Deus na minha vida nessa terra amada e abençoada por Ele.

Eu estou bem. Não tive nenhuma dificuldade maior que minhas possibilidades, estou observando muito, falando pouco e procurando me adaptar ao "jeito de ser" do povo da terra. Já estou começando a aprender a língua Xitswa, já sei algumas palavras, glória a Deus!!!

Meu contato e tempo vivido com os povos indígenas em Rondônia e com os caboclos no norte do pais tem me sido precioso aqui. Pois ali aprendi a conviver com o diferente, respeitar e desenvolver uma "paciência" que nem imagina que eu pudesse ter. Pois é, aqui não é diferente! Tudo aqui é para depois de amanhã e olha lá!!! Rs

Pois é queridos/as, há muito o que se fazer por aqui. Sabemos que podemos contribuir com nossa experiência e disposição. Para isso contamos com suas orações, pois se Deus não tiver a frente de tudo isso, já aprendi que é melhor nem sair do lugar. Obrigado, continuem orando e Deus abençoe a todos/as.

Quem tiver acesso ao orkut, pode acessar minha página: MaisaAfrica e ali encontrará fotos minhas.

Em Cristo

Maisa

 

16/05/08

Hoje é meu primeiro dia em Cambine, agora são 19:40, não se faz nada aqui depois das 17:00 horas, que é a hora que escurece.

Aqui é realmente longe de tudo e perto de nada, um lugar apenas, um lugar a mais, um lugar longe...

Minha casa é pequena, estilo casa de sítio, piso remendado, coisas assim, mas para mim está bom, em tudo louvo a Deus. Não tenho água em casa, o banho é de "canequinha" e as alunas do seminário estão me ajudando no carregar a água.

Cheguei aqui por volta das 11:30, tinha um grupo lavando minha casa, acho que era pra me ajudar no processo. Não adiantou muito não, mas valeu a intenção!

As pessoas são muitos pobres. Elas não têm nem o que comer. Cozinham no chão (ajuntam umas pedras ou uns ferros), colocam fogo e põem a panela ali em cima pra cozinhar), dormem em esteiras, muitas vezes. As casas dos moradores da terra são de palha.

Cada menina do seminário tem sua "machamba", ou seja, plantação (couve, alface, cebola, coisas assim); isso as ajuda sobreviver.

Chegar aqui foi muito difícil. Toda documentação que eu precisava providenciar estava acabada já na sexta-feira (dia 09/05), mas o carro não estava pronto. Prometeram que ficaria pronto na próxima terça-feira (13/05), mas não ficou. Ficou pronto, e ainda com algumas questões pendentes, só na quarta.

Pois bem, marcamos de sair na quinta as 03:00 horas da manhã, por mim estava bem, desde que eu não dirigisse à noite. O Pr. Zefanias (Administrador da Sede da Igreja Metodista) decidiu que viria com a gente, e iria dirigir. Acordamos (pastora Maísa e os missionários Dr. Eduardo e Cláudia) às 2:30 da manhã e ficamos esperando então o Pastor. Resultado: Ele nos apareceu lá só às 5:30 da manhã.

Pegamos a estrada. Havia muito neblina na estrada e mesmo depois que amanheceu, eu preferi não dirigir. Ali pelas 8:30 entramos num trecho da estrada nacional (cerca de 100 km), muito ruim. Eu ia pegar o volante, mas penso que o Pr. Zefanias não quis me dar porque realmente a estrada estava muito ruim e não paramos. Estava num outro carro a Pra. Defina, e íamos juntos, não para o mesmo lugar, mas lugares próximos. Por volta da 9:00 horas, na província de Gaza, após passarmos a cidade de Xai Xai, a pra. Delfina foi fazer uma ultrapassagem, o carro saiu da estrada, derrapou na areia que havia do lado, quase capotou, e saiu da estrada indo de encontro a uma árvore. O carro "acabou", perda total, a pra. Delfina sofreu algumas escoriações.

Levamos a pastora Delfina para o hospital em Xai Xai, ela foi medicada e por volta da 13:00 horas o hospital a liberou. Depois a levamos para a casa do Superintendente do Distrital, e ficamos (eu e Claudia) observando-a, enquanto os homens (Pr. Eduardo, Pr. Zefanias e Dr. Eduardo), tentavam resgatar o carro para a cidade de Xai Xai. Conclusão: gastaram a tarde inteira e só conseguiram rebocar o carro após às 19:00 horas. Aí nos surgiu uma duvida: ficamos em Xai Xai e seguimos viagem no outro dia ou vamos agora para nosso destino? Resolvemos que iríamos embora. E assim o fizemos. Eu, Dr. Eduardo e Claudia. Saímos de Xai Xai por volta das 19:30, rodamos cerca de uns 300 km ainda e por volta das 23:00 horas chegamos em Maxixe. O restante da viagem foi tranqüila, pois entendíamos que havia uma "batalha espiritual" muito grande naquele momento, e decidimos que não iríamos desistir e nem retroceder, a enfrentaríamos pois tínhamos convicção da benção de Deus sobre nós. Aqui estou agora em Cambine, e Dr. Eduardo e Cláudia em Chicuque. A distância entre nós é cerca de 30 km, sendo 10 km de estrada de chão.

 

Domingo 18/05/08

Fui à igreja hoje de manhã, o culto é todo em Xitsua (língua local), é bem diferente de tudo que achamos que conhecemos. As pessoas te olham diferente, me sinto deslocada às vezes, procuro ser educada e acolhedora, mas eles te olham como um "bichinho", sei lá!

Arrumei uma pessoa pra lavar minha roupa, o que é feito no rio, no mais eu mesma vou cuidar. Não  se tem muito o que fazer por aqui. Não tenho TV, só meu Ipod, o que me é muito precioso. Vou precisar inventar coisas para preencher o tempo.

Minha casa ainda está sendo montada. Tenho um sofá, uma mesa com 4 cadeiras, uma cama de casal e uma de solteiro, não arrumei ainda uma furadeira, então estou dormindo na cama e não na minha rede.

Na cozinha tenho um fogão e uma geladeira. Graças a Deus, temos energia elétrica. Ainda vou ter que providenciar uma guarda roupa (minhas roupas estão todas na mala), um armário de cozinha, uma estante pra livros e outras pequenas coisas. O telefone celular tem "rede" apenas em alguns lugares em Cambine, vou achar uma mais perto de casa.

Amanhã começo a entrar no ritmo do trabalho, espero. Não agüento mais ficar parada...

 

Segunda-feira 19/05

Conheci hoje meus alunos. Eles são muito acolhedores e agradáveis. E pelo fato deles poderem se comunicar comigo lhes faz um bem tremendo. Eles têm um carinho e respeito muito grande pelo Pr. Nadir e Deise, e isso é muito bom! Vou dar aula para três turmas (segundo, terceiro e quarto anos). O grupo não é muito grande. Temos muito que fazer, preciso realmente de muita graça e sabedoria de Deus para fazer o que tem que ser feito no tempo certo e na dimensão correta. Preciso de suas orações. Internet aqui é muito difícil.

 
Conto com as orações, sempre.
 
Em Cristo,
 
Maisa

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