Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
Pastor, por que você não arruma um emprego?
Quando era pastor em Jardim Colorado, o Tiago, com seus 6 anos, perguntou-me: "Pastor, porque você não arruma um emprego?". Achei engraçado e expliquei que o meu "emprego" era ser pastor. Ele, não contente com a resposta, replicou: "Mas por que você não grita assim: ?Eu não quero mais ser pastor!!!!´". Achei curiosa a implicância dele. Nós nos dávamos muito bem. Quando visitava sua casa, jogava bolinha de gude no tapete da sala com ele e o Vinícius, trocava figurinhas com seus primos. Conclui que ele gostava de mim, mas não gostava que eu fosse pastor...
Afinal de contas, quem é o pastor e a pastora para as crianças? Geralmente, para as crianças, o pastor é aquela figura que fala demais. E quando elas querem conversar no culto, os adultos dizem: "Fica quieto que o pastor está falando!!!". O pastor torna-se, então, uma espécie de "bicho papão", pronto a pegar as criancinhas que fazem bagunça no culto.
Descobri que grande parte do problema está na relação da criança no culto, especialmente com a mensagem. Cada igreja trata as crianças de um jeito diferente no tocante ao culto. Algumas deixam as crianças "livres", brincando em algum espaço onde não atrapalhem o culto. Terrível, mas real. Há também as que, com uma boa intenção, criam "cultinhos", objetivando ensinar às crianças o evangelho na sua linguagem...
Em minha caminhada pastoral tenho aprendido que a educação infantil na igreja passa, impreterivelmente, pela sua inserção no culto. Nas igrejas por onde tenho servido, experimentamos não tirar as crianças do culto em nenhum momento (nem no "terrível" momento da mensagem). O passo decisivo é incluí-las na mensagem: Assim, em todos os cultos, antes da mensagem "aos adultos", passamos a chamá-las para um bate papo com o pastor, onde, sentados próximos ao púlpito, compartilhamos histórias, cantamos e oramos.
As vantagens do "Momento da Criança" revelaram algumas fragilidades do "cultinho". É unânime: Quando as crianças são retiradas do culto muito novas, há muita dificuldade em reintroduzi-las. Estar no culto, para as crianças mais velhas, passa a ser uma punição. No Momento da Criança isso não acontece. É a criança quem escolhe a idade de se retirar, e mesmo que queira continuar, participa veladamente ao lado dos pais ou responsáveis.
Conforme as crianças foram aprendendo a ouvir o pastor antes da mensagem, começaram a interessar-se pelo que eu dizia durante a mensagem. Sua participação em toda a vida e missão da igreja cresceu!
Mas a inserção da criança não parou por aí: a Página da Criança foi enfatizada no boletim e no culto. Nos concílios, elas também podiam participar, discutindo e decidindo sobre assuntos concernentes à sua vida na igreja. Caminhávamos para a criação do Estatuto da Criança na Igreja, confeccionado pelas próprias crianças. Em outra igreja, elas entraram nas escalas para retirar as ofertas no culto. Certa vez, abrimos as listas para a inserção (dos adultos) nos Ministérios e lá estavam elas...
Aprendi também que nós, pastores, pastoras e toda igreja "adulta", precisamos mudar nosso conceito e nosso comportamento com relação às crianças: precisamos olhar para elas, ouvi-las, conhecer seu universo, pastoreá-las efetivamente.
Estou certo que, se nos convertermos às crianças, aprenderemos mais sobre como ser uma igreja missionária e inclusiva. Aos professores Tiago, Vinícius, Lucas, Dedé, Natália, Jadi e tantas outras crianças, devo essa reflexão e muito da minha ação pastoral. A elas serei sempre grato!
Rev. Pedro Nolasco Camargo Toso, pastor da Igreja Metodista em Jundiaí, 3ª RE