Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 17/11/2011

Pastor metodista escreve sobre a eleição da/o próxima/o bispa/o

Gostaria de uma eleição diferente para o futuro bispo ou bispa da Região Missionária da Amazônia


Há algum tempo venho pensando que deveríamos ter uma eleição diferente para bispos e bispas de campos missionários, como é a Região Missionária da Amazônia (REMA) e a Região Missionária do Nordeste (REMNE), e como deverá ser para cada estado brasileiro que se tornar região-missionária, segundo possibilita proposta missionária aprovada no último Concílio Geral da Igreja Metodista.

Com o falecimento do saudoso Bispo Adolfo, abre-se uma vaga de bispo ou bispa na Igreja Metodista, e o Concílio Geral se reunirá extraordináriamente para elegê-lo ou elegê-la no sábado 17 de dezembro em São Paulo.

Muitos querem ser bispo ou bispa da Igreja e entendo que isso é um desejo justo e bonito. Muitos dizem isso abertamente e também não vejo problema nisso. A política eclesiástica existe, deve existir, mas tem de ser reta, santa, justa, transparente. O que não tem lugar na igreja de Jesus é a politicagem, a coisa iníqua, as tramas, as traições, a mentira, a manipulação de eleições e também do nome de Deus. Deveríamos também desconsiderar aqueles que querem ser bispo ou bispa apenas por amor ao poder, ao fascínio que o episcopado traz, pela cadeira mais bonita no lugar mais alto e mais central, pelas portas e oportunidades que se abrem, pelo sem número de viagens para o bispo(a). Quem não é bênçãonopastorado certamente também não será bênção no episcopado. E mesmo quem é bênção no pastorado poderá não ser bênção no episcopado, como alguns homens e mulheres que eram evangelistas maravilhosos e depois, por falta de espaço do leigo na vida da igreja e pelo fascínio das possibilidades do clericalismo, tornaram-se pastores(as), e infelizmente, pastores(as) não tão bons quanto eram evangelistas. Deus os chamara e os capacitara para uma coisa, mas eles quiseram ser algo para o qual Deus não os havia chamado.

A região missionária como a REMNE não pode ser apenas uma porta aberta (uma oportunidade) para quem deseja ser bispo ou bispa. Mais que um bispo ou bispa, a REMA precisa de um missionário, de um bispo missionário. Homem ou mulher. Mas essencialmente missionário. Ter o corpo na Amazônia. Ter a cabeça na Amazônia. Ter o coração na Amazônia. Ter um ministério para a Amazônia. Que se apresente como sacrifício vivo! Aleluia!

Que não apenas ame missões, mas que ame missões na Amazônia. Que goste de índio, de mata, dos ribeirinhos. Que goste mais do chão e suas comunidades do que da ponte aérea, mais do ministério de Paulo pelas estradas do que fazer parte do Senado Romano, do Sinédrio, do confortável gabinee pastoral.

Porque um bispo ou bispa metodista para a Amazônia precisa ser um(a) missionário pastor(a) curador de vidas, que ame os pobres e se encarne em suas lutas por justiça, terra, saúde e todoo grande pacote de cidadania. Mas Ele(a) também precisa ser um profeta no sentido bíblico da Palavra. Lutar pela defesa da floresta, da exploração sustentável da floresta, contra o desmatamento, contra os grandes latifúndios, contra os grupos de extermínio que mata trabalhadores e líderes sindicais que denunciam os abusos, o trabalho escravo, o trabalho infantil. Que promovesse um avivamento bíblico que ao invés de levar a igreja para a alienação de ser luz que não brilha nas trevas e sal que não muda o meio onde está (infelizmente o que não acontece com a maior parte da igreja evangélica que cresce em todo Brasil sem a necessária conversão e sem transformação de caráter, sem paixão pela vida que sofre e perece).

Que pudesse ser alguém que caminha sob a mão do Senhor e que tenha a Igreja toda dando-lhe suporte, com oração e clamor e suporte pastoral e político, pois do contrário, não duraria vivo um mês naquela terra. Uma pessoa mais preocupada em salvar vidas do que em mostrar números, do que em mostrar-se em números. Alguém apaixonado em sinalizar e construir o Reino de Deus como foi o um Luther King com a causa dos direitos civis nos EUA, o Missionário Stanley Jones com o povo indiano e o nosso tão pouco lembrado como referência de missionário, pastor e bispo Scilla Franco.

Que saiba trabalhar junto de outros que caminham na mesma direção da justiça e da vontade de Deus. Que não tenha medo da malária, da Funai, de aprender as línguas indígenas, de promover um evangelho "inculturado" ou contextualizado, de perder conforto urbano e a segurança de viver perto de um grande centro metropolitano. Que não se importe de viajar tanto por aquelas distâncias imensas, continentais. De viver na precariedade de recursos para tudo o que seria necessário e na dependência de Deus e da generosidade das orações e ofertas de outros irmãos e irmãs de longe, que de tão longe, não poucas vezes, longe dos olhos, longe do coração, e até longe das orações.

Quantas vezes oramos pela REMA, e seu bispo e seus pastores e pastoras e seus missionários e sua igreja nesse último biênio?

Como um bispo ou bispa é eleito sem indicação e sem debate, talvez antes de iniciarmos o Concílio, devêssemos orar, conversar sobre o perfil de um(a) líder, de um pastor(a), de um homem ou mulher de Deus cuja família aceite igualmente ser comissionada não apenas para Porto Velho ou Manaus, mas para toda a Amazônia, para toda a REMA.

Se fizéssemos isso, a discussão de um perfil mínimo e quem sabe um momento de auto-indicações, de homens e mulheres que se erguessem e dissessem "eis-me aqui! Envia-me a mim", descobríssemos que esse nosso pastor ou pastora, que esse nosso "bispo missionário" ou "bispa missionária" não está em São Paulo, no Rio, no Sul, no Centro Oeste, mas está ali mesmo, na própria REMA.

Um homem ou mulher de Deus que não aparece em TV, nos jornais, nos círculos da visibilidade do poder eclesiástico, nem mesmo num blog da internet. Não está na casa de Jessé mas no campo cuidando de ovelhas, e por isso o profeta Samuel não o vê. Não estou falando contra quem está na tv, na internet, mas pensando que ele (ela) está sem ser visto por nós. Ele(ela) não faz parte de uma delegação que tem muitos delegados e consequentemente não tem muitos votos. Particularmente para uma eleição episcopal.

Como não fiz o "trabalho de casa", nesse exato momento não sei quantas igrejas a REMA tem, não sei quantos e muito menos quem são os presbíteros e presbíteras que estão ali, dando o suor do rosto, o trabalho das mãos, semeando o Evangelho da reconciliação e da vida eterna. Parafraseando a Soraya Junker: gente que embora tenha cartaz com Deus não tem seus nomes escritos num cartaz na Igreja. E infelizmente, repito, longe dos olhos... pois é!

Será que nenhum dos obreiros(as) da REMA? Ah! melhor não terminar essa pergunta!
Não que esse líder, homem ou mulher, não possa estar noutro lugar nesse instante e se apaixomar pelo trabalho missionário na REMA, tal como o Bispo Davi Ponciano que era de Niterói e o Bispo Adolfo que era de São Paulo. Aliás, dois Bispos que alimentaram a igreja da Amazônia com suas vidas. Viveram o episcopado e morreram no episcopado amando aquela terra e aquelas gentes!

Mas eu me lembro o quanto chorava o Bispo Adolfo ao ser reeleito em Piracicada e ser naquele Concílio transferido de São Paulo para a Rema. Naquele choro houve algum choque, com certeza, mas em seguida houve uma conversão daquele coração à missão na Amazônia. Antes dele, parece-me, houve a eleição de uma pessoa para o episcopado e ao ser designado para uma região missionária, ele corajosamente renunciou. Abriu mão do episcopado e do poder e prestígio que isso representa nesse nosso mundinho eclesial, acredito eu, por não ter o perfil para aquilo que lhe estava sendo proposto.

Stanley Jones, um dos maiores missionários metodistas, abriu mão do episcopado por razão oposta. Não aceitou deixar o trabalho missionário que fazia na Índia para ser um bispo da Igreja Metodista nos EUA.

Não estou falando ou pressupondo mérito ou demérito, mas perfil, paixão para assumir missões na Amazônia ou paixão para missões urbanas, nas grandes metrópoles, nas pequenas cidades do interior dos estados do sudeste ou do sul. Não estou considerando em nada posturas políticas de esquerda ou direita, ou qualquer ideologia humana ou corrente teológica. Estou pensando apenas na vocação e na unção do poder do Espírito Santo e que faz aqueles medrosos de João 20 se transformarem naqueles homens e mulheres intrépidos: "Aqueles que viram o mundo e essa ordem iníqua de ponta cabeça chegaram!" (At 17:6b). Aqueles que servem ao Deus vivo que derruba o Saulo do cavalo (At 9) e muda os seus intentos estão entre nós e se expalham! Que coisa gloriosa de se ouvir!!!

Sinceramente gostaria muito de pensar em perfil. Fazemos isso quando vamos contratar uma pessoa para o trabalho em nossa casa ou em nossa empresa.

Gostaria muito de que fossem explicitados os desafios de ser bispo ou bispa missionário(a) na Amazônia. As metas. O plano estratégico da REMA, pelo que sei, aprovado pelo último Concílio Regional da REMA, sob a batuta e liderança do saudoso bispo Adolfo.

Nessas reflexões não há outra intenção senão conjecturas e também oração para que a pessoa a ser escolhida pelo Concílio não tenha como prioridade o ser bispo ou bispa, mas doar-se integralmente a uma missão que de longe, numa visão romântica, parece fácil. Mas como vemos na vida e na morte dos bispos que lá serviram, exige enorme renúncia. E como vemos, Deus chama o missionário, mas chama também a família do missionário. Toda a família vai para o campo e tem de amar missões.

Gostaria de uma eleição diferente para o futuro bispo ou bispa da Região Missionária da Amazônia. Precedida por oração e avaliação. Para que pudéssemos, após o "trabalho de casa" feito, nos reunir em Concílio Geral e sem indicação e sem debate podermos votar e ao final da votação dizer: "Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós..."


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