Publicado por José Geraldo Magalhães em Pastoral dos Direitos Humanos, Geral, Pastoral Indigenista - 12/12/2013
Pastor metodista é homenageado pela Assembleia Legislativa do estado do Espírito Santo
No dia cinco de dezembro o rev. Adahyr Cruz, presbítero aposentado da Igreja Metodista, recebeu a Medalha Ewerton Montenegro por sua atuação na valorização e na defesa dos direitos humanos, no Estado do Espírito Santo.
O rev. Adahyr atuou na Pastoral Indigenista da 4ª Região lutando em favor dos índios Guaranis no estado do Espírito Santo, além de ter sido conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos e um dos criadores do Fórum Reage Espírito Santo.
Abaixo reproduzimos uma entrevista concedida pelo rev .Adahyr à revista “15 Anos em Revista”, produzida pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos do Espírito Santo:
Entrevistado - Pr. Adahyr Cruz – Pastor da Igreja Metodista e Ex-conselheiro do CEDH
Pergunta: Pr. Adahyr, porque houve a necessidade da criação do Fórum Reage Espírito Santo?
As organizações civis mostravam sinais de revolta contra o que acontecia em nosso estado. O governo de José Inácio anunciara que resgataria o respeito pela gestão pública. Os governos estaduais de Max, Albuíno e Vitor não conseguiram enfrentar o crime e a corrupção, deixando marcas de instabilidade econômica e política. Vivia-se momentos de inflação, desemprego e crescimento da violência no estado.
A Scuderie Detetive Lecoq, com integrantes da polícia militar e civil, alargava sua ação criminosa atingindo setores do judiciário.
O governo de José Inácio, segundo denúncias na imprensa da época, abusou do poder e ofereceu a gestão pública para os benefícios de amigos e familiares.
Na Assembléia Legislativa ações de alguns deputados engrossavam a lista do crime de colarinho branco. O deputado Gratz e o diretor da casa legislativa formaram uma rede com políticos corruptos, fazendo o crime se espalhar pelo estado.
O processo de escolha para compor o Tribunal de Contas do Estado facilitava o interesse dos políticos corruptos.
No judiciário a conivência de alguns juízes comprometia a instância do juízo e da lei.
Pergunta: Como o Sr. avalia esse movimento?
No Brasil, de 64 a 85, cresceu a consciência popular de que o povo organizado ganharia força para enfrentar o autoritarismo e a corrupção. A ditadura, embora longa, não ganhou trégua das organizações sociais, estudantis, operárias e os movimentos de base da igreja, como as CEB’s e outras.
Na década de 90, diante do crime organizado no ES criou-se o FORUM REAGE ESPÌRITO SANTO, integrados por representantes de associações políticas, civis e religiosas. Lá estavam representações da Comissão de DH da Câmara Federal, da ALES, Movimento Nacional de DH, CEDH, CDDH, Comissão de Justiça e Paz, Pastoral do Menor, MST, CONIC, UFES e OAB. No início um grupo de políticos, de reconhecida credibilidade vai ajudando a organizar o Fórum, que iria ganhar poder e legitimidade.
É justo lembrar o nome de Everton Montenegro, grande lutador pelos direitos, como advogado encaminhando ações judiciais contra a Scuderie Lecoq. Faleceu em plena atividade. Destaque deve ser dado à liderança do Dr. Agesandro da Costa Pereira presidente da OAB/ES e ao Dr. João Baptista Herkenhof, Dra. Ivone Vilanova, Dr. Carlos Eduardo Lemos, Dr. Alexandre Martins, mártir da luta contra o crime organizado, os deputados Claudio Vereza, Brice Bragato, e Iriny Lopes que fazia a relação do Forum com a área federal. A eleição de Cláudio Vereza para a presidência da ALES representou vitória do FORUM e das alianças populares e foi um golpe profundo no desmantelamento da rede do crime de corrupção que assaltava o estado.
A convite do FORUM vieram ao estado vários membros da Comissão Parlamentar de Inquérito, para conhecer a situação caótica do Estado. Na ocasião o Espírito Santo tinha 64 pessoas denunciadas e indiciadas por aquela comissão.
A Anistia Internacional veio comprovar os crimes, relatando-os para a imprensa e organismos mundiais. O FORUM trouxe também ao estado o Ministro da Justiça, exigindo-lhe em assembléia a intervenção federal do estado, mas veio apenas a Força Nacional de Combate ao Crime.
Poucos foram para a cadeia, mas os nomes da corrupção foram para a Imprensa, muitos processos e ações acionadas.
Descobriu-se, com as ações do FORUM, o véu que encobria a impunidade dos criminosos contra a sociedade e os indivíduos.
O FORUM contribuiu para a certeza de que a sociedade organizada adquire poderes capazes de inverter a lógica perversa de que o poder, o dinheiro, a corrupção e o crime podem prevalecer sobre as forças do bem.
Pergunta: Como o Sr. Avalia a participação das Igrejas no movimento?
As igrejas evangélicas, algumas históricas, como a Igreja Presbiteriana do Brasil, Batistas, Assembléia de Deus, participaram esporadicamente nas Assembléias do FÓRUM. A Associação de Pastores Evangélicos tinha acento no FÓRUM, mas de fraca atuação, embora encaminhassem para reuniões internas políticos evangélicos para opinarem sobre os acontecimentos no estado.
A Igreja Católica teve participação mais ativa através de pastorais e posicionamentos por ações próprias e junto com o FÓRUM. O arcebispo Dom Silvestre Scandian esteve presente e era defensor comprometido com a defesa das lutas de interesse do FÓRUM.
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC, composto de sete Igrejas no estado onde participavam as Igrejas Católica, Metodista, Presbiteriana Unida (IPU) e Evangélica de Confissão Luterana (IECLB), teve uma atuação destacada nas ações do FORUM, participando de sua direção. Os assuntos do FÓRUM eram relatados nas reuniões internas e as propostas trazidas por seus representantes Pr. Adahyr Cruz e Pr. Norberto Berger. As direções das Igrejas tomavam conhecimento e respaldavam as ações do CONIC e do FÓRUM.
Pergunta: Como o Sr. Avalia a participação do Conselho Estadual de Direitos Humanos no FÓRUM Reage Espírito Santo e na luta contra a impunidade ?
O Conselho estava no início de suas atividades e enfrentava muitas adversidades para se organizar. O Estado legalizou e não dava condições para suas ações. Não era diferente dos demais. Não tinha espaço, ia de um lugar para outro, sem telefone e nenhuma outra comunicação, sem suportes administrativos. Era prá não funcionar mesmo.
Nada intimidou o trabalho do Conselho. Em suas reuniões mensais era avaliada a conjuntura do estado e ações eram propostas. Na presidência, nos primeiros mandatos, Isaias Santana teve importante papel e o Conselho passava a perceber os meandros do crime organizado, seus atores e a armação da impunidade.
Vários membros do Conselho participaram na criação do FÓRUM e só havia afinidades nos objetivos e ações.
Fonte. Radar Metodista