Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Palavra Episcopal Setembro 2009

Síndrome de Simão, o mágico

 

Richard Santos Canfield - Bispo Honorário da Igreja Metodista

O que é uma síndrome?  Em termos médicos é "um conjunto de sintomas mórbidos ligados a uma doença". Temos como exemplos, a Síndrome de Down, Síndrome  de Pânico, e outras. Aplicado este termo à vida espiritual, diríamos que seria "a alma doentia, dominada, especialmente, pelo egoísmo."
Atos 8 começa falando da primeira grande perseguição, quando os cristãos são dispersos, exceto os apóstolos. Felipe, o evangelista, vai para Samaria, que foi mencionada por Jesus como um dos lugares da expansão missionária. Samaria era um lugar peculiar por causa do ódio entre judeus e samaritanos.

Os judeus evitavam passar por Samaria, tomando o caminho da Transjordânia. Jesus não a evita e não quer que seus discípulos a evitem também. Por isso, Samaria é  um dos lugares visados para a evangelização do mundo.
O que acontece em Samaria com a ida de Felipe?  O versículo 6 diz:

"As multidões atendiam, unânimes, as coisas que Felipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava".

Lucas inclui na sua narrativa a figura de um homem chamado Simão, que exercia a magia.. Como ele é apresentado no versículo 10?   ?Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande Poder,"  Na seqüência, diz que ele abraçou a fé cristã. Será que ele se converteu?  Ou será que estava buscando outra coisa?
Nesse ínterim, chega a notícia a Jerusalém do que estava acontecendo em Samaria. Pedro e João são enviados para lá.
Vendo que as pessoas eram batizadas com o poder do Espírito Santo, Simão, o mágico, tenta algo que revela a sua alma doentia, pois tenta adquirir com dinheiro o poder do Espírito Santo, no que é rejeitado veementemente por Pedro, que diagnostica a síndrome de Simão: "vejo que estás em fel de amargura e laço de iniqüidade".
A questão do poder é que está em jogo. Ele tinha um doentio desejo de possuir poder. Era chamado de "o poder de Deus".
Quando Jesus se refere aos discípulos dizendo que ele receberiam poder ao descer sobre eles o Espírito Santo, é que não seriam "poderosos", mas o poder de Deus se manifestaria através deles para servir na obra do Reino.  Entretanto, o poder, do ponto de vista humano, quase sempre leva o desejo doentio de "domínio"  Na segunda tentação de Jesus ( Luc. 4:6) o diabo oferece a Ele poder e glória deste mundo, que a ele foi entregue, desde que ele fosse adorado. Na verdade, os poderes deste mundo podem fàcilmente se transformar em ardil de satanás.

 
 "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana... " (Filipenses 2.5-7)

O problema de Simão é que ele queria o poder deste mundo e não poder de Deus.  Será que isto também  acontece na igreja?   Quando se disputam cargos ou funções com o desejo de mandar ou dominar e não com o desejo de servir, podemos ser vítimas desta "síndrome de poder".
Quando pensamos em ter dons espirituais, será que podemos pensar que são nossos e que podemos usá-los quando e aonde quisermos? Os dons espirituais são bênçãos da graça de Deus e são dados pelo Espírito a quem lhe apraz, sempre para servir.  Num mundo em que as luzes da glória terrena brilham, fàcilmente podemos ser contagiados a buscar a glória dos homens e não a glória de Deus.  O apóstolo Paulo na sua epístola aos Efésios nos adverte  sobre "as forças dominadoras deste mundo tenebroso" ( Ef. 6:12). 
Por isso, ele diz que "precisamos estar fortalecidos na força do Seu poder (poder do Espírito Santo)", para não cairmos na tentação do poder.
Vivemos num mundo em que pessoas e nações  desejam poder para dominar. Temos o domínio das nações ricas sobre as nações pobres. O  domínio das minorias  sobre as maiorias. O domínio dos fortes sobre os fracos. 

A maioria dos dominadores deste mundo se senta nos governos e parlamentos e buscam os seus próprios interesses em prejuízo de muitos. A escravatura ainda não acabou, pois existem milhões de pessoas, homens e mulheres e, especialmente crianças vivendo em estado de escravidão. Pessoas exploradas pela ganância dos poderosos de nosso tempo.
Jesus, que veio "para servir e não para ser servido",  nos ensina que "maior é aquele que serve, do que aquele que é servido".  Ser servo e não senhor é o espírito do Evangelho.
Servir como Jesus serviu é o antídoto para  "a síndrome do poder"


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