Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Palavra Episcopal setembro 2008

 

Nelson Luiz Campos Leite - Bispo Honorário da Igreja Metodista

Muito se discute a respeito de "qual é o ministério" da Igreja Cristã. Qual é? As respostas têm sido múltiplas segundo a tradição e as ênfases prioritárias de cada Comunidade Cristã.

Na verdade, não há ministério da Igreja, mas sim o "Ministério de Cristo" através da Igreja, Seu Corpo. Não temos ministério próprio e sim um ministério que nos foi "delegado" por Deus para o serviço, em nome d?Êle e sob a unção do Espírito Santo.

O primeiro teste que a Igreja deve fazer é avaliar a natureza, a qualidade, o objetivo e o significado do seu ministério. É um "ministério" conforme a natureza de Cristo ou algo que a "instituição religiosa" idealizou?

No texto bíblico de Filipenses 2.4-8, a Igreja é chamada a ter o "mesmo sentimento" (maneira de ser e forma) que houve em Cristo. Isso significa olhar, contemplar, conhecer, compreender, aceitar e agir a partir da realidade histórica, pessoal e social em que o ser humano vive. A partir dessas considerações gostaria de exemplificar e concretizar um aspecto desse ministério, segundo os dons que temos recebido do Espírito, para ministrar e servir. São múltiplos os dons e ministérios, correspondendo eles ao ministério que Cristo realiza através de Sua Igreja, respondendo à realidade e às necessidades do ser humano, da família, da igreja e da sociedade. Os dons não são motivo de glória pessoal ou coletiva, de orgulho ou vaidade. Eles somente têm sentido quando estão a "serviço" do Ministério de Cristo, sob a unção do Espírito Santo.

Hoje se fala muito em "ministério urbano"; que temos a necessidade de mudar a nossa forma ainda "rural" de ministério e pastoreio e buscar desenvolver uma maneira de ser urbana. A realidade urbana é múltipla e as necessidades são tão amplas como aquela. Livros têm sido escritos, teses de mestrado e doutorado, seminários vem sendo realizados, prioridades têm sido estabelecidas. Há toda uma gama de ministérios urbanos sendo realizadas por algumas igrejas ou instituições especializadas, ONGs, etc.

Gostaria de destacar aqui um urgente ministério que se torna um grande "desafio" de Deus para a Sua Igreja: "O ministério para com o(a)ancião(ã).

A configuração demográfica do Brasil tem sofrido uma grande variação, não apenas no sentido de sua urbanização e esvaziamento da zona rural, mas quanto aos componentes de seus habitantes. Houve um grande aumento do número de anciãos em sua população.

 

Tem-se considerado que a nossa população está envelhecendo, mesmo que ainda haja um grande porcentual de crianças e jovens.

Vários fatores têm contribuído com esse aumento: estilo de vida, alimentação, cuidado com a saúde, eliminação de epidemias e doenças contagiosas, tecnologia na área de saúde, melhores condições de diagnósticos, convênios médicos, etc. Contudo, não basta alcançar um aumento de média de idade no país, mas sim "um envelhecimento" com respeito, acolhimento e qualidade de vida.

As famílias têm enfrentado essa nova realidade e têm tido crises quanto à forma de vivenciar essa realidade: ter em seu meio pessoas com 80, 90 e até 100 anos ou mais.

O que fazer com essas pessoas? Deixá-las trancadas em casa; colocá-las em asilos, casa de abrigo, depósito ou colônias de velhos à espera da sua "chamada final"?

Há um significativo ministério de Cristo para com os(as) anciãos(ãs) e consequentementeum ministério a ser desenvolvido pela Igreja Cristã. Carecemos conhecer melhor essa realidade, inclusive a da "igreja local", pois aqui também a sua membresia tem envelhecido.

São múltiplas as realidades e necessidades dos anciãos. Uns estão bem e podem, inclusive, ajudar nesse ministério; outros estão carentes física, mental, emocional e espiritualmente. Há muita falta de sentido, depressão, ausência de visão, objetivo e significado nas pessoas a partir dos 65 anos. Se há um ministério onde o Evangelho de Cristo tem relevância é esse. Levar o amor de Cristo, a sua presença consoladora, perdoadora, reconciliadora pessoal e familiar; dar um significado à vida, inclusive daqueles(as) que estão numa cama enfermos(as) e até num estágio final. Como o Evangelho da Graça pode acalmar vidas e corações, trazer uma viva esperança no Cristo Ressurreto e um significado eterno para a sua existência!

Muitos vêem os anciãos como empecilhos: seja na família, na igreja ou na sociedade. Sei que não é fácil a convivência com alguns e que carecemos de pessoas adequadas e plenas dos dons divinos para ministrar o amor de Deus a essas pessoas. Aqui temos um dos desafios missionários para a vida da Igreja. Não tenho como entrar em pormenores devido à sua amplitude, mas tenho certeza que é um dos "maiores campos de evangelização" no seu mais amplo sentido - o Evangelho de Cristo como o poder de Deus para a Salvação (no seu pleno sentido).

Essa realidade requer de nós a "compaixão" que houve em Cristo, o colocar-se no lugar do ancião, conhecendo-o mais, compreendendo a sua realidade e necessidades, acolhendo-os com a graça e o amor de Cristo. Não somente os anciãos(ãs) da Igreja, mas de nossa comunidade ao redor, realizando algo concreto que responda às carências deles e das famílias, sendo o "suporte de Deus" para essas vidas, amadas por Ele, da mesma forma que as crianças, os jovens e as pessoas demeia idade.

"Acolhei-vos uns aos outros, conforme Cristo nos acolheu" (Rm. 15.7). Com graça, amor, compaixão, paciência, perseverança e perdão somos chamados por Cristo a assumir o Seu Ministério!


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