Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Palavra Episcopal setembro 2007

 

Luiz Vergílio Batista da Rosa, Bispo na 2ª Região Eclesiástica

Alguns fatos das narrativas bíblicas colocam em evidência a casa; lugar do cotidiano familiar, onde aprendemos a arte da convivência, do exercício de valores, da expressão dos sentimentos, da religiosidade. Assim, muitas de nossas mais significativas histórias de vida acontecem nesse espaço que, poeticamente, chamamos Lar.

Lembro-me da "Casa dos Hack". Uma construção centenária que os avós da Lia, minha esposa, construíram, criando ali seus filhos e filhas. Era a casa dos fundos. Conheci-a quando fui visitar Lia pela primeira vez. À noite, fui convidado a dormir lá.

Pareceu-me era um lugar muito estranho: móveis antigos, lustres antigos, camas antigas. E, num lugar estranho, a gente se sente desconfortável. Ao acordar, pela manhã, fui cumprimentado por um belo sorriso. Senti-me em casa. A casa dos fundos tornou-se o nosso lugar de encontros, vivências, do nosso cotidiano quando estávamos reunidos em família.

Anos depois, vendeu-se a casa. Ela continua no mesmo lugar até hoje, não há cercas separando-a da casa da frente, mas ali já não é nosso lugar de convívio. É apenas memória do que passou. Casa (oikos) é lugar de comunhão. As histórias que evidenciam a casa são histórias de comunhão.

Lugar de comunhão

Ouvi um conceito anglo-saxão, prático e teológico, que explica o que significa comunhão. A palavra fellowship (comunhão) teria origem na vida cotidiana de pastores que decidiam reunir suas ovelhas. Para melhor cuidado e proteção mútuos eles derrubavam as cercas que delimitavam suas propriedades, estabelecendo um espaço comum. Constituíam um fellowship: uma comunhão de vivências.

A história de Zaqueu (Lucas 19. 1-10) é uma história de comunhão, de derrubar cercas. Ela nos mostra que quando Jesus pretende chegar perto das pessoas, não há muros visíveis ou invisíveis que o impeçam de fazê-lo.

Há um contexto humano de obstáculos permeando esta história: obstáculos pessoais (sua estatura); obstáculos conjunturais (a quantidade de pessoas que estão à frente); obstáculos emocionais (sua própria auto-imagem); obstáculos sociais (sua imagem pública).

Jesus, para estar com Zaqueu, decide derrubar todas as barreiras de impossibilidades humanas, de separação. Jesus estabelece um processo de aproximação com o cotidiano de Zaqueu - o qual podemos chamar de salvação, e que também é um processo de santificação. E, no espaço da casa, das convivências afetivas, que a presença de Cristo constrange às transformações necessárias à vida uma de comunhão.

Derrubando cercas

Quantas cercas visíveis e invisíveis precisam ser derrubadas por Deus para chegar à intimidade de nosso cotidiano. "Hoje me convém", ou hoje se faz necessário estar em tua casa, em teu espaço de convivências, em teu espaço afetivo, em espaço físico, é opção de Jesus.

O encontro de Jesus com Zaqueu nos mostra que não há espaços privativos na casa e na vida humana que Ele não queira conhecer influenciar, transformar.

Tudo do que pensamos, falamos, agimos e sentimos é do interesse de Cristo; nenhuma coisa relacionada ao nosso ser pode passar despercebida ao Espírito Santo de Deus. Sim, tudo que fazemos, pensamos, sentimos é de Seu interesse.

A "casa" metodista

Nossos espaços institucionais são lugares de aproximação: de se permitir encontros com Deus. Aproximação produz salvação, tendo como conseqüência a consagração. Pois, "restituir quatro vezes mais" é consagrar-se quatro vezes mais. A ação de Cristo na vida humana impulsiona à comunhão com o próximo. "Se faltei com alguém quero restaurar muito além do prejuízo causado".

A Igreja Metodista é a nossa casa. Nosso espaço de convivências, no qual Deus aprouve estar. A Ele convém estar em nossa casa, para salvar, para santificar, para restaurar e consagrar as nossas vidas. Para promover vida em abundância.

Contudo, existem pessoas que não conseguem chegar, enfrentam barreiras e cercas visíveis e invisíveis. Ficam olhando de longe, em cima das árvores na expectativa de serem vistas, além de nossos muros, templos, instituições.

Como Igreja, Deus nos convoca para anunciarmos ao povo brasileiro que a Ele, hoje, convém estar com elas. Nosso desafio missionário é ir à direção das suas casas, de suas vidas cotidianas. De dizer-lhes que o Cristo que está em nossa casa também quer visitar suas casas, pois visitar é ampliar espaços de comunhão.

Espaços vazios nos corações humanos são espaços a serem preenchidos, barreiras a serem vencidas, porque Jesus veio para buscar e salvar a quem está perdido.


Posts relacionados

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães