Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
Palavra Episcopal setembro 2006
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Josué Adam Lazier, Bispo na 4ª Região Eclesiástica Concílio quer dizer "convocação de uma representação determinada, para definir e deliberar sobre pontos atinentes à missão que lhe é própria". O artigo 9º da Constituição da Igreja Metodista define Concílios como "órgãos jurisdicionais que se reúnem periodicamente para tratar dos interesses das respectivas áreas". Neste sentido, o verbo conciliar tem vários significados que nos ajudam no cumprimento das nossas tarefas conciliares. Ele quer dizer "pôr de acordo", "aliar, unir, combinar", "atrair, granjear, captar". |
Este convite é feito pela Palavra de Deus e expressa em Filipenses 4.2: "...pensem concordemente, no Senhor". O convite é para que conciliemos nossos desafios, nossos interesses, nossa disposição em servir ao Senhor, nossos sonhos, nossas esperanças, nossas convicções, nossas energias, etc. Como nos diz o apóstolo: "tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Fp 2.5).
O 18º Concílio Geral que se iniciou no dia 10 de julho passado será concluído nos dias 12 a 14 de outubro próximo. A primeira fase aconteceu em Aracruz/ES, para celebrar o centenário do metodismo no Estado. Neste tempo de concílio têm sido muitas as reflexões sobre as decisões tomadas na primeira fase (10 a 16 de julho) e as que serão tomadas na segunda fase (12 a 14 de outubro). Neste tempo "conciliar" é fundamental que os desafios do tempo presente sejam acolhidos como oportunidades de serviço a Deus. Destacamos algumas destas oportunidades:
Identidade e confessionalidade
Somos uma Igreja que: (a) tem como base fundamental de fé e prática a Palavra de Deus; (b) professa a unidade, a disciplina, a piedade religiosa e a prática de atos de misericórdia; (c) acredita na presença e no Poder do Espírito Santo; (d) que tem a experiência pessoal com Cristo como fundamento para a vida cristã; (e) apresenta paixão pela evangelização; (f) compromisso com a educação cristã e com o bem-estar total da sociedade; (g) enfatiza o sacerdócio universal de todos os crentes e, desta forma, está organizada em dons e ministérios; (h) de governo episcopal, no qual os bispos e bispa exercem por seu ministério pastoral, em comunhão com a ordem presbiteral, a supervisão sobre a Igreja e seus diferentes ministérios, garantindo que as decisões conciliares sejam executadas, e os dons e ministérios sejam desafiados a frutificar no mundo, para o efetivo exercício da missão; (i) enfatiza a graça divina como fundamental em toda revelação; (j) segue a natureza da comunidade apostólica, onde a fé, a adoração, o testemunho, o serviço e apoio expressam a presença do amor e ensinam a importância da mordomia cristã, pois a "missão da Igreja é trabalhar pela integridade da vida...".[1]
Ministerial
"Dons e Ministérios é a Igreja em missão através do exercício dos talentos dados por Deus aos membros do Corpo de Cristo para o serviço cristão e testemunho ardoroso acerca da nova vida em Cristo Jesus. Com dons e ministérios estamos afirmando que todos na igreja são vocacionados para a salvação, para a santidade bíblica, para o testemunho do ardor missionário, para a vivência do discipulado como um estilo de vida, para o serviço cristão e o exercício de funções no Corpo de Cristo".[2]
Os carismas (ministério leigo, ministério pastoral e ministério episcopal) devem ser exercidos na perspectiva apostólica dos propósitos para os diversos dons concedidos à Igreja (Ef 4.11-16). Neste sentido, o aperfeiçoamento dos santos, a edificação da Igreja, a maturidade cristã, a segurança doutrinária e o crescimento equilibrado são imperativos para o cumprimento dos carismas dado por Deus e reconhecidos pela Igreja, corpo vivo de Cristo.
Numa igreja ministerial não há lugar para ministério autônomo e destituído de comprometimento com os demais ministérios e, sobretudo, com a vida e missão da Igreja que reconhece os diversos ministérios e dá mandato aos mesmos.
Ênfase missionária
A essência da Igreja é ser missionária: pregar o evangelho, atender as necessidades das multidões, sinalizar a presença do Reino de Deus. João Wesley desafiava os metodistas a "reformar a nação e espalhar a santidade bíblica por toda a terra". Este era um dos lemas dos metodistas. Wesley descobriu a pregação ao ar livre e dizia: "O mundo é a minha paróquia". Para os metodistas a Igreja é o "Povo de Deus devidamente orientado por um ministério tanto ordinário, como extraordinário, uma no mundo inteiro, e sendo uma comunidade cujas finalidades se resumem em adoração e missão".
A Igreja é chamada para servir e não para se servir. Ela é instrumento de Deus no mundo e na sociedade, para registrar a presença do Reino de Deus através do serviço cristão, diligente e promotor da vida. Desta forma, a igreja não pode se fechar em si mesma, como consumidora exclusiva da revelação e do amor de Deus. Ela deve se abrir para a comunidade onde está inserida e dar o testemunho evangélico e transformador da vida. A igreja é serva de Deus e enviada para plantar a paz, a esperança, a justiça, a solidariedade e a tolerância no mundo em que vivemos. A percepção da seara onde a igreja deve cumprir com sua missão e as necessidades presentes deve ser a grande motivação para o plano de ação da igreja local.
A evangelização deve ser palavra de ordem em todos os momentos da vida cristã e da vida da igreja. O eixo missionário deve ser norteador de toda organização e estrutura eclesial.
Espiritualidade
Para o pleno cumprimento da missão, a Igreja deve desenvolver uma espiritualidade integral que expresse a dimensão vertical, através da leitura e estudo devocional da bíblia, participação na Ceia do Senhor, prática da oração e do jejum, participação nos cultos, etc., e dimensão horizontal, através da solidariedade junto aos pobres, aos necessitados e aos marginalizados. Portanto, uma espiritualidade que fortaleça a fé para as diversas ações ministeriais.
Espiritualidade tem a ver com a vida integral da pessoa em sociedade. Devemos considerar que a espiritualidade acontece em meio à vida concreta e não imaginária. Ela se evidencia na vivência do Evangelho, na prática do serviço cristão, no cumprimento das responsabilidades, na luta pelo direito e pela cidadania, na evangelização, no testemunho, na vida familiar, etc. Ninguém se tornará mais espiritual através do escapismo, do intimismo ou do individualismo.
O metodismo é resultado de uma espiritualidade dinâmica pessoal e comunitária vivida pelos primeiros metodistas e cultivada pelas gerações que se seguiram. Através da espiritualidade os meios de Graça são exercidos com disciplina: oração, estudo bíblico, jejum, vigílias, louvor, culto, pregação, etc. A Igreja Metodista enfatiza a espiritualidade pois ela é resultado da ação da Graça de Deus e do mover do Espírito Santo. "Não há metodismo autêntico sem a dinâmica pessoal e comunitária da fé em sua expressão de espiritualidade".[3]
Fé cristã e vida
A relação entre fé e vida cristã deve ser fortalecida. A igreja não é meramente um ajuntamento de pessoas que encontraram pontos comuns, mas sim a comunhão de entre aqueles e aquelas que alcançados pela graça de Deus aprenderam a importância e o valor da fé cristã e a convicção de que esta fé deve ser agente de transformação na vida pessoal, familiar, social, profissional, no exercício da cidadania e na prática dos mais altos valores do Reino de Deus. Os metodistas afirmam em sua doutrina social a "responsabilidade cristã pelo bem-estar integral do ser humano como decorrente de sua fidelidade à Palavra de Deus expressa nas Escrituras do Antigo Testamento e Novo Testamento". Neste sentido, a Igreja de Cristo deve promover os direitos humanos, a ética em todos os relacionamentos, o respeito aos valores da cidadania, a valorização dos laços familiares, pois a vida é um dom de Deus.
Discipulado
Temos uma herança que nos motiva a viver o discipulado, pois as "sociedades" ou "classes" eram dirigidas por líderes escolhidos por João Wesley e tinham a responsabilidade de visitar todos os membros; aconselhar, repreender, orientar, informar aos ministros sobre a situação dos membros e suas famílias. Atividades com apelo pastoral. O discipulado combina a espiritualidade com a ação em prol das pessoas e a herança metodista nos delega os atos de piedade e as obras de misericórdia. Havia entre os membros das "sociedades" e "classes" um sentimento de unidade e de solidariedade. João Wesley adquiriu este hábito, que transformou em uma das características do metodismo, desde os temos de estudante em Oxford, onde alguns alunos se reuniam em grupos pequenos para estudo da Bíblia, oração e busca da verdadeira santidade do coração e da vida.[4]
Discipulado, na perspectiva bíblico-teológica, não é desenvolvido de forma centralizadora ou personalista, em que o líder exerce autoritarismo ou coação sobre as pessoas. Os metodistas não seguem este modelo. O discipulado promove o pastoreio entre os membros do grupo, ênfase que marca a Igreja Metodista. Discipulado nasce num contexto de convite à missão, especificamente no atendimento as necessidades da multidão (Mt 9.35-38). A Igreja Metodista estabeleceu como tema ser uma Igreja Comunidade Missionária a Serviço do Povo.
Discipulado oferece condições para os membros da igreja se desenvolverem na vida crista e vivenciarem na sociedade os valores do Reino de Deus. O discipulado deve ser graça de Deus na vida dos membros e não lei que impõe determinados estereótipos. O discipulado não é, portanto, mais um programa da Igreja, mas está em relação direta com a dinâmica de Dons e Ministérios, que orienta os membros no cumprimento da missão, sobretudo da Grande Comissão (Mt 28.18-20).
Pastoreio
O cuidado pastoral desafia a igreja numa sociedade contextualizada, relativizada, discriminadora, excludente e individualizada. Com o tema do pastoreio queremos destacar ações ministeriais, portanto de todos os membros da igreja, e que passam pelo contato, acolhimento e integração. Pastorear "...é o processo de proteção para com o ministério de pessoas e comunidades em nome de Deus. É uma expressão do cristão para com o outro e para aqueles para quem Cristo viveu e morreu".[5] Dentro do cuidado pastoral está o aconselhamento pastoral que tem como objetivo trabalhar com indivíduos, grupos ou famílias, questões relacionadas a emotividade, sexualidade, bem como aspectos psicológicos, espirituais, mentais, físicos e outros.
James Reaves Farris considera que o pastorado envolve cura, apoio e guia. Cura no sentido de "ajudar as pessoas a se tornarem sadias física, mental e espiritualmente". Apoio no sentido de "sustentar e nutrir as pessoas com amor, diariamente e na totalidade de suas vidas... apoiar, sustentar e encorajar o povo, quando ele está faminto, sedento, solitário, ferido e inseguro... alimentar, vestir e suprir outras necessidades básicas do povo necessitado". E guia no sentido de "dar conselhos, dirigir e funcionar como uma autoridade".[6]
Sal da terra e luz do mundo
A Igreja que vai permanecer cumprindo com os propósitos bíblicos, teológicos, missionários, pastorais e doutrinários, é aquela que desenvolver o cuidado pastoral para com os seus membros. Neste sentido, a igreja é sacerdotal, terapêutica, acolhedora, comunidade de amor e de amparo. Mas, ao contrário disto, a igreja que seguir o caminho da massificação, do crescimento como fim em si mesmo, da promoção da auto-ajuda no lugar da reflexão bíblica, teológica e pastoral, do culto destituído de atos de arrependimento, confissão e dedicação a Deus, da falta de ética, do individualismo, da discriminação e da exclusão, estará minimizando a sua presença na sociedade e, conseqüentemente, deixando de ser o sal da terra e a luz do mundo.
O desafio da missão nos coloca um imperativo conciliar: não podemos encerrar o 18º Concílio Geral sem restabelecer o que o apóstolo Paulo chama de "unidade do Espírito no vínculo da paz" (Ef 4.3). Que Deus nos dê esta graça.
[1] IGREJA METODISTA, Plano Nacional - Objetivos e Metas, 2002, p. 20.
[2] Lazier, Josué Adam, Estudos Bíblicos sobre o Crescimento da Igreja, série Kairós Estudos Bíblicos Pastorais - no. 04, Belo Horizonte, 2005, pg .
[3] As Marcas Básicas da Identidade Metodista, Biblioteca Vida e Missão, pg 22
[4] HEITZENRATER,p. 61
[5] Farris, James Reaves, Teologia prática, cuidado e aconselhamento pastoral: um resumo da história recente e suas conseqüências atuais,em Teologia Pastoral, Estudos de Religião 12,São Paulo, UMESP, 1997,p. 19.
[6] Farris, James Reaves, idem,1997, p. 20-23.