Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
Palavra Episcopal novembro de 2006
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João Alves de Oliveira Filho, Bispo na 5ª Região Eclesiástica. Recordo-me da letra de um cântico bastante popular em muitas de nossas Igrejas: "Quer nas lutas, quer nas provas a Igreja sempre caminhando, sempre caminhando, sempre caminhando...". De fato, a Igreja tem sido chamada para ser uma voz profética neste mundo inseguro e conturbado pelas questões sociais que amargam e penalizam o ser humano. A Igreja é o corpo de Cristo, a unidade básica constituída pelo chamado divino para estar no mundo anunciando as maravilhas do Reino de Deus, cuja proposta fundamental é o anúncio da salvação de todo aquele(a) que crê. |
Porém, enfrenta obstáculos, barreiras, problemas que se arrastam. Muitos desses criados e instituídos por questões meramente pessoais, que contrariam a vontade de Deus e o fundamento da nossa fé cristã.
Apesar de tudo, temos que seguir em frente, caminhar, sinalizar novos horizontes, anunciar o amor de Cristo que salva, perdoa e redime o ser humano.
É indiscutível o esforço que a Igreja Metodista faz, como um todo, para investir em projetos que sinalizam a nossa ação missionária na área social, educacional, no trabalho com crianças, idosos e outros tantos. Tantos e tão variados projetos enfrentam obstáculos reais, como as oscilações entre os investimentos e acomodações; a falta de recursos financeiros e de pessoal adequado; disposição para o trabalho, pequenas intrigas. Em vista disto, as propostas devem ser claras, definindo os objetivos e fundamentos dos nossos planos, segundo o que orientam os nossos documentos.
Em 1982, o Concílio Geral da Igreja Metodista foi desafiado a criar um plano que seria o guia, o norte, a sinalização de propostas que ratificassem o pensar, o agir e o concretizar da nossa ação missionária.Surge o Plano para a Vida e Missão que, a partir de então, nortearia a nossa caminhada. O Plano para Vida e Missão foi divulgado em nossas Igrejas locais, servindo de parâmetro para os estudos bíblicos, como também expressando o conteúdo do como pensamos e agimos neste mundo tão conturbado e marcado pela presença da morte e da destruição.
Depois da criação do Plano para a Vida e a Missão, a Igreja resolve dar mais um passo e estabelece o Projeto Dons e Ministérios, com a proposta de dinamizar a vocação da membresia, afirmando que cada um(a) possui dons e há necessidade de que eles sejam colocados em prática, nascendo, a partir daí, os ministérios, que são livres para atuar na dinâmica da Igreja Local.
Em nossos dias, percebemos uma Igreja em busca de avivamento, mesclado com modelos que necessitam de uma avaliação pormenorizada, levando-nos a perguntar: Que avivamento buscamos?
Há necessidade de a Igreja conhecer a sua história, os registros que têm sinalizado a nossa caminhada e não simplesmente simplificá-los de acordo com os nossos interesses. Por outro lado, devemos estar sempre em busca da compreensão dos valores que nos fazem metodistas, especialmente quando detectamos através da nossa história que somos o povo do coração aquecido. O Evangelho nos concede o espaço de atuação no mundo, pois o mundo é o palco da nossa existência, onde devemos colocar na prática o nosso verdadeiro testemunho e os valores que Cristo tem inserido em nossos corações. Não devemos nos esquecer que em nossos dias têm surgido práticas religiosas sem precedentes, nas quais se percebe uma teologia marcada pela religião de mercado que não faz parte do conjunto de nossos valores.
É mister que não esqueçamos as ênfases doutrinárias que regem o nosso caminhar, pois o entendimento das nossas doutrinas fortalece a nossa compreensão do ensino bíblico que é a tônica da nossa atuação no mundo. Recordemos que a nossa história tem que ser contada e divulgada aonde quer que estejamos, conforme a expressão do hino: "Conto esta história, cantando assim... Na cruz foi Cristo morto por mim". (HE 341). Contar a história é contar os fatos realizados por Cristo em nossas vidas àqueles(as) que ainda não conhecem o amor de Cristo. Recordemos o texto bíblico: "Estas palavras que hoje te ordeno estarão em teu coração, tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás, assentado em tua casa, andando pelo caminho..."(Dt. 6.6-7). Assim, a Igreja estará sempre caminhando, em uma ação dinâmica, que visa romper barreiras e expressar o amor de Cristo, através da divulgação da Palavra. Porém, o caminhar não pode ser isolado, pois devemos dar as nossas mãos e, juntos, a uma só voz, andarmos pelos caminhos vencendo os obstáculos e tudo aquilo que promove a discriminação e a morte. "Se caminhar é preciso, caminharemos unidos, e nossos pés, nossos braços, sustentarão nossos passos. Não mais seremos a massa, sem vez, sem voz, sem história, mas uma Igreja que vai em esperança solidária"(Simei Monteiro - Canção da Caminhada).
Devemos nos recordar que um dos desafios da Igreja é ser uma comunidade terapêutica, ou seja, que cura, sara, promove a vida, vive em comunhão, em perdão, construindo laços de amor e fraternidade. Estas ações serão possíveis através do diálogo, que elimina a desconfiança mútua e se empenha pela unidade. Essa unidade necessita ser concretizada na capacidade de conviver com a diversidade, eliminando toda prática de sectarismo, divisionismo e indisciplina eclesial. Por outro lado, a Igreja necessita viver uma espiritualidade que expresse a dimensão vertical, pela participação na ceia, estudo da Bíblia, prática da oração, jejum, cultos, etc. e a dimensão horizontal, ou seja, uma solidariedade ativa junto aos carentes e necessitados, aproximando-se cada um(a) de todos(as), levando sempre o amor e a compaixão de Deus. Esta espiritualidade tem que ser fé em ação, comprometida, autêntica e equilibrada.
Neste caminhar, como corpo de Cristo, devemos aceitar a direção do Espírito Santo, que nos capacita a dar um testemunho corajoso e destemido do poder transformador de Cristo, enfrentando sem vacilar as forças demoníacas deste presente século. Estas forças têm levado muitas pessoas para a morte. Na autoridade do Espírito Santo somos chamados(as) a viver a verdade de que só Jesus é o Senhor e, assim, não podemos caminhar na tentação de possuirmos posicionamentos individualizados e visões particularizadas.
A Igreja está sempre caminhando: "Quer nas lutas, quer nas provas...". Este caminhar tem que romper barreiras e levar o evangelho a toda criatura. "Se caminhar é preciso, caminharemos unidos". Que a graça de Cristo continue conosco, fortalecendo o caminhar da Igreja no propósito de anunciar o Cristo aos corações vazios e desesperançados. Deus nos abençoe neste ministério.