Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Palavra Episcopal março 2007

 

Adonias Pereira do Lago, Bispo da 5ª Região Eclesiástica

"Porque Eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor, e pratiquem a justiça e o juízo." - Gn 18.19

Estamos nos aproximando da celebração que se traduz na essência da Igreja Cristã, a Páscoa. O termo "páscoa" deriva da palavra hebraica "pessach", que significa passar por cima, pular além da marca ou passar sobre (atravessar).

Ela nos traz à memória a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito e aponta para a libertação do ser humano da escravidão do pecado por meio da obra redentora de Jesus Cristo.

O Pessach é fundamentalmente uma festa da família, em que o pai, mãe ou responsável conta aos filhos, filhas, netos, netas a história da conquista da liberdade de seu povo e fala das bênçãos de Deus.Na Páscoa manifesta-se o verdadeiro sentido da vida humana. Uma vida que se sustenta nas relações comunitárias e que se prolonga para além da morte. Diante disso pergunto: qual é a forma mais adequada para a família cristã celebrar a Páscoa?Com qual sentimento e ancorada em quais expectativas a família cristã se insere na celebração pascal no contexto atual?

Faço tais perguntas em função das dificuldades que temos enfrentado nos espaços que se circunscrevem os laços parentais. As famílias têm sido desafiadas dia após dia e muitas não têm resistido. A Palavra de Deus revelada em Gn18. 19 é bem clara quando orienta a família a guardar o caminho do Senhor por meio da prática da justiça e do juízo. No entanto, o que temos visto são famílias que estão longe de atender a esta ordenança de Deus.

A Páscoa apresenta o momento propício para repensarmos as relações familiares que fundamentam o nosso agir tanto na Igreja como na sociedade. As complexas e rápidas transformações ocorridas no cenário social nas últimas décadas coincidem com mudanças significativas na forma de ser família, no que se refere ao contexto brasileiro. A concepção de valores, ética, formas de agir e de proceder desmorona-se frente a uma nova ordem mundial que carrega consigo a suspensão de todos os parâmetros tradicionais. As pessoas estão mergulhadas em uma profunda crise. Encontramos pessoas que dedicam toda a sua vida ao seu trabalho, não tendo assim mais tempo para a família e muito menos para Deus.Portanto, o debate em torno das relações parentais, tendo por base os princípios bíblicos e teológicos reconhecidos pelo povo metodista, é uma tarefa indispensável ao dia-a-dia da Igreja.

A família continua tendo um papel fundamental na construção de uma sociedade sadia, na qual as virtudes, os valores morais, o amor e a vida são imprescindíveis. No entanto, percebemos que, em vez disso, as relações familiares têm reproduzido a cultura da época. Os sinais são visíveis: egoísmo, individualismo, relações superficiais, inimizades, intrigas, aparente desintegração das relações afetivas. Isso ocorre porque as famílias, tendo como base relações eminentemente orientadas pela lógica do mercado, vivem sob a égide do desencontro, da ausência do/a outro/a e da falta de diálogo.

O medo é um dos sentimentos que tem orientado as relações: temos medo de nos relacionamos e confiarmos uns nos outros, medo de casarmos, de nos comprometermos, de termos filhos/as, de educá-los/as. A cada dia cresce o contingente de pessoas solitárias e desesperadas. Essa experiência social tem sido percebida também na igreja.

Creio firmemente que a família é à base da Igreja local, ou deveria ser. Porém, o que vemos,é um crescente número de famílias divididas, separadas, distantes, fragilizadas e feridas. Se em uma Igreja local encontramos muitas famílias desestruturadas, como esta comunidade vai testemunhar a graça e o poder de Deus? Não digo isto para desmotivar a Igreja, mas para que as famílias reajam a todas as forças que têm se levantado para destruí-las.

No momento desta reflexão me recordo de um livro que li intitulado "Se eu Começasse minha Família de Novo", de autoria de John M. Drescher. O autor trata de alguns valores e práticas fundamentais para se viver em família.Reproduzo pra você algumas atitudes básicas pontuadas no livro que julgo importantes para serem postas em prática em seu dia-a-dia, na vida familiar e em sociedade.

1. Ame a sua esposa ou seu marido em todo o tempo. Expresse amor um ao outro, não somente diga, mas tenha atitudes de amor. Seus filhos e filhas precisam ver isto em vocês. Está faltando amor, cumplicidade, fidelidade, carinho, respeito, tolerância entre os casais.

2. Brinque e se divirta com seus filhos e filhas. Seria ótimo se nós, pais e mães, nos soltássemos mais e nos divertíssemos com nossos filhos e filhas. Muitos pais e mães, em vez de brincar e estar com seus filhos e filhas, voltam-se para o trabalho além do limite e, como compensação, enchem as crianças de presentes de toda ordem e as deixam fazer o que bem entendem.

3. Procure viver a fé de maneira mais íntima e verdadeira. Você sabe onde foi parar o culto doméstico? Talvez poucas pessoas saibam dele... Aí está um dos perigos para nossa família. Tentamos viver uma vida cristã de templo aos domingos, preferencialmente à noite, pois a Escola Dominical, infelizmente, a cada dia que passa, está sendo abandonada pelas famílias. A ausência de Deus na vida dos membros da família tem gerado fracasso na própria Igreja local.

A Igreja precisa investir forte nas famílias. Ela precisa ser um lugar onde famílias inteiras sejam restauradas e salvas pela graça de Deus. É na família que precisamos ver manifestados a graça, o amor e o poder de Deus. Motivo a todos os pastores, pastoras e Igrejas locais a organizarem um Ministério de apoio familiar.

De acordo com a nossa herança wesleyana, "a santificação do cristão e da Igreja em direção à perfeição cristã é proclamada pelos metodistas em termos de amor a Deus e ao próximo". Nesta perspectiva, conclamo a Igreja Metodista a celebrar a Páscoa tendo como perspectiva a fé e a esperança. Que possamos reconstruir os laços familiares tendo como sustento a Graça de Deus que restaura, que liberta, que redime e transforma conceitos e procedimentos.

Que a Páscoa seja um acontecimento pessoal e comunitário na vida de cada um e de cada uma. Que possamos nos voltar para o/a outro/a e que possamos vivenciar o renascimento da vida, o renascimento dos laços familiares fundamentados no amor de Deus e na ação do seu Espírito.

Que Deus nos abençoe!


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