Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Palavra Episcopal maio 2008

 

 Luiz Vergílio B. da Rosa - Bispo na 2ª Região Eclesiástica

"Pedro, porém, lhe disse: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!"  - Atos 3.6

O texto de Atos 3.1-10, bem como o discurso (testemunho de fé) que segue, do apóstolo Pedro, além dos desdobramentos registrados no capítulo 4,têm como fato central a cura (mudança profunda na vida e nas relações) de uma pessoa marginalizada e discriminada socialmente, e excluída religiosamente. Esse fato expõe um contexto de controvérsias, que evidenciam as relações de poder e autoridade presentes na organização das estruturas e das instituições sociais.

Vejam que no capítulo 4.7 a clássica pergunta do Sinédrio para os apóstolos explicita o confronto: "Com que poder ou por meio de que nome fizestes isso?".

O lugar de anúncio é lugar de confronto

O lugar de anúncio da graça salvadora e libertadora de Deus e da presença evangelizadora da Igreja dá-se, sempre, em meio a confrontos entre o que já está estabelecido e a novidade do Reino.

O texto nos coloca no espaço do templo e de suas imediações. Como se sabe, o Templo de Jerusalém (Templo de Herodes) era constituído de diferentes espaços, que, de certo modo, refletiam a própria organização social da Palestina. Havia o pátio dos sacerdotes, o pátio de Israel para os homens, o pátio das mulheres e o pátio dos gentios. Também, havia o espaço físico destinado ao Sinédrio. Havia várias portas de acesso. O fato dá-se em frente à porta Formosa, no espaço onde os gentios podiam ficar. Era o pátio exterior que dava acesso ao primeiro pátio interior do templo propriamente dito, o das mulheres. Portanto, o único pátio realmente fora do templo, espaço permitido aos gentios e ao comércio de mercadorias.

O pátio: O pátio não é um espaço de permanência, de vivência; é um espaço de transição. A vida, neste contexto, acontece nas casas, nos palácios, mesmo no templo. No pátio transitam as situações efêmeras e as condições transitórias. Nas casas, trata-se dos valores permanentes, significativos. O Pátio é uma fronteira a ser ultrapassada.

O texto fala de um ser humano que está no pátio, sobrevive do que acontece no pátio. Ele assume a sua condição à margem da casa, à margem do templo. É personagem fixa numa condição imutável. Por outro lado, o texto nos mostra que o pátio é lugar da manifestação da graça e das bênçãos de Deus. Assim, o pátio é um lugar de passagem, como a Páscoa. Da morte para a vida, da escravidão para a liberdade, do lamento para o júbilo de alegria, da condição imutável para transformação.

A hora: O texto diz que era cerca da hora nona (três horas da tarde). A hora nona, junto com a terceira, eram os principais momentos para a oração. Também, nessas horas, eram oferecidos sacrifícios a Deus e a queima de incenso no altar. A hora nona, para a comunidade judaico-cristã, lembrava o instante máximo da paixão e morte de Cristo. O elemento hora surge neste contexto como para assegurar o confronto do Kronos (tempo da transitoriedade humana) e do Kairós (tempo da eternidade de Deus). O tempo de Deus, é a hora da iminência, é a hora da oportunidade, é a hora da manifestação do Reino de Deus.

O nome: Na tradição do AT o nome revela a realidade profunda do ser invocado. Os apóstolos dizem: em o nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda! O ato de falar e agir em nome de outras pessoas significa partilhar a realidade expressa por este nome. Sobre o nosso nome, como cristãos e cristãs, está selado, pelo batismo o nome de Cristo. Como comunidade cristã, é em seu nome que agimos, e, portanto O representamos. O nome de Cristo tem poder para mudar a realidade!

 

A ação evangelizadora da Igreja é anunciar a Graça

A ação evangelizadora da igreja, ao anunciar a graça de Deus, conta com as ações humanas onde as pessoas são protagonistas, não havendo lugar para a neutralidade.

No texto, o ato humanitário e solidário de quem carregava este homem até a porta Formosa, ou das pessoas que lhe davam alguma esmola, não eram suficientes para a conversão significativa da sua realidade.

Porém, Pedro e João aliaram a solidariedade humana à fé no poder de Deus, no poder sobrenatural do Espírito da Vida, da Igreja do Pentecostes, que em nome de Cristo mostrou ser capaz de transformar a vida e suas circunstâncias; de atribuir valor e significados permanentes ao existir. Atitudes solidárias aliadas à fé no Nome de Cristo desencadeam processos de transformação, restauração, libertação. A ação evangelizadora se constitui no convite aos homens e mulheres que estão no pátio a entrar na casa: Olha para nós!

Conclusões

1.Pedro, que havia negado a Cristo, no pátio, nesse mesmo espaço, dá testemunho do Senhorio de Cristo sobre a sua vida. O antigo lugar de traição torna-se lugar de afirmação da fé. Penso que o lugar por excelência da proclamação do evangelho é onde as pessoas estão à margem da vida e dos propósitos de Deus. Há um grande desafio evangelístico e missionário fora do templo.

2.Todo o poder e autoridade da ação evangelizadora provêm de Deus, que, em Cristo, nos mostrou o caminho da salvação, do Reino de Deus. Esse poder de anunciar pertence à comunidade: á poder no nome de JeuHa

3.O tempo de Deus (o Kairós) já está entre nós.

4.Somos desafiados/as a anunciar a mensagem do Evangelho, que, deve produzir a alegria da salvação nos pátios, nas casas e nos templos de nossas cidades, Estado e Nação, em nossas oito regiões eclesiásticas - como povo chamado metodista.

5.Todas as pessoas precisam ser confrontadas com o poder e a autoridade de Deus sobre a sua vida, e a serem desafiadas a experimentar a fé em Cristo. Todas as pessoas são desafiadas a se tornarem discípulos e discípulas de Cristo, sob o poder do Espírito Santo.


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