Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Palavra Episcopal Junho 2010

Vocacionados à perfeição cristã.
Breves reflexões sobre Mateus 5.43-48

 

Bispo Luiz Vergílio Batista da Rosa
Bispo da 2ª Região Eclesiástica

A experiência do pastorado metodista, com raríssimas exceções, é a de efetiva peregrinação ministerial por diversas comunidades e lugares, para atender aos desafios naturais desta vocação demarcados pelo instituto da itinerância. Evidentemente que este tipo de experiência atinge outras pessoas que, pela especificidade de suas funções profissionais, também estão sujeitas às mudanças. E, mudanças nunca são fáceis de serem feitas, sem o sentimento de perdas, especialmente emocionais.

O fato é que o lugar onde moramos torna-se referência para o mundo. Passamos a ordenar todos os roteiros a partir do lugar que residimos; situamo-nos no mundo pelo mapa mental construído por esta referência.
Ou seja, passamos a viver em função deste mapa mental, ou mapa cultural; pois mais do que definir um lugar que ocupamos para morar, construímos um mapa cultural que define aquilo que é central e o que é periférico; as coisas que incluímos e as que rejeitamos, ou, marginalizamos.
Este uso vai refletir-se em todas as áreas de nossa vida, em todas as nossas relações. Nós definimos e decidimos o que vai estar dentro ou fora de nosso mapa afetivo, familiar, político, religioso, clubístico, etc. Isto se amplia em termos de nosso olhar sobre o bairro, a cidade, o Estado, a Região Eclesiástica, o país, o mundo.
Destes olhares decorrem as guerras culturais, nas suas mais diversas e múltiplas matizes: étnico-raciais, econômico-sociais, político-ideológicas, religioso-bélicas etc., tomando novas formas de separação, segregação e aniquilamento, de morte. Nota-se que estes conflitos revelam como pano de fundo “conflitos de conhecimento”; de saberes.  Como o conhecimento é produzido na relação com as coisas e com as pessoas, qualquer entendimento que se possa fazer, considerando todos os elementos envolvidos neste processo, quer sejam centrais ou periféricos, incluídos ou excluídos, o diálogo se constitui numa das poucas possibilidades reais de solução dos conflitos humanos, de nossos pecados pessoais e sociais.

 

O caminho do diálogo
Jesus, nos Evangelhos, aparece como alguém que está sempre disposto a promover um novo modo, uma alternativa diferente e definitiva em relação aos conflitos presente nas pessoas e na sociedade, como um convite a reflexão e a desconstrução dos modelos propostos. Seu método é o caminho do diálogo. Dialogar é falar da história, é recorrer à história, que nos revela Aquele que estava no princípio e pelo qual todas as coisas foram criadas. Dialogar é contar nossa história, saber da nossa história. Dialogar é, também, saber da história do outro (a).
 Mas, o diálogo de Cristo, com as pessoas e com a Humanidade segue uma lógica: a lógica do amor. O amor é a razão única para o diálogo Deus-Eu-Outros (as).

Caminho da santidade bíblica
Em nossos mapas mentais identificamos os objetos-pessoa de nossos ódios e inimizades. Sabemos claramente quem incluímos e quem excluímos de nosso mapa mental, afetivo. Tentamos, nem sempre com êxito, amar a quem nos ama, acolher a quem nos acolhe, estimar a quem nos estima. Para Jesus este é um princípio a ser seguido, mas não esgota os limites de diálogo com Deus, pois só ele é Onipotente, Onisciente, Onipresente.
Jesus, pelo diálogo em amor, propõe um caminho de desconstrução de um modelo que ensinava a amar e a odiar. O caminho da perfeição cristã, tão sublimemente identificado pelo apóstolo Paulo, é o caminho sobremodo excelente: do amor.
Cremos que amar a Deus é ter consciência de si, do seu valor, das suas responsabilidades, dos seus compromissos, da sua experiência de encontro e da intimidade que podemos desfrutar com o Criador. Amar ao próximo é, também, descobrir a si mesmo; é encontrar na outra pessoa as possibilidades de sua plenitude e realização, à luz da ação do Espírito em sua vida.
Assim, amar é dialogar, é falar da vida, é ouvir as outras pessoas. A lógica do amor, permeando os diálogos, produz mudanças qualitativas e quantitativas. Devemos lembra que a expressão do amor de Deus, fruto do Espírito na vida da Igreja, é a melhor ferramenta de testemunho cristão e de ação missionária; pois, conforme Jesus seus discípulos e discípulas são conhecidos pelos frutos.
Amar é a vocação primordial da Igreja, assim como Deus amou o mundo, enviando Cristo. Quem ama está mais perto de Deus, mais próxima das outras pessoas, mais compromissada à natureza vocacional e missionária da Igreja, rumo à perfeição cristã.

Bispo Luiz Vergílio Batista da Rosa
Bispo da 2ª Região Eclesiástica


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