Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Palavra Episcopal Fevereiro 2010
Tragédia no Haiti
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Adriel de Souza Maia - Bispo na 3ª Região Eclesiástica A notícia do terremoto que arrasou o Haiti no último dia 12 de janeiro de 2010, especialmente, a capital, Porto Príncipe, chegou fortemente em minha vida. Estive no Haiti há cerca de cinco anos compondo uma comitiva internacional denominada: "Missão de Paz", sob a liderança de Adolfo Esquivel - Prêmio Nobel da Paz - e, nesse sentido, percorri os principais espaços políticos e sociais desta nação que vem sofrendo há anos uma qualidade de vida subumana. |
Tenho na minha memória as crianças pelas ruas da cidade à procura de um pedaço de alimento, o impacto da visita aos presídios da capital, a insegurança do povo andando pelas ruas ao som dos tiros disparados, a ansiedade da juventude na busca de uma melhor qualidade educacional e, ainda, a rede hospitalar insuficiente para atender às necessidades básicas da população. Há muita gente morrendo antes da hora e, ainda, uma população marginalizada e sem a dignidade de sua cidadania.
Assim sendo, deparei-me com um título de uma reportagem num dos jornais de grande circulação nacional: "O Haiti já estava de joelhos; agora, está prostrado". Realmente, este é o cenário deste país que sofre a profunda dor do apagamento de mais de 150 mil pessoas e incontável número de feridos e, do mesmo modo, com uma profunda sensação do desaparecimento de uma nação.
A tragédia registrou a morte de lideranças internacionais importantes que estavam lá prestando solidariedade ao povo haitiano e buscando intensificar parcerias para uma melhor qualidade de vida pessoal, social e ambiental para esse povo. Entre elas destacam-se a médica Dra. Zilda Arns Neumann, idealizadora e coordenadora da Pastoral da Criança e, ultimamente, Coordenadora Nacional da Pastoral da Pessoa Idosa e dois líderes metodistas em missão no Haiti: o Reverendo Dr. Sam Dixon, diretor da Agência de Socorro Humanitário da Igreja Unida (UNCOR) e o Reverendo Clint Rabb, Coordenador dos Voluntários em Missão da Igreja Metodista Unida.
Ainda no ardor dessa tragédia algumas rápidas considerações:
a) Num desastre com essa proporção muitas são as interpretações apocalípticas sobre a tragédia.Devemos ter muito cuidado com as explanações teológicas que estão sendo dadas a esse acontecimento e, na verdade, muitos cercados de preconceitos e descaracterizando o fundamento bíblico do Deus da justiça, da paz, da reconciliação e mesmo com as contingências humanas é o Deus que revela em Jesus Cristo o seu amor à humanidade. Foi muito oportuna a reflexão do Pr. Ricardo Gondim quando ele sublinha: "acredito em um Deus que se relaciona com a humanidade em outras bases. Deus é amor. A bonança e a tempestade são elementos da contingência, espaços para a liberdade. Não creio na teologia da Providência. Aceito que Deus amorosamente participa nas iniciativas de bondade e nos movimentos de justiça que um cataclismo possa desencadear. Não imagino que o Deus de Jesus Cristo possa estar por detrás de um acidente tão horrendo. Ele é luz e interpela homens e mulheres de bem que se façam presentes na catástrofe, minorando o sofrimento dos pobres. Descreio das lógicas que transformam os pensamentos divinos em maldição, Deus é o Deus da paz."
b) Assim sendo, é quase impossível encontrar palavras para apresentar a tragédia no território haitiano. As notícias que chegam e as imagens que são exibidas dão conta da profunda agonia e do total estado de caos da população no Haiti. Comentando sobre o terremoto no Haiti, o Pr. Israel Belo de Azevedo, em sua mensagem "Prazer da Palavra" de 21 de janeiro de 2010 diz assim: "A chamada "peste negra" devastou a Inglaterra no começo do século 17. De seu escritório na igreja, o pastor John Donne (1572-1631) via os corpos sendo carregados para serem sepultados em valas comuns, como no Haiti de 2010. Então escreveu:
"Nenhum homem é uma ilha plena em si mesma. Cada homem é uma parte do continente, uma parte do todo. Se uma porção de terra é levada pelo mar, a Europa é levada, como se um penhasco fosse, como se a casa dos teus amigos ou a tua própria fosse. Toda a morte humana me diminui, porque sou parte da humanidade. Então, não queiram saber por quem os sinos dobram: eles dobram por ti" (John Donne - Devotions Upon EmergentOccasions, 1623).
c) No cenário dessa agonia, uma luz brilha, ou seja, a luz da solidariedade de agências humanitárias, ONGs, Igrejas, empresas, voluntários se apresentando de toda a parte do mundo, governos etc. se articulam para oferecer ao povo haitiano a dignidade da vida. Com certeza, somente a solidariedade ativa poderá tirar o povo dessa prostração e colocá-lo em pé para sonhar com o novo dia.
Nessa perspectiva, o povo chamado metodista está sendo convocado para participar desse movimento de solidariedade em favor do povo haitiano e a reconstrução desse País.
Igualmente, reafirmamos a nossa confiança na graça transformadora de Deus, mesmo diante da ambigüidade da vida.
Em oração em favor dessa nação.
Com fé, esperança, solidariedade e amor.