Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Palavra Episcopal dezembro 2009
Para cumprimento das Profecias
"Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta:
Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel
(que quer dizer: Deus conosco)." (Mt 1.22-23)
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Paulo de Tarso de Oliveira Lockmann - Bispo na 1ª RE 1. Introdução - Herdeiros das Promessas: O Messias veio e voltará. Natal é principalmente a celebração do cumprimento das promessas de Deus de que: "Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR." (Is 11.1-2). Sim, Deus envia o ungido - o Messias - Jesus Cristo, o qual foi e é para a Igreja Cristã a promessa de Deus que se realizou. |
A este respeito se referia o Apóstolo Paulo: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo." (1 Ts 5.23). Ora, a Igreja somente tem uma escatologia, que trata dos últimos tempos e da segunda vinda de Jesus Cristo, porque um dia Ele veio! Conforme o testemunho do Apóstolo João: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai." (Jo 1.14) (Leia também 1Jo 1.1-3).
Preciso recordar estes fundamentos da nossa fé, porque alguns inconseqüentes no mundo evangélico têm a ousadia de pregar contra a celebração do Natal. Deixe-me dizer que sem Natal não tem Jesus Cristo, e sem Jesus Cristo não tem salvação. As alegações são que o Natal estaria vinculado às celebrações de divindades nórdicas, enfim uma sucessão de argumentos "históricos", mal interpretados, e que só funcionam para quem não conhece a história e a teologia. Abomino aqueles que esquecem a história e a tradição da Igreja, como se eles mesmos tivessem inventado a Igreja; agora, este tipo de arrogância é nociva ao mover do Espírito Santo nos 2000 anos de história da Igreja.
A verdade é que não se tem absoluta certeza da data exata do nascimento de Jesus, no entanto, sabemos e cremos que Ele nasceu. E desde muito cedo na história da Igreja o nascimento de Jesus foi celebrado. A maioria dos estudiosos do Evangelho de João reconhece nele diversas partes como elementos da celebração cúltica da Igreja Primitiva, uma das mais notadas é a do prólogo de João (cf. Jo 1.1-14). Ou seja, a Igreja, desde o primeiro século, celebrou a vinda de Jesus ao mundo, ou seja, o Natal. Com que direito alguns ansiosos por inventar modismos, querem extinguir isto?
Vejamos como a comunidade de Mateus faz refletir no Evangelho, a sua visão de alguns dos sinais proféticos sinalizados no nascimento de Jesus.
2. As preocupações do Evangelho de Mateus acerca de Jesus, o Messias.
Uma das primeiras lições sobre o Evangelho de Mateus é que ele foi desde cedo reconhecido como um Evangelho dirigido aos judeus. Há muitas outras evidências internas no Evangelho que nos mostram o esforço de Mateus e a sua igreja de provar através das profecias que Jesus era sim o Messias prometido através dos profetas. É o que veremos nos primeiros relatos do nascimento de Jesus, conforme Mateus.
a) "E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo." (Mt 1.16). Vejam que Mateus limita a genealogia de Cristo (o Messias) aos antecessores do povo eleito, começando com Abrão, o patriarca da nação de Israel. Assim o Evangelho não deixa dúvida, Jesus, o filho de José, procede da raiz de Jessé, conforme as profecias (cf. Is 11.1). E este Jesus é o Cristo - o Messias. Soma-se a isto que na época de Jesus o título messiânico lembrado era Filho de Davi (cf. Mc 10.46).
b) "Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)." (Mt 1.22-23). Aqui a profecia é citada por um anjo, o que caracteriza uma interferência divina e evidente na história, o anúncio do nascimento ocorre por uma visita de Deus, através de seu anjo mensageiro. Isto coloca a narrativa no nível dos momentos de visitação ocorridos no Antigo Testamento, o significado é algo novo, que está começando, uma nova aliança está sendo escrita.
O conceito está escrito por intermédio dos profetas, que reforça a idéia de Deus desejando sempre ter seu povo junto dele, libertá-lo, resgatá-lo, abençoá-lo. Sempre foi o objetivo da profecia, mesmo quando ela anuncia o juízo e a condenação do pecado no meio do povo. A vinda do Messias apontava o momento, assim estava denunciando o pecado, e como diz a profecia apontada pelos mestres a Herodes: "... de ti sairá o guia que há de apascentar o meu povo..." Sim, Jesus Cristo é como o ungido apresentado como o grande Pastor de Israel e da Igreja. Nele se inspirou a pastoral da Igreja Primitiva e deve inspirar o nosso ministério pastoral, e o ministério da Igreja, enquanto enviada a cuidar dos pobres e pecadores.
Isto foi muito bem sublinhado por Mateus no ministério de Jesus. Vejamos alguns momentos.
1) Sua missão: "... e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar, nos confins de Zebulom e Naftali; para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios! O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte resplandeceu-lhes a luz. Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus." (Mt 4.13-17).
Jesus sai do jejum e tentação no deserto e cumpre a profecia de abrir os olhos do povo que estava em trevas e pecado, o seu convite, centro de sua missão, foi: "... arrependei-vos ... está próximo o reino dos céus ..." (Mt 4.17).
2) "... e passou a ensinar-lhes dizendo ..." (Mt 5.2).
Esta frase introduz seu ministério de discipulado aos discípulos e as multidões. O sermão do monte é a unidade contínua mais completa do manual da vida cristã, sempre ancorada no ensino do Antigo Testamento, algumas vezes radicalizando positivamente: "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo." São os padrões da nova aliança, trazidos com a vinda de Cristo Jesus ao mundo, e Ele exercendo o papel de Pastor e Mestre.
3) "Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se dela e curou os seus enfermos". (Mt 14.14).
Aqui Jesus expressa literalmente seu coração de pastor, compadeceu-se de seu povo, de suas enfermidades, de suas dores, de suas necessidades. Este padrão é trazido ao mundo na pastoral de Deus, através do Messias. Esta sensibilidade espiritual, messiânica, estava no coração de Jesus, e deve estar no coração de nossos pastores e pastoras, e, acima de tudo, deve estar no coração da Igreja como povo de Deus, chamado a ser sinal profético ao mundo. Sim, precisamos ter os olhos de Deus, os ouvidos de Deus e, acima de tudo, o amor de Deus. Paulo nos recorda: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." (Fp. 2.5).