Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Palavra Episcopal de maio
João Alves de Oliveira Filho
Bispo Emérito da Igreja Metodista -5ªRE.
O mês de maio, especialmente na tradição da nossa Igreja, tem sido lembrado como o mês da família, pois além de nele se enaltecer a questão familiar, comemora-se no segundo domingo o "Dia das Mães. Há de se ressaltar que "um" mês é muito pouco para que o assunto "família" seja profundamente debatido, estudado e questionado, pois há variáveis significativas que necessitam de um "adorno" mais profundo.
A igreja, em sua ação docente, tem procurado se pautar pelo ensino bíblico para conscientizar sua membresia sobre o tema da família. Trata-se de uma "luta" desigual, pois enquanto ela, Igreja, se debate em temas que, para uma grande parte da sociedade, já estão superados, a precocidade de outros temas avança "a passos" largos. O desafio está nas mãos da Igreja, que por meio de ações santificadoras, amorosas e terapêuticas, deverá dar continuidade a projetos que visem fortalecer os laços da família. Porém, o que Jesus espera de cada um(a) de nós, em se tratando de: família - chamado - compromisso? Compartilho com vocês dois momentos, não muito convencionais,
A primeira cena é relatada no evangelho de Lucas 2.41-52, cujo texto refere-se a Jesus com 12 anos de idade dialogando com os doutores no Templo. O contexto versa sobre a Páscoa, os pais de Jesus foram participar dessa festa e, no retorno, o menino se perde. Os pais voltam para procurá-lo e, quando o encontram, a mãe lhe diz: "Filho porque fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos a tua procura" (v.48). O menino responde: "Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?" (v.49). No relato podemos perceber alguns aspectos do nosso cotidiano, tais como: festa, perda, procura, encontro, preocupação. A "bronca" é a mesma recebida por Jesus: "Por que fizeste assim conosco?" Cada um(a) de vocês poderá interpretar esta frase da melhor maneira possível, mas tenho plena certeza que as mais comuns são: "Não chegue tarde"... "De onde estiver ligue para casa"... "Cuidado com quem anda", etc. A resposta do menino não foi compreendida pelos pais, porém, a mãe, de acordo com o relato, guardava tudo em seu coração.
Enquanto a preocupação da mãe era com a figura do menino, ele radicaliza: não vim a este mundo para colocar em prática este tipo de preocupação... vim a este mundo para cumprir a vontade do meu pai. Este é o meu compromisso. Talvez perguntemos: Jesus não enfatizava a questão familiar? Sim, ele viveu com a família, cresceu em um ambiente familiar, trabalhou com o pai, etc., porém, deixou claro que a família não podia impedi-lo de cumprir a tarefa para a qual estava comissionado. Para aos nossos dias, esta é uma variável que devemos levar em consideração, ou seja: até que ponto as relações familiares não têm impedido uma comunhão sinalizada pela Graça? Até que ponto as preocupações exageradas não têm roubado e impedido que o diálogo seja o caminho viável nas comunicações e relacionamentos? Até que ponto a Igreja continuará se debatendo em temas descontextualizados, enquanto nossos(as) jovens, filhos(as) contemplam e vivenciam um mundo diferenciado e mergulhado em proposituras que "arranham" a nossa vida espiritual? Não estou afirmando que devemos "romper" com a família, subjugar a família, porém colocá-la no caminho de Jesus, ou seja, a família é aquela que segue os passos do Mestre e não empecilho na promulgação do Reino de Deus.
A segunda cena encontramos em Mateus 12.46-50. Incisiva, dura, radical a palavra de Jesus. Do ponto de vista estritamente sentimental e emocional, dificilmente compreenderemos esta orientação de Jesus. Alguém afirma: "Estão aí seus irmãos e sua mãe e querem ver-te." O filho responde: "Quem são meus irmãos e minha mãe?" E aponta para os discípulos sinalizando que eles são os irmãos, ou seja, a família dEle, pois irmãos, mãe e irmãs são aqueles(as) que fazem a vontade de Deus. Esta cena não é comum; ela é imprópria para os nossos padrões egoístas e conformistas. Será que Jesus recebeu sua família? Deu atenção a ela? Orou com ela? Por outro lado, qual foi a reação da família? Aceitou a postura de Jesus? Insistiu em dialogar com ele? Foi embora? A resposta pode ser encontrada em Marcos 3.20-21. De acordo com o texto, Jesus vai para casa e a multidão o segue, não dando "trégua" nem para o momento da refeição. Neste momento chegam os parentes (família) e preocupados com tudo que cerca o Filho famoso, decidem "blindá-lo", pois crêem que ele está fora de si e mentalmente afetado. Este fato ilustra muito bem quão pouco a sua família o compreendia, e também quão pouco compreendia a sua missão. Porém, queiramos ou não, uma coisa fica muito clara: família para Jesus são aqueles(as) que estão no caminho e o ajudam a carregar a cruz. Mas o que fazer com a nossa família? A família de Jesus resolveu protegê-lo e até insinuou que ele estava "fora de si". E nós em nossos dias? Como temos tratado as nossas relações familiares? Não tenho condições de responder, mas até que ponto família-instituição e família-do-caminho se ajustam? Família-instituição é aquela que atua em redor de si, se auto protege, determina parâmetros, cria personalismos... vive no gueto. Família-do-caminho, encontra pessoas, cura as feridas, ouve, é perseguida, não tem proteção, é peregrina... família-do-caminho... caminha, carrega a cruz, vive a auto-doação, não tem ouro nem prata... tem a Graça da Ressurreição.
E a Igreja? O que fazer com a família? Ampará-la? Desampará-la? Moldá-la?... Discriminá-la? Em meio a tantas figuras e projeções, que se misturam com malabarismos no sentido de se encontrar o significado da cruz, projetamos e muitas vezes deliramos. Criamos sofismas, montamos palcos, projetamos shows, inventamos, re-inventamos... com a finalidade de trazer Deus até nós, agradar a Deus... queremos vê-lo no trono, para quê? Raspamos as nossas cabeças, andamos descalços, dançamos, louvamos, oramos... atingimos as nossas famílias?.. Ajudamos a colocá-las no caminho? Enquanto a nossa adoração embasar-se somente em temas que nos distanciam, que recriminam, que discriminam... enquanto a nossa adoração embasar-se somente na esfera vertical, ou seja, para nós mesmos, para a nossa satisfação, continuaremos a procurar Jesus e, ao encontrá-lo, ouviremos: meu pai, minha mãe, meus irmãos e minhas irmãs, são todos(as) aqueles(as) que fazem a vontade do meu Pai. Como reagiremos? Conforme afirma o cântico: "Família unida somos, família de Jesus, / Iluminados todos, / Da mesma santa luz.../ Olhar com simpatia os erros de um irmão, / E todos ajudá-lo com terna compaixão (HE, 395). Fico a perguntar: como anda a ecumenicidade da família? Será que segue os padrões da Igreja?... Da Graça Redentora? O poeta, em sua interpretação teológica pode nos deixar este legado: "Família unida somos, família de Jesus," e por pertencermos a essa família, olhamos com simpatia, não com discriminação, os erros do nosso irmão. Será que não é isto que nos falta? Temos sidos ousados o bastante, como família, a ponto de "olhar" com simpatia as nossas relações, especialmente as ligadas com aqueles(as) que fazem parte do nosso ambiente familiar? Quantos de nós ? esposas, maridos, filhos(as), pastores(as) ? não somos "escanteados(as)" porque não seguimos os estereótipos? Como poderemos, como família, andar pelo caminho... carregando a cruz?