Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 03/07/2012

Palavra Episcopal: bispo Roberto Alves fala sobre os Plano Vida e Missão

30 anos de Vida e Missão?

O Plano para a Vida e a Missão da Igreja está completando 30 anos desde que foi aprovado pelo 13º Concílio Geral da Igreja Metodista realizado em 1982. Os anos 80 foi o fim da idade industrial e o início da idade da informação, sendo chamada por muitos historiadores como a “década perdida para a América Latina”, devido à estagnação econômica. Foi também um período marcado por guerras internacionais, guerras civis e guerrilhas. Aconteceram muitos movimentos políticos de independências de países e lutas por manutenção de poder.

Neste contexto histórico nasce também na América Latina a Teologia da Libertação, que se inspirou no profetismo hebraico para fazer sua crítica social, moral e política, mas pecou por associar tudo isto com a o materialismo marxista ateu. Sem dizer que no contexto metodista nossos teólogos tinham um discurso desassociado da prática, pois, com raras exceções, a maioria deles falava e defendia os pobres, mas mantinham sua prática na vida burguesa e regalias que o sistema lhes garantia.

Levando em consideração todos estes fatos, podemos observar que o Plano para a Vida e a Missão da Igreja nasce em um ontexto de inúmeros desafios sociais, políticos e religiosos. Vem com uma forte influência o desafio de dar uma resposta missionária ao contexto vivencial do povo brasileiro: pobreza e miséria extrema.

 A meu ver, um plano muito bem elaborado. O resultado foi maravilhoso. É um plano que tem um conteúdo bíblicoteológico bom, uma preocupação com o contexto vivencial do povo, da igreja brasileira e uma proposta eclesiológica e missionária maravilhosa.

Porém, algumas situações impediram a aplicação do PVMI: falta de capacitação da liderança, incoerência entre a teoria e a prática, demasiada prática na militância política para fins e interesses próprios, falta de identificação com o povo e outros. Isto gerou uma visão que todo problema era político. Criou a visão equivocada que devemos mudar a sociedade para melhorar o ser humano. Quem diria na década de 80 que o PT iria fazer aliança com o PMDB? Quem diria que o PT estaria envolvido profundamente com o famoso “mensalão” até o pescoço?

Não adianta mudar apenas a sociedade, precisamos também mudar o ser humano, ou seja, gerar um ser humano com valores éticos que geram práticas de alguém íntegro, de caráter, que sabe discernir e diferenciar a vida da morte, a justiça da injustiça, a paz da guerra. A base para que isto aconteça é a identificação profunda de cada ser humano com Jesus Cristo, mas, infelizmente, muitos chamam isto de proselitismo.

Estas incoerências e muitas outras aprisionaram o PVMI que inspirou um novo conceito eclesiológico e missiológico. A proposta revolucionária de ser uma Igreja de Dons e Ministérios e deixar uma estrutura antiga de uma igreja de cargos não funcionou, pois muitos “donos de igreja” mudaram apenas os nomes das comissões para ministérios, mas não aplicaram onovos conceitos de uma Igreja Ministerial. Infelizmente, ainda hoje isto acontece em muitas comunidades locais e explica o seu não crescimento em cumprimento da missão que Deus nos confiou.

O Plano para a Vida e a Missão da Igreja foi e ainda é uma grande bênção para Igreja Metodista no Brasil, mas nossa grande dificuldade está no tipo de liderança e membresia que temos e somos. Alguns dizem que somos uma igreja com belos documentos, mas sem ressonância na vida prática da igreja local. Isto é fruto de uma comunidade descomprometida com os verdadeiros valores bíblicos e doutrinários do Reino de Deus. Há muitos ventos soprando sobre a vida da Igreja Metodista, mas não nos esqueçamos de que o único vento que direcionou os metodistas primitivos e wesleyanos foi o vento do Espírito Santo de Deus.

Não podemos mudar esses trinta anos de história da existência do Plano para a Vida e a Missão da Igreja onde não houve sua aplicação e prática na vida de cada metodista, mas podemos usar este momento histórico para avaliar nossos erros e equívocos, nossa falta de compromisso, nossa insubmissão as decisões conciliares e nossa dívida missionária com todo o povo brasileiro, pois estamos privando nossa nação de conhecer uma denominação histórica, séria, bem fundamentada na Bíblia, com doutrinas fundamentais do cristianismo, sistema político, financeiro, eclesiológico transparente, participativo, justo e coerente.

Vamos deixar as “meninices” e a individualidade para resgatarmos muitos que estão vivendo no julgo da opressão e da escravidão dos sistemas modernos, mas também bem antigos de uma religiosidade de aparência, engano e alienação. Temos um compromisso: “Fazer Discípulas e Discípulos nos caminhos da missão para cumprir o mandato missionário de Jesus Cristo”. Que o Plano para a Vida e a Missão da Igreja seja a nossa bússola missionária para cuidar do nosso único negócio no Brasil: ganhar vidas para Jesus Cristo.

 

Em Cristo,
Bispo Roberto Alves de Souza
Presidente da 4ª Região Eclesiástica


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