Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Palavra Episcopal abril 2008

 

Marisa de Freitas Coutinho é Episcopisa na Região Missionária do Nordeste (REMNE)

Fui abordada por uma pessoa que inquiria-me: "Se Jesus voltasse hoje, o que Ele diria ao mundo, na perspectiva cristã e metodista?" A princípio pareceu fácil a resposta, já que vários textos bíblicos vieram à mente. Depois ao olhar pra realidade que nos cerca, a resposta começou a sair mais lenta. Os sentimentos interferiram na lógica da resposta racional. Repentinamente, apareceram pontos obscuros que causaram inquietação. O que dizer frente a tantos desarranjos da realidade humana e todos tão agressivamente visíveis? É tanto desatino que gera sentimento de inviabilidade do planeta.

Aliás, a situação é tão delicada que o próprio globo começa a clamar por uma reversão desta ordem amalucada. Os prognósticos não são bons: para manter o custo do desenvolvimento global o ser humano está gerando um suicídio coletivo. Daqui a alguns anos o planeta terra ficará inviável. A previsão é de temperaturas oscilando entre extremos de frio e de calor. Não haverá água disponível. Os raios solares, sem o anteparo da camada de ozônio, destruirão os seres vivos. O caos se estabelecerá. Tal desgraça é só uma coroação do pecado que tenazmente assedia e multiplica todo o fruto da carne (Gl: 5:19-21). Sempre que o ser criado perde a referência do Criador, a desgraça se abate sobre ela mesma (a criatura).

Eta mundão de Deus, tão maltratado pela criatura! Tantos males, tantas injustiças sociais, tanto sofrimento e tragédias! Enquanto alguns/as lutam pela paz, países celebram acordos econômicos das corridas armamentistas. Enquanto alguns/as correm atrás da cura de doenças crônicas, outros/as debruçam-se na conquista das armas químicas. O pecado já não é só individual - é organizado, é coletivo, é institucional. E Deus onde está?

Deus está aqui! Por mais estranho que pareça, até esta condição de desgraça no mundo reflete a natureza do Deus Criador: Ele amou, criou e confiou. "Por que Deus não impediu que Adão, e com ele todos os homens, tenham caído em pecado? Por que lhes deu a liberdade de decidir-se até mesmo contra Deus e os mandamentos de Deus? Essas perguntas são colocadas por Wesley em diferentes passagens de sua obra, acrescentando logo resposta: justamente, a liberdade corresponde à natureza essencial do homem, tal como Deus o quis criar como seu parceiro na criação". Difícil entender este Deus, mas é isto que Ele nos ensina acerca de Si mesmo. Ele é (Êxodo: 3:14) não importa o que aconteça. E, em sendo, ama-nos com Graça.

A Graça de Deus

Esta compreensão do Deus Gracioso é mensagem central da Bíblia e, portanto do testemunho do/a cristão/ã metodista.

a) Definindo a Graça

A pastoral: Testemunhar a Graça e fazer discípulos e discípulas, afirma que a palavra Graça aparece 339 vezes na Bíblia (versão Almeida atualizada) sendo 125 no Antigo Testamento e 214 no Novo Testamento (p. 12 da Pastoral). Wesley afirma: "Todas as bênçãos que Deus tem concedido ao homem são simplesmente por sua graça, generosidade ou favor. Seu favor gratuito e que não merecemos, não tendo o homem nenhum direito à menor das suas misericórdias. Pois nada existe em nós, ou temos, ou fazemos que possa fazer-nos merecedores da menor coisa das mãos de Deus. E diz mais: "Se então os pecadores encontram favor de Deus é "por graça sobre graça!" Se Deus ainda condescende em derramar bênçãos sobre nós, sendo a salvação a maior delas, que podemos dizer a respeito dessas coisas senão: Graças a Deus por seu dom indizível! Assim é. Deste modo, Deus ordena o seu amor para conosco em que sendo nós ainda pecadores, Cristo morreu" para salvar-nos. Sois salvos pela graça através da fé. A graça é a fonte e a fé a condição da salvação."

b) Graça: preveniente, salvadora e santificadora.

Preveniente - A graça de Deus atua no ser humano ainda antes que ele/a tenha sequer consciência de Deus. Ainda assim Deus já o/a abençoou com a vida, com a criação e com o ato sacrificial dEle na cruz - a este aspecto da Graça é que se denomina preveniente. Wesley disse: "A Graça preveniente no pecador desperta a fé na verdade da mensagem da salvação (...) juntamente com a primeira motivação para a esperança e o amor de Deus."(p. 19 da Pastoral).

Justificadora e Salvadora - "A salvação se realiza através da graça convencedora usualmente chamada nas Escrituras de arrependimento, que traz maior quantidade de conhecimento próprio e liberação ulterior do coração de pedra. Depois experimentamos a salvação propriamente cristã, pela qual, "através da graça", "somos salvos pela fé".. Pela justificação somos salvos da culpa do pecado e restaurados ao favor de Deus; pela santificação somos salvos do poder e da raiz do pecado e restaurados à imagem de Deus."

Santificadora -- "O fundamento da santidade é ação "graciosa" e salvadora de Deus na morte de Jesus, por cujo sangue tudo que se separa, tudo que é impuro, não santo e injusto, é afastado do homem, pois através de Cristo o homem escravizado ao pecado foi comprado para Deus (Cf. 1Co 9.19). Assim, a Graça santificadora não somente é uma continuação do processo de justificação, mas presente em toda ação redentora de Deus em Cristo."

Conclusão

A presença de Deus neste mundo é a fonte de vida de todo/a aquela que crê. Por isto não se deixa abater, por mais difícil que a realidade se mostre. Quem segue a Cristo sabe que a Graça do Pai é presente e poderosa a ponto de sarar a terra. Somos alcançados/as pela Graça e por ela somos alimentados na missão de "Ir e pregar..."

"Deus está querendo receber este mundo aflito, com abundante Graça, amor e perdão". (p. 21, Pastoral). Quem foi alcançado /a pela Graça de Deus não teme o mal, mas enfrenta-o corajosamente. Devemos proclamar a altas vozes, a quantos/as estão sob cativeiros infernais, de ódio, vícios, prostituição, andam cegos/as, cheios de tristeza, oprimidos/as, ansiosos/as pelo nosso testemunho da Graça. Abramos os lábios e testemunhemos: eis o ano aceitável da Graça do nosso Deus! É o ano da justiça, tempo de restituição graciosa aos/às que pelos/as poderosos/as foram negados/as os direitos básicos da vida, casa, educação, saúde, etc. (Pastoral p. 22).

Que o Senhor nos agracie a ponto da nossa Pátria ouvir: "A riqueza não é necessária para a glória de qualquer nação; mas sabedoria, virtude, justiça, misericórdia, generosidade, espírito público, amor pelo País. Estes são necessários para a glória real de uma nação, mas abundancia de riqueza não é." (Palavra do pastor João Wesley).


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