Publicado por José Geraldo Magalhães em Social - 07/07/2014
Opção pelos pobres: Teologia social do metodismo brasileiro
Para se falar de opção preferencial pelos pobres no pensamento social do metodismo brasileiro e os consequentes desafios que gera, se faz necessário antes responder a pelos menos duas perguntas: Há uma teologia social no metodismo brasileiro? Quais são os seus acentos marcantes? Quando se fala em Teologia Social do Metodismo Brasileiro, de imediato se é remetido à elaboração teológica e às escolhas pastorais presentes nos documentos basilares de sua missão, fruto das decisões dos Concílios Gerais e do esforço elaborativo do Colégio Episcopal.
Nestes documentos (Credo Social, O Plano Para a Vida e a Missão e o Plano Diretor Missionário etc.), percebe-se um estruturado pensamento social, com escolhas e preferências pastorais/teológicas que se diferenciam dos estranhos acentos que norteiam e embalam a vida eclesial de algumas igrejas “ditas” evangélicas na América Latina. Da leitura desses importantes documentos, percebe-se que a Igreja demonstra estar consciente que a missão consiste em assumir plenamente as opções de Jesus como suas, mesmo que isto aponte para a renúncia de privilégios, em contramão evidente com os caminhos que grande parte do movimento evangélico brasileiro percorre.
Da comparação entre a Teologia Social do Metodismo Brasileiro e a Teologia Wesleyana, nota-se que a Igreja conseguiu construir em cima de seus fundamentos iluminadores, algo interessante e mais aguçado. Seu pensamento social é permeado pela tônica da responsabilidade social e dimensão pública da fé, com consciência da origem dos males causados pelos sistemas econômicos injustos.
Não se propõe somente a denúncia profética, mas o agir transformador da realidade opressora, o colocar-se ao lado dos sofredores, optando-se preferencialmente a favor dos pobres (Exemplos: Credo Social - Bases Bíblicas - no 8, 9, 10; Ordem Político-social e Econômica, no 4, no 7, letras d, e, f, g; Responsabilidade Civil – no 2; Problemas Sociais – no 13, letras a, b, c, e; No Plano para Vida e a Missão é afirmado que a Igreja deve “identificar-se com o povo das periferias em seus problemas e lutas, empenhando-se em ajudá-los e a se unirem em comunidade de reflexão sobre a Palavra de Deus, de ajuda mútua e de ação libertadora em seu próprio favor, através da descoberta de suas possibilidades e direitos” (PVMI – Área de Ação Social, item 4.14).
Percebe-se que a teologia social metodista brasileira, vai além das percepções wesleyanas iniciais, sendo possuidora de instrumentos interpretativos e de ação pastoral que podem desembocar numa prática missionária mais afiada.
Opção preferencial pelos pobres
A opção pelos pobres não representa uma extrapolação ao texto bíblico ou uma prática que revela um Deus que prefere alguns em detrimento de outros? Para certos setores enamorados por uma teologia que correlaciona escolha divina com abundância econômica e vê a organização da sociedade como natural e provinda de Deus, preferir os pobres aponta para uma prática discriminatória e antibíblica. Seria isso verdade? O argumento posto é que Deus não faz acepção de pessoas e que preferir os pobres significaria um acento desqualificador da perfeição divina. Eles entendem que qualquer opção preferencial é elemento que contradiz a imparcialidade divina. Se é que de fato Deus é imparcial!
Para não se ter com estranheza a opção preferencial pelos pobres, o caminho é olhar para Jesus e procurar compreender Sua postura missionária. Como fruto deste processo, perceber-se-á que quem primeiro fez a opção pelos indefesos, pelos desprovidos de vida plena, foi o próprio Senhor que, no Evangelho de Mateus, se revela como sendo um deles (cf. Mt 25.31-46) e convida a comunidade de Seus/as seguidores/as para que O vejam nos pobres.
Misericórdia divina
A opção preferencial pelos pobres presente na teologia metodista brasileira, demonstra acima de tudo, o amor de Deus como Pai, a radicalidade da misericórdia divina que não se agrada que Seus/as filhos/as estejam nus/as, com fome, oprimidos e abandonados. Deus se compadece daquele/a que está em sofrimento não por ser ele/a melhor que qualquer outro/a, mas por estar perdido/a, em necessidade urgente. A lógica que nutre a preferência de Deus, não está focada na superioridade da pessoa do pobre em relação aos demais seres humanos, mas na sua condição de sofrimento que demanda uma ação urgente de socorro e acolhimento (Tg 2.5-7).
E a teologia da prosperidade?
Se for levada em consideração a lógica que move alguns movimentos religiosos do contexto atual brasileiro, afeitos à teologia da prosperidade, essa concepção sobre Deus que opta preferencialmente pelos pobres é de difícil compreensão. Tomados por miopia grave, estes movimentos entendem que a bênção divina sobrevêm sobre aqueles/as que fazem por merecer, isto é, através de ofertas vultosas, ritos suntuosos, sacrifícios e consagrações dispendiosas. Tudo feito para que Deus cumpra os desejos do/a fiel. Partindo dessa lógica, o/a pobre não teria o privilégio da atenção especial de Deus, pois não tem nada para oferecer; são pobres porque lhes falta a presença divina. Deve-se dizer que esses movimentos desenvolvem uma teologia sob a lógica do mercado, isto é, a atenção de Deus, sua preferência, assim como tudo, tem seu preço.
O metodismo diante disto?
Ainda que a teologia social do metodismo brasileiro siga de perto os passos de Jesus, assumindo como dela as opções da comunidade apostólica (Lembrai dos pobres...), em vários períodos de sua história, o metodismo parece também ter dançado embalado e atraído pelos encantos de uma pastoral mais fácil e domesticadora. Sendo assim, cabe ao metodismo brasileiro atual fazer uma escolha: viver os acentos missionários de sua teologia social pujante ou, optar em trilhar pelo caminho mais fácil, longe da trama histórica marcada pela desigualdade sem confrontos e riscos.
Enfim, a Igreja está diante de algumas escolhas: de que lado ela estará? Como Jesus, sentar-se-á junto aos/ás pobres, fazendo-se um deles ou se satisfará com as iguarias da mesa daqueles/as que se acham donos/as desta terra, dos/as que são responsáveis pela pobreza esmagadora presente nos países do Terceiro Mundo?
Pr. Marco Antonio de Oliveira
Pastor da Igreja Metodista Central em Iguaba Grande/RJ
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