Publicado por Sara de Paula em Geral, Pastoral dos Direitos Humanos, Destaques Nacionais - 01/02/2018
Onde está seu irmão? - Um convite à oração
Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou. Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde está seu irmão Abel? " Respondeu ele: "Não sei; sou eu o responsável por meu irmão?" (Gênesis 4:8,9)
Ora, a terra estava corrompida aos olhos de Deus e cheia de violência. Ao ver como a terra se corrompera, pois toda a humanidade havia corrompido a sua conduta, Deus disse a Noé: "Darei fim a todos os seres humanos, porque a terra encheu-se de violência por causa deles. Eu os destruirei juntamente com a terra." (Gênesis 6:11-13).
Na introdução do relato bíblico sobre o dilúvio, o autor afirma que “a terra estava cheia de violência”. Esta afirmação parece ser parte do clímax da narração justamente das origens da humanidade. Parece ser a justificativa para Deus decidir enviar o dilúvio como manifestação de juízo.
Segundo vários especialistas em Bíblia, os relatos do Gênesis não são simples histórias de fatos isolados que aconteceram na primeira família humana. Na verdade, o Gênesis nos oferece uma interpretação teológica sobre as origens e o sentido da criação e da história. No relato da criação está contido a origem da vida e da morte, da violência e do amor, da fidelidade e da traição. Desse modo, para além da narrativa está o significado e relevância para a fé na tradição hebraico-cristã.
Para o especialista em Antigo Testamento, José Severino Croatto, o Gênesis é antes de tudo uma narrativa com sentido antropológico, que nos remonta às origens, para buscar o sentido, orientar-nos, explorar possibilidades, conectar-nos com o absoluto. Cada relato está configurado para dizer algo sobre o presente, não sobre o passado. Em cada relato existem símbolos que guardam grandes verdades para nossas vidas e para a humanidade.
Diante da grande violência que vivemos atualmente nas cidades brasileiras é importante voltar os olhos para o relato das origens de maneira que busquemos caminhos para superar tanta violência assim como outros irmãos e irmãs fizeram no passado.
A região do grande Jangurussu, periferia de Fortaleza – CE registrou quase 30 assassinatos em um único final de semana, dias 26 e 27 de janeiro. Em 2017, no Brasil, foram 60 mil assassinatos, a maioria de jovens e negros. Em Fortaleza foi uma pessoa a cada hora entre sexta e sábado. Apesar dos números serem chocantes precisamos pensar que cada vida que se perde deixa parentes, irmãos e irmãs, uma mãe e um pai, avós, companheiro ou companheira, além de amigos. Por traz de cada vida que se vai existe um nome, um sonho interrompido. Não podemos mais continuar inertes enquanto as vidas de nossos jovens se vão. Não podemos admitir o discurso dos governantes que afirmam serem casos isolados e brigas de facções. Como igreja precisamos orar em favor da paz, mas também cobrar das autoridades medidas que coloquem fim à violência. Queremos convocar a igreja Metodista em todo o Brasil a se posicionar do lado da vida assim como Jesus sempre se posicionou. Jesus disse: “Felizes os que promovem a paz”. Trabalhar pela paz em nossas cidades e em especial em Fortaleza nesse momento é um imperativo como seguidores e seguidoras de Jesus Cristo.
CONVITE À ORAÇÃO
Pelas famílias que perderam seus entes queridos, maioria de mulheres e jovens.
Pelas autoridades para que tratem este fenômeno da violência com a devida seriedade e em diálogo com os movimentos sociais locais.
Pelas igrejas, tanto pelas situadas onde ocorreram estas violências, como pelas de toda grande Fortaleza, para que haja um despertamento das lideranças por orações e por ações pela paz e pela não violência.
Pelas pessoas que vivem nessas comunidades expostas à violência, geralmente apenas por serem pobres.
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Escrito por Welinton Pereira da Silva
Pastor metodista em Brasília, Diretor de Relações Institucionais e Advocacy da Visão Mundial e Coordenador da Pastoral de Direitos Humanos da Igreja Metodista.
Contato: welinton88@gmail.com