Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 07/10/2010
O voto evangélico vai decidir o 2º turno
Assim que o resultado das eleições foi anunciado, Rudá Ricci conversou, por telefone, com a IHU On-Line. Ele, que passou o dia analisando as novidades do pleito, afirmou que não esperava o resultado que se deu nas urnas. "O que eu achava, mas não esperava, era que se tivesse segundo turno, era porque faltaria um por cento para Dilma chegar aos 50%. Isso porque a Dilma tinha estancado sua queda e o Serra estacionou. O que alterou essa perspectiva foi o resultado de dois estados brasileiros: Minas Gerais e Paraná", explicou.
Marina foi a grande surpresa. Ela ganhou colégios eleitorais importantes e inesperados, como Belo Horizonte, e isso mudou totalmente o quadro que as pesquisas indicavam. Jovens, mulheres indecisas e, sobretudo, os evangélicos elevaram a porcentagem de votos da candidata do PV e, por isso, avalia, é o voto conservador que vai definir o segundo turno. "O voto dos evangélicos é muito fiel à estrutura da igreja e não apenas a sua religiosidade. Então, para onde forem os bispos e pastores, o voto vai junto. Lula até tem um acordo político com parte deles, mas esse acordo não valeu agora", reflete.
Rudá Ricci é graduado em Ciências Sociais pela PUC-SP. É mestre em Ciência Política e o doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. Atua como consultor no Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal e do Instituto de Desenvolvimento. É diretor do Instituto Cultiva e professor da Universidade Vale do Rio Verde e da PUC-Minas.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Esse resultado era esperado?
Rudá Ricci - Não, de maneira alguma eu esperava. O que eu achava, mas não esperava, era que se tivesse segundo turno, era porque faltaria um por cento para Dilma chegar aos 50%. Isso porque a Dilma tinha estancado sua queda e o Serra estacionou. O que alterou essa perspectiva foi o resultado de dois estados brasileiros: Minas Gerais e Paraná. A vitória de Beto Richa puxou votos sozinho, porque no Senado ganharam Requião e Gleisi. Então essa "puxada" de votos no final, que fez ele ganhar no primeiro turno, possivelmente gerou um impacto, do ponto de vista eleitoral, no Paraná. Passei recentemente pelo estado e percebi que havia uma situação muito confusa, os eleitores falavam isso, não entendiam como o Richa fez acordo com o Osmar Dias e depois brigaram.
Aqui em Minas foi uma situação muito surpreendente. Para se ter uma ideia, em Belo Horizonte, a Marina venceu a Dilma e o Serra. Ela fez 41% dos votos. É a mesma votação que ela fez no Distrito Federal. O impacto da vitória da Marina é muito maior porque as duas maiores lideranças do PT em Minas, o Fernando Pimentel e Patrus Ananias, foram derrotados neste pleito. O PT sai esfacelado daqui de Minas Gerais. E Marina aparece com uma força política enorme pelo voto dos evangélicos, dos jovens e das mulheres indecisas que votaram nela no final. Essa é a grande novidade que não esperávamos nem de longe. Você via o voto evangélico nesses últimos dias, mas não nessa pujança que vimos no final.
IHU On-Line - O que esperar do segundo turno?
Rudá Ricci - Bom, primeiro precisamos ver o que a Marina vai fazer. Ela é a balança. Marina já tinha anunciado que, se houvesse segundo turno e ela não chegasse, não apoiaria nem um nem outro. Porém, se ela cai fora, a questão é: para onde vão essas três fatias, os jovens, as mulheres indecisas e, principalmente, os evangélicos, que votaram nela? Estes, em termos de massa de votos, são os mais importantes. Agora há pouco o Ricardo Noblat postou uma nota no Twitter dizendo que o Índio da Costa está abrindo mão da vice-presidência da chapa do Serra para que o Fernando Gabeira assuma no seu lugar. Isso é um fato novo, mas Gabeira pode assustar muito o voto evangélico. Mas essa nota mostra que a novidade, nesse momento, está nas mãos do Serra e não da Dilma. Só o apoio da Marina pode aumentar os votos da Dilma. E o Serra tem todo um espectro político-eleitoral em segmento social que ele não tinha e pode acrescentar. Então, para mim, a soma dos votos está zerada.
IHU On-Line - A soma dos votos de Serra e Marina está além do total de votos de Dilma. Este eleitor que não está satisfeito com nenhum dos candidatos que vão para o segundo turno pode ser conquistado com que tipo de discurso?
Rudá Ricci - A questão está com os evangélicos. O IBGE estima que em cinco anos os protestantes significarão 50% da população brasileira que declara sua religião. É um segmento em ascensão no país. Outra característica: é um voto em bloco. O voto dos evangélicos é muito fiel à estrutura de suas igrejas e não apenas à sua religiosidade. Então, para onde forem os bispos e pastores, o voto vai junto. Lula até tem um acordo político com parte deles, mas esse acordo não valeu agora. Vamos ver o que o Lula fará em relação a esse agrupamento político.
O discurso que o conquistará, portanto, é conservador. Esse eleitorado é conservador: contra o aborto, contra o casamento homossexual, contra qualquer característica da ciência acima da fé, está a favor da família. Este grupo é conservador nos seus hábitos, inclusive na vestimenta. Nesse caso, os dois candidatos não têm perfil que facilite essa aproximação com os conservadores. Então, de novo, é o acordo formal com as igrejas que vai definir essa aliança. Os próximos 15 dias definem a eleição.
IHU On-Line - Plínio de Arruda conseguiu atingir o seu objetivo de discutir o que "não era dito"?
Rudá Ricci - Plínio saiu maior do que o partido e maior do que seu próprio discurso. O Plínio, para alguns, é um senhor que fala o que quer, muito inteligente, mas sem peso político. Ele é um senhor respeitado, que foi muito engraçado, mas não politizou mais o país.
IHU On-Line - Dado os resultados, qual a sua visão da presença do lulismo?
Rudá Ricci - Ele ganha uma bancada gigantesca no Congresso Nacional. Lula tem uma inserção importante no Nordeste e em quase todo país. Você pode abrir o mapa das eleições e ver que a Dilma ganhou em quase todo país. Ganhou no Rio de Janeiro, em todo Nordeste, Paraná, Rio Grande do Sul. Lula, sai, portanto, forte. Agora, vamos ver como ele vai jogar. Acredito que ele vá jogar muito pesado. Ele sabe, como todo líder pragmático, que lhe falta o voto dos evangélicos.