Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

o momento político brasileiro

 

  

Estamos diante de um novo processo eleitoral. Isto era previsto, porque faz parte do ritual democrático brasileiro. O que não se esperava era chegarmos a um período eleitoral com tanta perplexidade no cenário político.

A razão é simples: quando da eleição do Presidente Lula houve como que uma comoção (emoção com) de ampla parcela da população, especialmente os setores mais desassistidos, explorados e humilhados, que enfim, viam chegar ao poder um representante seu: de origem humilde, operário etc, sustentado por um partido que apontava para transformações sociais, embalado pelo discurso da ética na política.

Agora a população está dividida, digamos assim, em três partes: os que se opunham a esta visão e à eleição de Lula e sentem confirmadas suas posições; os que justificam sua descrença na política, e se abstêm, convencidos que o melhor é não participar; e os que estão meio embasbacados com o que ocorreu, procurando encontrar o ponto de retomar e de refazer as esperanças. 

Por onde começar? Talvez uma coisa importante para este momento seja começarmos tudo de novo, desde o início, pensando em dois conceitos sobre os quais devemos basear nossa vivência política: a República e a Democracia.

República é uma palavra composta: o prefixo res do latim, que quer dizer coisa, e o adjetivo público, portanto "coisa pública". Agora, quando falamos no sentido político, o que vem a ser público? O dicionário nos ajuda a entender: 1. relativo ou pertencente a um povo, a uma coletividade; 2. relativo ou pertencente ao governo de um país, estado, cidade etc.;  3.  que pertence a todos; comum. Portanto, podemos dizer que público tem a ver com o que é de todos e, no sentido político, com a forma de gerenciar o que é de todos. 

Isto é importante para entendermos porque tanta indignação com a corrupção, pois corrupção é a apropriação para uso privado daquilo que é público. No sentido financeiro, pegar o que é de todos para o enriquecimento pessoal. Evidentemente nenhum tipo de corrupção se justifica. Entretanto, podemos fazer algumas considerações a respeito dos acontecimentos revelados nos últimos meses.  Corrupção é coisa nova no Brasil? Surgiu somente agora? Todos sabemos que não. Esta deformação é um "pecado original", "grudado" na forma de se fazer política no Brasil desde que começou a nossa história. Mas algumas coisas têm contribuído para criar essa sensação de que "tudo está podre na política brasileira": o aumento da consciência ética da população, que não mais aceita as sujeiras feitas para beneficiar interesses pessoais ou privados; o aperfeiçoamento dos órgãos públicos que têm o papel de fiscalizar ou controlar o uso dos recursos públicos (Ministério Público, Polícia Federal, o próprio Poder Legislativo através de suas comissões, etc.) e, até mesmo, a visibilidade que a imprensa tem dado aos casos de corrupção.

            E a Democracia? Vamos de novo ao dicionário: 1.  governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania; 2.  sistema político cujas ações atendem aos interesses populares; 3.  governo no qual o povo toma as decisões importantes a respeito das políticas públicas...; 4.  governo que acata a vontade da maioria da população, embora respeitando os direitos e a livre expressão das minorias.

Evidentemente esses conceitos referem-se a um ideal de democracia. Na prática, para exercer a soberania, o povo necessita de mecanismos políticos através dos quais faça prevalecer seus interesses. E sabemos que não existe essa entidade abstrata chamada "a vontade do povo"... Existem muitas "vontades" e muitos interesses em jogo. É por isso que existem os partidos políticos. Já o próprio nome diz: partido - o que não é inteiro, o que é parte. Os partidos representam partes ou parcelas da população que têm visões de mundo e interesses relativamente semelhantes. Existe também o esforço de parte dos partidos de atrair a população. E para isso, nem sempre são publicados os reais interesses que têm ou quem representam efetivamente. Por exemplo, é considerado "feio" no Brasil representar os ricos e poderosos. Por isso, nenhum partido diz que representa esta parcela da população - o que não significa que não o faça.... Portanto, temos que pensar bem antes das escolhas que fazemos e não basta lermos o programa dos partidos. Temos que "ler" também a trajetória histórica dos partidos e das pessoas que os compõem. 

Outro fator a considerar é que, de toda a história do Brasil, muito poucos foram os momentos em que a democracia esteve em vigência. O atual período tem apenas 21 anos (iniciou-se com a redemocratização posterior ao regime militar). Assim, nossa democracia tem muito que se aperfeiçoar. E se ela é capenga eu diria: qual o remédio para a democracia? Mais democracia. É só reforçando os mecanismos da democracia que vamos ter uma melhor democracia (que nunca será perfeita, pois sabemos que a perfeição só poderá existir no Reino de Deus). 

A forma de se aperfeiçoar a democracia é a participação. Na democracia formal que temos essa participação manifesta-se através do voto. Mas não é essa a única possibilidade de participação democrática. Podemos, e penso que também devemos, estar presentes nas instâncias de participação popular como os movimentos sociais que vão constituindo grandes "correntes de opinião" de como deve ser gerenciado o poder no país, bem também nos partidos políticos. Afastar-se e adotar uma posição de individualismo ou de cinismo em nada contribui para o aperfeiçoamento da República e nem da Democracia. Votar nulo ou branco não resolve nada na eleição. É preferível errar tentando acertar a, simplesmente, desistir e deixar que outros tomem as decisões por nós. 

Para concluir: O que fazer diante dessa situação em que vivemos? Minha resposta é participar. No mínimo com o voto, se esta for sua disposição. Mas mais do que isto, temos que também participar de organismos que possam influenciar positivamente a vida e as decisões políticas no Brasil. Escandalizar-se ao ponto de abster-se neste momento é deixar o campo livre para quem não tem escrúpulos de usar em benefício privado a coisa pública e também para quem, mesmo com boas intenções, equivoca-se na condução política. Essa é minha opinião. Qual é a sua?

 

Rev. Luiz Eduardo Prates da Silva

 

Uma outra opinião. Reflexão de Luiz Felipe Lehman, membro da Igreja Metodista em Belo Horizonte. Clique aqui.


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