Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
O Melhor de Deus não está por vir
Tem uma canção evangélica, do cantor Kléber Lucas que afirma: “O melhor de Deus está por vir”, e por mais paradoxal que pareça, confesso que gosto da alegria e da positividade transmitida por ela, embora não concorde plenamente com a letra dela. Dentre o repertório do supracitado cantor, pastor e compositor, confesso que prefiro uma lançada em 1999, em cujo titulo e refrão ele declara: "Deus cuida de mim. Eu preciso aprender mais de Deus, porque Ele é quem cuida de mim." Para mim, tal declaração está inteiramente baseado em João 15. 5.
Já em relação a canção: "O Melhor de Deus está por vir", particularmente eu não gosto da forte ênfase à teologia da prosperidade baseada na conquista dos bens materiais como sinal de um avivamento. Tenho dificuldade também com a expressão: “o melhor de Deus”, pois ela abre margem para se pensar que: se há o melhor de Deus, também há: “o pior de Deus”. E não consigo imaginar algo de pior em um Deus ao qual João apresenta como sendo, AMOR. Creio que, mesmo a ira vinda de um Deus cuja essência é amor, torna-se benigna, pois é fruto de sua justiça baseada em retos juízos. (Lamentações 3.32, 33). Em suma, embora goste do ritmo, da alegria, da esperança em uma vida melhor que a canção transmite, penso que a letra dela transmita exagerado ufanismo que se se contrasta com o que diz Jesus em João 16.33: "No mundo passais por aflições: mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.
Não penso que o melhor de Deus esteja por vir, por crer que já veio. Contudo, não veio da maneira que o os homens esperavam, pois veio humilde, pobre, não nascendo em um berço esplêndido em luxuoso quarto de opulento palácio, ou de suntuosa mansão. Tampouco, como um general a frente de um grande exército de valentes guerreiros gaditas. Muito menos, como um eloqüente filósofo, estadista, sindicalista ou político.
Não. Ele veio na forma de um indefeso bebê pobre, que no momento de seu nascimento possuía tão somente a amorosa acolhida de seus pais, José e Maria de Nazaré, pessoas pobres de bens materiais, mas ricos em fé e submissão a Deus. Seu primeiro berço foi improvisado numa manjedoura forrada de palhas que somadas ao calor que emanava dos animais da estrebaria ajudava a aquecer o recém nascido, em cujo corpinho habitava toda a plenitude da Divindade.
O melhor de Deus já veio, mas o problema estava e está na humanidade, que por ser alienada de Deus, não soube reconhecer o Presente do Altíssimo, por ele não ter vindo na “embalagem” que esperavam e esperam. A vinda do Melhor de Deus ao mundo é assim relatada por João: “No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no principio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não o compreenderam [...] Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.” (Jo: 1. 1 a 5, 8 a 10)
O Melhor de Deus é Jesus de Nazaré, o qual nasceu, viveu e morreu em meio à gente sofrida, oprimida e abandonada pelo poder político e religioso de seu tempo. O Cristo de Deus, por ter vindo ao mundo da maneira que fugia aos padrões estipulado ao nascer de um poderoso, não foi reconhecido e nem aceito, sendo renegado por seu povo. Isto nos afirma João ao dizer: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.” Jo 1. 12b. Assim como acontece hoje, a rejeição ocorreu, por Jesus não se enquadrar no modelo de messias estipulado e esperado pelos lideres religiosos daquela época. A maneira de ser e agir do rabino marginal que acolhia os marginalizados contrastava com a “ortodoxia”, do sistema religioso vigente. Ele agia diferente, pois, onde vigorava o rigor da lei religiosa que punia, açoitava, e apedrejava até a morte os culpados, Ele usava o recurso da graça, ouvindo, acolhendo, amando, perdoando e levantando o caído, tomando sob si mesmo o fardo da culpa conseqüente dos pecados cometidos pelo condenado. (Jo 8, Mt 11. 28, 30; Lc. 4. 18, 19, Isaías 53). Com sensibilidade jamais vista, por meio de palavras e atos, fazia triunfar a graça sobre a lei, confrontando as pessoas convidando-as, a olharem para dentro de si mesmas, e se colocarem no lugar do culpado, usando para com ele a misericórdia que requeriam para si. (Mt. 7. 12) Com isso ele fez e faz com que a misericórdia triunfe sobre o juízo. Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa sobre o juízo. (Tiago 2:13)
Agiu diferente dos Rabis de seu tempo, pois acolheu aos que ninguém acolhia, amou os que ninguém amava, e escolheu para serem seus discípulos pessoas as quais eram consideradas imundas. (Lc: 15. 1-7) Dentre tais pessoas, cito Simão Pedro, o qual por ser pescador, ao final ou inicio do dia tinha que separar os peixes puros dos impuros, tocando assim em coisa considerada imunda e se tornando ritualmente impuro. (Lv 11. 9, 10 – Mt: 13. 47, 50)
Jesus, o melhor de Deus não foi aceito pelos lideres religiosos de sua época, pois destoava do tradicionalismo e interpretações religiosas deles. Hodiernamente, quantas vezes baseados naquilo que nossa tradição dogmatizou como: “padronização da manifestação de Deus”, corremos o risco de perder manifestações de Deus, por vivermos fechados em nossos sistemas doutrinários, teológicos e denominacionais. Quando vivemos assim, não levamos em consideração a multiforme sabedoria e agir de Deus, mostramos que desconhecemos que O Espírito Santo é livre como o vento, podendo usar a quem quer e manifestar sua graça em, e a partir de formas, lugares e pessoas nunca dantes imaginadas por nós.
Quando queremos padronizar o agir de Deus, agiremos tal qual Natanael, diante de Filipe que lhe anunciava ter encontrado o Cristo e que ele era Jesus de Nazaré. Sem “papas na língua” Natanael disse: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo: 1. 43 45) Diante de manifestações de Deus fora de nossa “paróquia”, conceitos, pastoral, tradição, doutrinas... fazemos declarações tais como:
Pode vir alguma coisa boa do pentecostalismo?
Das línguas estranhas?
Da Teologia da Libertação?
Da Faculdade de Teologia?
Do Ecumenismo?
Do ministério feminino ordenado?
Dos metodistas confessionais?
Do hinário?
Do Movimento e metodistas carismáticos?
Da cultura e bandas gospel?
Do Encontro com Deus?
Do cair no Espírito?
E segue a lista de questionamentos... tão longa quanto nossa resistência e medo do diferente, do desconhecido, do novo, ou do renovo.
Creio que a fé que nasce da dúvida é a fé que realmente frutifica, e quando tais indagações se fundamentam numa real vontade de conhecer o diferente, inevitavelmente elas nos levarão a agir assim como Natanael, que embora tenha de inicio questionado, diante do desafio de Filipe: Vem, e vê; aceitou o convite, foi e viu. E vendo foi impactado pela graça vinda de onde ele menos esperava. E extasiado diante do Melhor de Deus manifesto em pessoa humana, só pode exclamar: Tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel. Contudo, Jesus declarou a Ele, que, coisas maiores ainda o aguardavam. Jesus nos ensina que O melhor da manifestação de Deus não se esgota no primeiro contato, antes prossegue se manifestando na vida dos que a partir do encontro iniciam uma caminhada com Ele. Pois não basta se encontrar com Deus, (Êx 3) é necessário obedecê-lo indo ao povo (Êx 4. 18) e seguir após Ele pelos caminhos do mundo. (Êx 13. 21, 22).
A semelhança de Natanael, caso tenhamos coragem e capacidade de passarmos por cima de nossos preconceitos muitas vezes disfarçados por "ortodoxia", e ir ao encontro do diferente, se abrindo ao novo, ou renovo, poderemos nos surpreender, constatando que, Deus também se manifesta fora de nossos “sistemas doutrinários e litúrgicos, cercas ou arraiais teológicos”.
Após consumar o sacrifício no Calvário e ressuscitar ao terceiro dia, O Melhor de Deus manifesto na Pessoa do Filho retornou ao Pai, mas permanece entre nós, na Pessoa do Espírito Santo, O Outro Consolador prometido pelo Messias (Jo 14. 16 17 e 26; 15 26; 16. 7). É Ele, o Espírito quem torna possível recebermos a maior e melhor dádiva que se possa ganhar neste mundo, a filiação divina. Tal dádiva está explicita nestas palavras de João: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome.” (Jo 1.12). Sim, não existe nada melhor do que ser filho de Deus, caminhar seguro na Luz, desfrutando de sua presença e amor, tendo paz no coração, sendo reconciliado com Deus, e tendo tal filiação testificada em nosso espírito. (Rm 8. 16) e desfrutando das bênçãos explicitas no capitulo 8 da carta de Paulo aos Romanos.
É por meio da revelação do Espírito Santo contida nas Escrituras que tomamos conhecimento de que: “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito;”. O melhor de Deus não está por vir, já veio, esta em nós e no meio de nós, e através de nós, o Povo chamado Metodista, juntamente com todos os que realmente foram lavados e remidos pelo sangue do Cordeiro e fazem parte do Corpo de Cristo, deseja se manifestar ao mundo para construir o Reino de Deus, implantando assim a Civilização do amor.
Jesus Cristo retornou ao Pai, porém na plenitude do Reino de Deus que ainda está por vir, Ele retornará em poder, glória e majestade, (At: 1.11) até lá permaneçamos firmes e inabaláveis na fé, sempre frutíferos e fervorosos na obra, pois no Senhor nosso trabalho não é em vão. Movidos pelo Espírito preguemos o Evangelho, resgatando o que de melhor existe neste mundo, pessoas. Sim, pois foi por pessoas que Deus em Jesus se deu plenamente. Pessoas, o melhor da criação de Deus precisa ouvir o anuncio da Palavra da salvação, para que desfrute dessa inigualável dádiva: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome. Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” Glórias as Deus.
Fiquem na graça Dele que nos encontrou primeiro, mas nos reencontra e nos renova pelo Caminho, nos movendo a caminhar ao encontro do próximo, fazendo discípulos/as.
Pastor José do Carmo da Silva (Pr. Zé do Egito)
Igreja Metodista em Fátima do Sul - MS
* Este estudo/reflexão nasceu três dias após meu retorno de um retiro espiritual chamado ENCONTRO COM DEUS. Depois de muito ouvir falar, criticar, temer, desejar, rechaçar, polemizar, eu resolvi aceitar o convite de um pastor amigo, que me desafiou dizendo: Vem, e vê. Aceitei o desafio e fui, e nada mais vi do que um retiro cristão, focado no resgate de uma espiritualidade perdida, a qual tem por meta confrontar o pecado, curando a luz da Palavra e orações as feridas da alma, e no poder do Espírito Santo, respaldado na cruz de Cristo, levar os encontristas ao testemunho cristão por meio de uma santidade de coração e vida, capaz de influenciar outros agregando-os ao Corpo de Cristo. Concluí sobre o que vivenciei dos dias 15 a 18 de julho: O ENCONTRO COM DEUS, feito pela Igreja Metodista é de DEUS!