Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

o início da vida segundo as escrituras


Eduardo Ribeiro Mundim
médico endocrinologista


A questão do início da vida parece, a princípio, pertencer àquele grupo de temas irrelevantes, sem sentido prático, tipo "sexo dos anjos". Contudo, o avanço tecnológico que permitiu a fertilização in vitro, o dispositivo intra-uterino (DIU), os estudos com células totipotentes (chamadas células-tronco), a clonagem a partir de células germinativas e a partir de células somáticas transformou este tópico marginal em essencial, tanto para aqueles que se consideram "não-religiosos" ou "científicos" quanto para aqueles que pautam sua vida pessoal e comunitária por alguma revelação divina.

A questão colocada por estes avanços, bem como por outros semelhantes, é sobre a licitude: é ética a fertilização fora do útero? usar o ovo (produto da junção do espermatozóide com o óvulo) para pesquisa científica? reprodução humana através de células não germinativas? A resposta será determinada pelos pressupostos adotados por cada indivíduo e pela sua escala individual de valores. A resposta da coletividade não será um somatório das individuais, mas um arranjo que tentará acomodar, em compromisso, todas elas - o que, por sua vez, pressupõe diálogo, compromisso social, exposição de crenças, opiniões e valores, saber ceder e saber
intransigir.

A capacidade técnica é muito mais veloz que a de absorção / apreensão do significado de cada avanço. A novidade científica encontra um ambiente religioso-filosófico que, habitualmente, sonha com a estabilidade e ausência de mudança. Neste momento, ela tem o pendor de revelar opções assumidas inconscientemente, desafiar decisões tomadas e cridas como definitivas, e forçar novos posicionamentos (nem que sejam para confirmar os anteriormente afirmados).


A presente reflexão tenta levantar dados para que a Igreja Cristã contribua com a sociedade na qual se encontra inserida com a missão de servir a partir daquilo que é sua constituição central: as Sagradas Escrituras. Neste primeiro momento, a discussão sobre o conceito de vida, assim como sua análise como um todo, englobando todos os chamados seres vivos, terá, quando muito, papel auxiliar.

O Relato da Criação
Independente do ponto de partida, se os três primeiros capítulos de Gênesis são relatos
históricos ou estórias educativas, eles revelam que Deus:
o é a fonte da vida, tanto da vegetal, quanto da animal;
o é a fonte da vida humana;
o guarda uma relação especial com o homem.
A relação especial é estabelecida por:
o relato minucioso da criação do homem;
o a criação do homem é precedida por uma decisão especial: "façamos" - uma
decisão de Deus com a corte celeste, ou, como os Pais da Igreja viram, uma
decisão majestosa de Deus (no hebraico plural Elohim) Triúno 1;
o ele é criado a imagem e semelhança de Deus;
o a ele é dada a mordomia da criação: cultivar e guardar o jardim, dominar sobre
os animais;
o a vida vegetal como fonte de energia (o significado último do termo alimento)
para o homem - citado primeiro - e para os demais animais;
o ao homem coube nomear os animais, o que, em termos bíblicos indica a
autoridade do ser humano sobre eles 2 (também entre eles não foi encontrado
um semelhante ao homem, tendo sido necessária a criação da mulher - reforça
a radical diferença entre os diversos seres vivos e o homem)
O versículo 7 do segundo capítulo de Gênesis descreve a criação do homem em três
momentos:
a. o homem é moldado com argila
b. um hálito de vida (nephesh) lhe é dado
c. aquele "boneco de argila" torna-se ser vivo
Mais adiante, nos versos 21 e 22, a mulher é criada em quatro momentos (a criação, na
verdade, é relatada em apenas três):
a. Deus "anestesia" o homem
b. retira-lhe uma costela
c. faz crescer carne no seu lugar
d. modela a mulher
Ela é apresentada ao homem sem a menção de ter-lhe sido insuflado o nephesh. É
legítimo assumir este ato como implícito, ao menos pelo que o texto afirma em 1.26-27, onde
ambos:
o são criados à imagem e semelhança de Deus;
o recebem a ordem de juntos povoar e submeter a terra
A primeira poesia da humanidade, do Homem dedicada a Mulher, verso 23, mostra
como ele a reconhece como um igual. A leitura paralela de 1.26-27 com 2.23 pode levar à
concluir que o fato dele a nomear não demonstra o mesmo grau de autoridade que ambos têm
sobre o restante da criação.
É lícito interpretar, se tomarmos o texto literalmente, que o homem tornou-se ser vivo
apenas quando lhe foi soprado o nephesh. Este termo hebraico "significa aquilo que transforma
um corpo, seja de homem ou de animal, em ser vivo... é a parte sensível da vida do ego, a sede
das emoções do amor... do anseio... da alegria... chora... é derramada em lágrimas... se
prolonga na paciência... Até tal ponto a alma [nephesh] é o resumo da personalidade inteira, da
totalidade do 'próprio-eu' da pessoa, de modo que 'alma' pode ser o equivalente, quanto ao
sentido, de 'eu-mesmo' ou 'tu-mesmo'" 3. Esta conclusão torna-se apenas uma das possíveis se
o ponto de vista não for o literal.
Berkhof 4 expõe outro ponto de vista: "Esta obra realizada por Deus não deve ser
interpretada como um processo mecânico, como se ele tivesse formado primeiro o corpo do
homem e depois tivesse posto nele uma alma. Quando Deus formou o corpo, formou-o de modo
que, pelo sopro do Seu Espírito Santo, o homem se tornou imediatamente alma vivente". Neste
ponto em particular, ele não expõe os argumentos para defender sua interpretação.
Deve ser levado em conta de que a criação do Homem e da Mulher foi ato único, sem
paralelo na história? A partir da formação do primeiro casal a reprodução humana passou a
existir. O que se deduz a partir da criação dele é aplicável a geração dos demais seres
humanos?
A Antropologia Bíblica
As Escrituras usam uma série de termos para se referir ao ser humano: rüah, pneuma,
nephesh, psyche, sõma, bãsãr, sarx. Para o hebreu, não existia a idéia da antítese corpo-alma.
2
A pessoa era uma unidade, não a junção de duas substâncias diferentes. Os temos usados
servem mais para descrever a relação do homem com seu ambiente e consigo mesmo do que
explicar partes funcionantes que se uniram para formar um todo.6
Um enigma com implicações em vários pontos teológicos é, dentro deste conceito do ser
humano uno e indivisível, o da morte. A experiência universal comprova a decomposição rápida
da carne, e, mais lentamente, dos ossos. Os egípcios tentaram resolver o problema da
decomposição através do processo eficiente da mumificação (mas que significava a remoção
das vísceras com seu acondicionamento à parte). Mas para onde foi o nephesh?
Parece que os hebreus antigos não conseguiram resolver o enigma. Tinham convicção
de que estar longe de Deus era um estado de não-vida. A questão do estado intermediário não
é resolvido, pertencendo ao terreno da especulação teológica. (Berkhof 5 demonstra certezas a
este respeito). Tomando as escrituras como um todo, o ensino fundamental é o da restauração
da integralidade do ser: novo corpo para um ser redimido (ou condenado). O céu ou o inferno
são realidades a serem experimentadas por pessoas completas, corpo-alma.
Consideração obrigatória neste momento é quando o novo corpo em formação passa a
ter alma, já que ele não é uma díade, mas um ser único. Tendo esta integralidade em mente, só
há ser humano a partir do momento em que o nephesh lhe é "insuflado".
No início do desenvolvimento da doutrina cristã, várias linhas de pensamento
trabalharam esta questão 7. A alma poderia ser pré-existente, condenada ao corpo por seus
pecados (esta idéia foi condenada pela Grande Igreja no VI século). Poderia também ser criada
de modo independente, no momento de sua infusão no corpo - Hilário, Ambrósio e Jerônimo
defendiam que, apesar dela estar difusa pelo corpo, existia de modo particular em algum ponto.
Agostinho chegou a defender que a infusão ocorreria no 4o mês de gestação 8. Ele também
defendeu que cada alma era gerada a partir da do pai. Gregório de Nissa ensinava que alma e
corpo passavam a existir simultaneamente.
O Não-Nascido na Bíblia
O que os trechos bíblicos que enfocam o não-nascido têm a ensinar? Ele surge em três
situações distintas:
1. Ex 21.22-25
2. Salmo 139.13,15,16
3. Os escolhidos antes do nascimento
1. Êxodo
"Se homens brigarem e ferirem uma mulher grávida, e ela der à luz prematuramente,
não havendo, porém, nenhum dano sério, o ofensor pagará a indenização que o marido daquela
mulher exigir, conforme a determinação dos juízes. Mas, se houver danos graves, a pena será
vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por
queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão." (Ex 21.22-25, NVI)
Esta parece ser a única referência direta das Escrituras sobre o aborto. Na NVI, "der à
luz prematuramente"; na Bíblia de Jerusalém, "forem causa de aborto"; Almeida Revista e
Atualizada 2a edição, "e forem causa de que aborte". A nota de rodapé da NVI informa que o
hebraico diz "e a criança sair". O texto não explicita se a criança nasce viva ou morta, e em que
estágio da gravidez (como o original fala criança, pode ser suposto que a forma humana era
claramente percebida).
Mas a lei é clara ao dizer que este nascimento prematuro, com vida ou sem, seria punido
com uma multa fixada pelo marido e pelos juízes. Caso a mãe sofresse algum dano físico,
3
segundo o texto, o castigo seria "vida por vida". O dano causado à criança não é punido, mas
sim a perda do pai em relação aquele(a) que lhe seria, de algum modo, útil.
Há uma clara diferença em relação ao homicídio premeditado, nos versículos 12-14.
Para aquele que planeja e executa um assassinato não havia local em que pudesse ficar
protegido: "tu o arrancarás até mesmo do altar, para que morra" (BJ).
O contraste também é grande com Ex 22.21-27, onde a preocupação com o mais fraco
(o estrangeiro, a viúva, o órfão e o pobre) é enfatizada: "não prejudiquem...porque se o fizerem
...com grande ira matarei vocês à espada".
2. Salmo 139
"Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe...Pois tu formaste
os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe...Meus ossos não estavam
escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da
terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram
escritos no teu livro antes de qualquer deles existir."
O conhecido salmo de Davi demonstra o processo de alguém em descobrir uma verdade
transformadora 9 : existe um Outro que é pessoal, onipresente, onisciente e santo. Os versos
acima compõe a terceira estrofe do poema, onde o tema é o conhecimento, por parte de Deus,
de absolutamente tudo a respeito do salmista: o seu íntimo, o seu processo de formação oculto
aos olhos de todos como o núcleo da terra o é, a sua vida.
O verso 16 é particularmente lembrado quando se fala do início da vida. "Os teus olhos
viram 'o meu embrião' (NVI - BJ) - 'substância ainda informe' (ARA). Contudo, a questão que se
coloca é se pode ser afirmado com certeza que o autor estava dizendo que era ele constituído
como pessoa enquanto embrião / substância ainda informe. Sendo a mente hebraica tão ciosa
em afirmar a unicidade do ser, negando a duplicidade alma-corpo, não parece crível assumir ter
o autor esta intenção. Parece que o que o deixou perplexo é a extensão do conhecimento e
amor divinos, pois antes que ele fosse, era objeto da observação de Deus.
Se não se pode usar o texto como prova irrefutável da pessoa intra-uterina, certamente
pode como prova do cuidado de Deus para com ele (com a sombra que Ex 21.22-25 projeta).
3. A Eleição antes do nascimento
A. Sansão
"Certo homem da tribo de Zorá, chamado Manoá, do clã da tribo de Dã, tinha
mulher estéril. Certo dia o anjo do Senhor apareceu a ela e lhe disse: 'Você é estéril, não
tem filhos, mas engravidará e dará à luz um filho. Todavia, tenha cuidado, não beba
vinho nem outra bebida fermentada, e não coma nada impuro; e não se passará navalha
na cabeça do filho que você vai ter, porque o menino será nazireu, consagrado a Deus
desde o nascimento; ele iniciará a libertação de Israel das mãos dos filisteus' ". (Jz 13.2-
5, NVI).
A versão da Bíblia de Jerusalém diz "porque o menino será nazireu de Deus desde o
ventre de sua mãe", assim como a Almeida Revista e Atualizada, contrastando com a Nova
Versão Internacional.
A questão que o texto coloca é se um "não ser" pode ser consagrado a Deus. No caso
de Sansão, a consagração é feita pelo próprio Deus: é uma eleição ao nazireato, e não um voto
voluntário de um adulto, homem ou mulher, como prescrito em Números 6. Uma eleição que
toma por analogia a situação do nazireu.
4
O texto permite trabalhar a idéia da ligação íntima entre o filho e sua mãe, já que ela
deveria se abster de bebidas destiladas e dos alimentos impuros. O voto completo do nazireu
compreendia:
o abstenção de bebidas fermentadas, do vinho e de qualquer produto ligado à uva;
o não cortar o cabelo;
o não se aproximar de pessoas mortas, mesmo que fossem os pais.
Assim sendo, aquela criança no ventre materno não deveria consumir álcool ou alimento
impuro através de sua mãe. A dificuldade, contudo, permanece, pois se utensílios foram
consagrados no templo e no tabernáculo, porque as restrições a mãe de Sansão demonstrariam
a condição de "vivo"?
B. Jeremias
"Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o
designei profeta às nações" (Jr 1.5 NVI)
A nota de rodapé da NVI informa que existe a alternativa "conheci" a "escolhi". Esta foi
adotada pela Bíblia de Jerusalém e pela Almeida Revista e Atualizada. A de Jerusalém comenta,
a respeito de "conhecer", que "da parte do Senhor equivale a escolher e predestinar (Am 3.2; Rm
8.29)" 1a Esta mesma opinião é defendida em duas outras fontes 2a 3a.
A mesma questão permanece: Deus predestinou Jeremias enquanto ele ainda vivia, ou
enquanto vivo? Sendo o texto em questão poético, até que ponto a expressão não é um recurso
estilístico de ênfase?
C. João Batista
"Ele será motivo de prazer e de alegria para você, e muitos se alegrarão por
causa do nascimento dele, pois será grande aos olhos do Senhor. Ele nunca tomará
vinho nem bebida fermentada, e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu
nascimento.
Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê agitou-se no seu ventre, e
Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou:
'Bendita é você entre as mulheres,
e bendito é o filho que você dará à luz'
Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? Logo que
a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de
alegria." (Lc 1.14-15; 41-44 NVI)
João Batista traz duas novas questões. Sansão foi consagrado desde o ventre materno,
Jeremias predestinado e João "cheio do Espírito Santo". A nota de rodapé da Bíblia de
Jerusalém comenta a este respeito: " Em Lc, essa expressão não significa plenitude de graça
santificante, mas dom de profecia que faz com que se fale de forma inspirada (1.41,67; At 2.4;
4.8,31; 7.55; 9.17; 13.9). Esse dom manifestar-se-á em João desde o seio materno, por meio de
um estremecimento profético (1.44)".1b
A segunda questão é se Lc 1.44 ("o bebê que está no meu ventre agitou-se de alegria")
demonstra uma ação consciente, ou uma ação do Espírito sobre um ser não consciente. E se a
alegria não apenas uma interpretação de Isabel, ou uma emoção verdadeira de João. O texto
bíblico não parece fornecer a resposta definitiva.
Considerações Finais
A questão do início da vida (bem como do seu valor) está presente, consciente ou não,
na tomada de decisão a respeito de diversas questões contemporâneas.
· No campo do planejamento familiar: DIU e a pílula do dia seguinte;
5
· na medicina fetal: diagnóstico pré-parto de doenças genéticas graves ou fortemente
mobilizadoras das emoções (síndrome de Down);
· reprodução assistida: o que fazer com embriões restantes; reprodução usando células
somáticas e não as germinativas; clonagem
· pesquisa com células tronco: destruição da mórula
Os desdobramentos posteriores são os mais diversos, não sendo possível elaborar uma
lista que os preveja na totalidade. Alguns exemplos:
- comércio de DIU / pílulas do dia seguinte por cristãos 10
- decisão quanto ao uso de meios alternativos de reprodução
- licitude de ser beneficiado por tecnologia obtida através de estudos considerados antiéticos
Elaborando uma lista de possibilidades - e várias outras poderiam ser cunhadas,
observando outros momentos da vida intra-uterina - doze momentos são candidatos a marcarem
o início da vida.11
Tempo decorrido Característica Critério
0min Fecundação
fusão de gametas
Celular
12 a 24 horas Fecundação
fusão dos pró-núcleos
Genotípico estrutural
2 dias Primeira divisão celular Divisional
3 a 6 dias Expressão do novo genótipo Genotípico funcional
6 a 7 dias Implantação uterina Suporte materno
14 dias Células do indivíduo diferenciadas das
células dos anexos
Individualização
20 dias Notocorda maciça Neural
3 a 4 semanas Início dos batimentos cardíacos Cardíaco
6 semanas Aparência humana e rudimento de todos os
órgãos
Fenotípico
7 semanas Respostas reflexas à dor e à pressão Senciência
8 semanas Registro de ondas eletroencefalográficas
(tronco cerebral)
Encefálico
10 semanas Movimentos espontâneos Atividade
12 semanas Estrutura cerebral completa Neocortical
12 a 16 semanas Movimentos do feto percebidos pela mãe Animação
20 semanas Probabilidade de 10% para sobrevida fora do
útero
Viabilidade
extra-uterina
24 a 28 semanas Viabilidade pulmonar Respiratório
28 semanas Padrão sono-vigília Autoconsciência
28 a 30 semanas Reabertura dos olhos Perceptivo visual
40 semanas Gestação a termo ou parto em outro período Nascimento
2 anos após o
nascimento
"Ser moral" Linguagem para comunicar
vontades
Pelo que foi exposto nesta reflexão, as Escrituras não suportam a noção de que a vida
começa na fecundação. Tão pouco afirma que ela se inicia somente após o parto. Mesmo
ignorando a sofisticação do conhecimento moderno, esta definição não faz parte da preocupação
central da Revelação. Qual deve, portanto, ser o posicionamento cristão?
A. Confessar que o assunto não é apropriado para separar os cristãos dos não cristãos.
Não está presente no credo apostólico, nem decide quem está ou não está salvo.
6
B. Discutir se, talvez, a este tema possa ser aplicada a regra que Paulo Apóstolo aplicou
a questão dos fracos e fortes na fé: " Assim, seja qual for o seu modo de crer a respeito destas
coisas, que isto permaneça entre você e Deus. Feliz é o homem que não se condena naquilo
que aprova. Mas aquele que tem dúvida é condenado se comer, porque não come com fé; e
tudo que não provém da fé é pecado" (Rm 14.22-23).
C. Discutir o conceito de vida por outros caminhos, quais sejam, qualidade, valor,
propriedade, dentre outros. Lembrar que esta discussão é um pensar teológico, e pensar
teológico tem a mesma função de uma hipótese científica: fornecer uma explicação inteligível
que permita às pessoas compreender o mundo em que vivem, procurando agir nele de modo
coerente com os valores do Reino. Assim como teorias científicas vêm e vão, reflexões
teológicas podem ter utilidade e vida curta.
D. Questionar o significado da vida quando colocada frente à frente com a certeza da
ressurreição.
E. Definir sobre em quais bases o pensar bioético cristão deve ser construído, quando
ele é "bíblico" (inegociável, enquanto base de fé) e quando é "teológico".
F. Tornar este pensar bíblico-teológico relevante para uma sociedade que escolhe cada
dia mais afastar quaisquer idéias religiosas de si (principalmente aquelas de matiz cristão), já
que a Igreja de Cristo existe para servir a este mundo.
_____________________
Referências bibliográficas:
1 Bíblia de Jerusalém, 9a ed, 1985, Edições Paulinas, nota de rodapé à pg 32
1a _________ pg 1473
1b _________ pg 1926
2 Novo dicionário da bíblia, 3a ed, 1979, Edições Vida Nova, vocábulo nome, pag 1120-2
2a ________ vocábulo conhecimento pg 316
3 Dicionário internacional de teologia do novo testamento, vol 1, 1a ed, 1981, Edições Vida Nova,
vocábulo alma, pag 152 (149-159)
3a ________ vocábulo conhecimento, pg 475
4 Berkhof, L Teologia sistemática 2a ed, 1992, Luz Para o Caminho Publicações, pag 192
5 _____ pag 685-700
6 Novo dicionário da bíblia, vol 2, 3a ed, 1979, Edições Vida Nova, vocábulo homem, pag 719-22
7 Kelly JND. Doutrinas centrais da fé cristã: origem e desenvolvimento, 1a ed, 1994, Edições Vida
Nova, pag 259-60
8 Pessini L, Barchifontaine CP. Problemas atuais de bioética, 7a ed, 2005, Cent Univ S Camilo /
Ed Loyola, pag 316
9 Davidson F (ed) O Novo comentário da bíblia, 1a ed, 1963, Edições Vida Nova, vol II, pag 618
11 José Roberto Goldim http://www.bioetica.ufrgs.br/inivida.htm
7
10 Pharmacists with No Plan B: Freedom of conscience and 'reproductive rights' clash at the local
drugstore http://www.christianitytoday.com/ct/2006/august/31.44.html
_______________________________
* agradeço a Paulo de Castro, com quem pude dividir pela primeira vez as idéias acima e que,
através de sua capacidade de ouvir, ajudou-me a organizá-las.
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